Como a Negrinha do Lobato
Negrinha morreu de desgosto.
A vida era cruel e escura, foram-lhe poupadas todas as pequenas [e grandes] boas coisas. O mundo pra si era grande, e ela miúda demais pra suportar, mas suportava. Não sei porquê.
Mas morreu de desgosto.
Quando a luz estrou meio como que quando entra pela rachadura de uma porta de madeira e alguém abre a porta e deixa a brisa com gosto de sol entrar, clareando a alma, surge uma coisa do fundo, um calor nunca antes sentido, quase palpável de tão real. Uma faísca, que vira chama e queima. É felicidade e paz.
E apaga.
Alguém fecha a porta.
E a Negrinha morreu de desgosto.
Eu morri de desgosto.
Você, surgindo como cais do porto a mim, navio perdido nas tempestades que a vida teimava em me descarregar, raio após raio. Foi paz quando o mundo foi caos. E chão quando abriu precipício abaixo de meus pés.
Foi a faísca em mim. A chama. A felicidade. E a paz.
E apagou. Sumiu. Abalou.
E eu morri de desgosto.
Como A Negrinha do Lobato, porque a minha vida [assim como a dela] me tirou o que me deu vida.