Breve Esboço da Caverna.

Existe um céu azul, lá em cima, no dia vinte e seis.

As máquinas e os corações pulsam em uníssono.

Ouço o esbravejar de homens em obras, crianças e noras, senhoras corocas, algazarras de aves nos pés de conde e goelas que tentam conquistar o Mundo aos berros.

Tentaram de todas as formas tapar a boca da consciência, mas ela jorrava sua incongruência por todas as ventas.

Aquela mãe só queria presentear sua filha com ovos de páscoa, esses de chocolate que o capitalismo inventara.

Não tinha grana. Foi lá furtar.

Pegaram-na com a boca na botija, flagrante delito, hipermercado lotado.

Levaram-na para o almoxarifado e deram-lhe uma sova que a fazia verter lágrimas não pela dor, mas pela impotência diante a ferrugem e acidez do sistema deplorável.

Diante o milharal que rodeia a rodovia, às quinze para as seis da tarde, pára um ônibus escrito "Rural", dividido em duas cores, branca e vermelha, e desce um homem carregando o cansaço, a garrafa térmica e o facão.

Olha para cima, tira o chapéu, limpa o suor da testa e dá o primeiro passo.

No final da avenida uma jovem mãe sentada diante sua simplória residência vê os três filhos pequenos brincarem com a inocência enquanto pensa no que lhes dar na hora do jantar.

É tudo tão duro e puro que a esperança olha presa detrás da cela de uma cadeia, suspira e tenta acreditar que o amanhã ainda há de vir

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 27/05/2017
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