Pássaro engaiolado II Parte

II PARTE

Ela tinha um coração alado batendo no peito. Dentro e fora. Era o jeito de viver para amar, na terra, no ar.

Seu peito voava, quase literalmente. As nuvens projetavam a ilusão de ótica que parecia responder suas inquietações, sob formas de perguntas, a um oráculo imaginário.

Aprendeu sobre as nuvens com Shakespeare. Ele lhe ensinara que estas ao tomar formas ao céu, fazem com que os olhos vejam o reflexo daquilo que, inconscientemente, desejamos.

Na manhã seguinte ao vôo que a deixara ferida, deitou-se na relva, olhou para o azul infinito, e por alguns instantes, viu um coração alado com duas asas abertas, eram extremamente simétricas. Todavia o coração ao centro, exibia esboços de artérias e veias cavas, lembrando-a que a assimetria da sua dor, era um elemento visível da projeção humana.

Percebeu que as nuvens são tão sábias e verdadeiras, como as cartas daquela cigana que havia encontrado no final do outono. E num súbito quebrar daquele transe, sentou -se. Olhou em direção a árvore revestida de tamarindos, logo a sua frente. Respirou lenta e profundamente, e, entre suspiros, abriu os braços, como num lampejo vindo da alma. Um pássaro assustado voou longe. O sol acariciou seu corpo por alguns instantes. Sentiu que viver com um coração alado pulsante dentro de si, era uma experiência que lhe traria na natureza humana, muitos outros significados. Dentre tantos verbos já vividos, havia muito ainda para desmitificar sobre o amor. Ainda não era tudo. Ela era mais.

Rita Vilas Boas