Gravido de mim mesmo

...é um estado estranho, mórbido e sossegado, é um não-saber o que se quer e ainda assim querer; ficar paralisado diante à vida com todo peso da memória galopando no silêncio interno de olhos precipitados sobre o nada...

...tenho andado distraído em mim mesmo, cavei tão profundamente o ser-eu, que acabei saindo do outro lado de mim mesmo - como ir do Brasil ao Japão - e depois caí pra sempre.

Alguém entenderia a sensação?

...é um infinito de instante a instante que se desdobra sobre si mesmo por trás de um olhar perdido na sensação do corpo; tenho a impressão de estar morrendo e numa concepção de parto: é um não-saber que ganha vida e realidade, contornos e cores com relação a um não-ser ligado a tudo que eu conheço, que sinto, que respiro. Tudo é estranho e novo.

...sinto-me como uma mãe morrendo enquanto dá a luz ao filho. Meu medo é não saber se os dois morrem... por isso fico a observar-me, para que não venha num infeliz acaso confudir minhas idiossincrasias artísticas com um fato real, no caso a morte. Sim! há mentes capazes de se destruírem por suas próprias ficções! O amor e o ódio são uma delas. E o que não é ficção? *um filósofo, às vezes, é uma couraça contra o niilismo*

- ele vigia enquanto durmo de olhos abertos fincados em mim como um lago seco esperando as chuvas de Dezembro. Olhos secos de Saara. ..

Fiódor
Enviado por Fiódor em 27/07/2017
Reeditado em 01/05/2020
Código do texto: T6066694
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