Olhos Flamejantes

Ela havia nascido num tempo que jazia... e está à frente do seu tempo, lhe fazia aprisionar gritos da alma. Difícil não era ser compreendida, tão maior era o quanto tinha que aprender a suportar a angústia de esconder-se de si mesma. Ela era sol na madrugada e riso, mesmo em lágrima. O canto do encanto quando o ritmo era o soluço do coração despedaçado. Era o centro das multidões, quando ao cair da tarde era companhia da sua própria solidão. Mas ainda assim, amar, brilhar e pensar em parênteses era a bússola na sua individualidade. O relógio inumerável, daquela, cujo tempo a fazia atrasar os ponteiros da existência, era o seu jeito particular de viver em solo cinza e hostil. Ela era no seu próprio escuro, brilho de olhos flamejantes. Mas lhe faltava verbos. Ela era mais.

Rita Vilas Boas