Como a Negrinha do Lobato

Negrinha morreu de desgosto.

A vida era cruel e escura, foram-lhe poupadas todas as pequenas [e grandes] boas coisas. O mundo pra si era grande, e ela miúda demais pra suportar, mas suportava. Não sei porquê.

Mas morreu de desgosto.

Quando a luz estrou meio como que quando entra pela rachadura de uma porta de madeira e alguém abre a porta e deixa a brisa com gosto de sol entrar, clareando a alma, surge uma coisa do fundo, um calor nunca antes sentido, quase palpável de tão real. Uma faísca, que vira chama e queima. É felicidade e paz.

E apaga.

Alguém fecha a porta.

E a Negrinha morreu de desgosto.

Eu morri de desgosto.

Você, surgindo como cais do porto a mim, navio perdido nas tempestades que a vida teimava em me descarregar, raio após raio. Foi paz quando o mundo foi caos. E chão quando abriu precipício abaixo de meus pés.

Foi a faísca em mim. A chama. A felicidade. E a paz.

E apagou. Sumiu. Abalou.

E eu morri de desgosto.

Como A Negrinha do Lobato, porque a minha vida [assim como a dela] me tirou o que me deu vida.

Amanda Martinez
Enviado por Amanda Martinez em 11/08/2017
Código do texto: T6081039
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.