Fotografia © Ana Ferreira  


 
 
`...Enquanto existirmos anfitriões das estações,
sombra e luz, raízes e sementes,
o tempo, templo completo sem ilusões.
Simples somos
simplesmente assim.`

Arana do Cerrado



 
IMPERMANÊNCIA
 
Somos o dia e somos a noite. Somos sombra e Luz. Onde existe Luz é possível encontrar a paz, mas onde existe Luz também existe sombra.
Não raras vezes esquecemos que a sombra tem um lado luminoso, resplandecente, que nem sempre conseguimos ver, sequer tentamos, porque é muito mais fácil olhar para a Luz.
Somos artífices do belo e do horrendo; somos, simultaneamente, autores da alegria e da tristeza; da bondade e da maldade; da mentira e da verdade. Não sabemos sequer o quanto somos interessantes: vestimos a pele de um personagem criado sob medida para nos protegermos daquilo que mais nos fragiliza, às vezes de nós mesmos, sem mesmo entendermos.


Rousseau estava certíssimo quando teorizou que "todos os seres humanos são capazes de distinguir o bem do mal e que cada um é autor das leis que impõe a si mesmo". Kant foi mais além ao dizer que "o ser humano é marcado por uma dualidade: é, por um lado, um ser sensível condicionado pelas suas disposições naturais, que o levam à procura do prazer e à fuga da dor".  

De fato, não sabemos sequer o quanto somos interessantes: partes completas mas sempre incompletas, exceto no momento inicial e talvez no último. Por incrível que pareça é essa dura realidade dualidade que nos faz humanos. E dessa dualidade renascemos diariamente, ora mais fortes, ora mais fracos. É nesta incompleta completude que tudo assenta. É nesta completa incompletude que se resume a nossa vulnerável existência: eternamente insatisfeitos; infinitamente incompletos; inteiramente inconscientes da impermanência do nosso ego e seus infinitos desejos que nos faz ser incapazes de alcançar o tão desejado estado de felicidade. 

E sorrindo e chorando avançamos e recuamos por caminhos que se cruzam e descruzam. Em suma, não temos ideia do quanto somos interessantes. 

Ana Flor do Lácio


 
Ana Flor do Lácio
Enviado por Ana Flor do Lácio em 19/05/2017
Reeditado em 19/05/2017
Código do texto: T6003005
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