Corda Bamba da Tua Ausência

Trancafiada nos estrabismos de tuas dores,

Resguardada nas entrelinhas dos teus gritos,

Prisioneira do que foi te amar.

Brincando sempre com o mistério de me ser, tão jovem.

E eis que então num relampejo de amor,

Audacioso gesto, me pus aos teus pés.

Amei-te apesar da angustia e do rancor.

Beijei-lhe as mãos e os arrepiados braços.

Eu gostava de me massacrar. Me pergunto sempre onde haveria de estar minha sensatez.

O papel sobre o peito: doem-me os rins.

É-me dura a poesia de falar em ti. Inevitável verso de te sentir.

O arrependimento se aconchegavam em meu travesseiro toda noite.

Eu te amaria até que apagasse-se a luz que queima em mim.

Evito-me um tanto: há os dias cinzas.

Meu peito pesa o que pesa toda uma legião de loetas e amantes.

Nas madrugadas eu desperto.

Mas é em nome do teu amor. Nada sei.

É do poema que tu nasces em mim. Como num embalo do blues de nossos corações.

Somos todos uma maré de nosso bossa nova no mundo.

Perco-me no sal do teu pescoço. Toda a tua vibração agora envolve-me as veias.

Em meus risos desesperados eu começava a ter medo de sentir medo.

Meus olhos falando com teus olhos e eu me via distante.

Teus gritos são todo meu anseio de ódio. Todo meu rancor aguarda há séculos por uma explosão: tu me incendia.

Nossa vela há de queimar até os milênios intoleráveis de Deus.

Tu és toda a minha mais aguardada desgraça. Anseio meu fim: tuas marcas pousadas sobre minha pele não hão de se apagar jamais.

Não há nunca da desbotar de minhas mãos a cor de teu sangue.

Eis que um dia acabou-se o romance nosso.

Acaboi-se toda a graça de dançar com tua vida.

Morreu-se da terra uma luz... nasce-se ao infinito sua estrela.

Teu fim foi, sempre, o princípio de teu fogo.

Pesou-me como todas as mais antigas rochas, o peso de nossas palavras nunca mais trocadas.

Não arde-me mais o rosto ao achegar-se à aura do teu.

Vem à tona o silêncio quando se foi tua voz.

Eu nunca poderia tolerar o silêncio de tua ausência.

...

Lassamos a conversar de olhos pra luzes, pelo brilho teu lá fora, bem acima das copas das árvores.

Tuas mãos terrenas agora gelam-me. Posso sentir o calor de meu corpo a se alojar em urgência.

Quisera eu ir para perto de ti... mas tudo em mim morre então.

Um vasto mar de águas congeladas apagou minha chama. Blocos de gelo seculares ferem-me o corpo arroxeado.

A vida segue-se te buscando em almas vazias, mãos pesadas, peitos repletos de ecos, robustas mentes sangrentas e trágicos punhos.

___Carolina Oliveira 21/05/17