poema virgem

eu vejo olhos vorazes surgindo na escuridão, anjos bêbados e latas de lixo, asas rasgadas e calçadas de néon - engulo mentiras que [queimando] anulam minha dor. caindo no cinzeiro como bitucas de cigarro, nutrindo minha mente com desejos roubados - amassado - sexo é Deus com d minúsculo tocando discos quebrados de madrugada esperando outro cliente e vomitando na entrada das favelas que crescem imperfeitas e empilhadas - restos de comida estragada sob os arranha-céus, os braços marcados de agulha e navalha - eu brindo à minha corrupção, os dentes podres e queimo um cigarro na palma da mão e unhas roídas - renego à juventude morta das propagandas segurando a primeira página dos jornais que gritam aos sabores que não os alimentam - à cidade esquecida por Deus - eu quero um sono bêbado na praia, transcrevo um filme que roda na minha cabeça que me devore toda noite de insônia, um roteiro surreal e não-linear - porque a cidade é um deserto distorcido e um cemitério esquecido por Deus, eu escrevo com o sangue que jorra da veia das imagens publicitárias - dos suicidas e dos loucos e propagandas políticas, a agonia da perversidade e da insônia, um ferro-velho de templos industriais despejando fumaça em nossas cabeças e nos prometendo salvação em luto aos seus deuses caídos e seus mendigos apodrecem sozinhos no chão dos bares, bancos de praça e zonas de guerra - o Frankenstein negro travestido na noite rastejando por uma dose violenta de qualquer coisa.

Arthur Rabelo
Enviado por Arthur Rabelo em 21/06/2017
Código do texto: T6033908
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