aquilo que um dia foi rosa

é que as rosas

resolveram fechar-se

em suas pétalas

e os rios

dedicaram-se

a correr

pelas cidades

e a vasculhar

os extensos

quilômetros

de pele

que nos separa

apenas

pela fagulha

da possibilidade

de desaguar

entre tuas valas

ou comer

do seu riso

um rastro forte,

um rangido,

algo que traça

na fronte

subitamente

uma linha,

um mapa geográfico

da sua espessura,

uma gruta escondida

na escuridão

é que o sangue

que corre

nas veias

que te compõem

um cenário de treva

tetas e fossas,

até que te arranca

o dente

é o mesmo

tombo

fruto

daquilo que

se esconde

nas entranhas,

no breu

e no casulo

bruto

da rosa

é o engano

por certo

é o engano

da flor

que produz

aquela coisa

amarga

e recolhida

é o engano

que chama

a si mesmo

por pequeno

milagre

e implora

enquanto chora

um pranto seco

pelo deserto,

dispara

um lamento

largo

e agudo

repetindo alto

apenas

como um

mantra,

como um

ato de fé,

de misericórdia,

que repousassem

suas raízes

cansadas

sob uma pedra

que distribuissem

suas pétalas

manchadas

(e murchas)

em qualquer

abismo,

em qualquer

recorte

de areia

inexplorada.

Vini Miranda
Enviado por Vini Miranda em 05/09/2017
Código do texto: T6104840
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.