O Desaparecimento de Norberto.

Norberto fugiu para o deserto em dezembro de 1981.

Dizem até que chegou a jogar futebol no Internacional de Porto Alegre em meados dos anos setenta do século XX.

Deixou o emprego e doou seu FGTS para a casa dos idosos.

Com os trocados restantes no fundo de sua carteira de zíper estragado, comprou um chapéu, uma bengala e trezentas gramas de mortadela.

Saiu da mercearia mastigando num compasso lento, como se seguisse os próprios passos e sugasse os próprios impulsos.

À beira da estrada pediu carona ao primeiro carro. Nada.

Doze minutos depois veio o segundo, uma camionete "de luxe", que passou batido, levantando poeira.

Norberto coçou os olhos com a costa da mãe esquerda e pensou em Deus...

Depois disso nunca mais fora visto...

Uns dizem que morrera de frio no Nepal...

Outros, que se perdera por aí, nas quebradas do ecossistema...

Teve ainda uma senhora, dessas faladeiras, que disse que ele virou mendicante drogado e que seu cérebro fritara de tanta química.

Havia tanta física quântica naquele dilema que até a filosofia deixara de existir...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 27/05/2017
Reeditado em 27/05/2017
Código do texto: T6010600
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