O MAR SALGADO E OUTRAS LONJURAS

Começando os albores do frio por aí? Aqui no Pago Grande do Sul do Brasil, à beira-mar, na cidade de Torres, norte do Estado, primavera, algum vento e esparsas chuvas, 22º de temperatura. O coração taquicárdico e afoito teima em visualizar Portugal com seus castelos e as teimosas veredas pedregosas de Trás-os-Montes. O mesmo vício poético de Miguel Torga, o médico socialista, culto e sábio. Seu verso ora gume ora flor. Sempre o bravio agreste de um cabrito montês. Talvez porque ontem acabei de reler Câmara Ardente, de Miguel. Talvez por querer brincar nos cascalhos de Carrazedo de Montenegro com os meninos e meninas fugados da globalização e besuntados do morno suor regional na faina diária ou na festa singela do Divino nos salões da Irmandade. Num repente, Alberto Caieiro, um dos alter egos de Fernando Pessoa sopra aos meus ouvidos o vento lusitano das ervas daninhas e sacode urzes nas agrestes raízes de sonhos e farsas de além-mar. E reboa nos neurônios o “pensar é estar doente dos olhos”... Estou começando a sentir necessidade de rebuscar o cordão umbilical metido no territorial de minha ancestralidade. Começo a viajar nas dependências onde moram Dom Sebastião e o mal salgado de lonjuras. E aumenta mais e mais o desejo de mamar nos seios da Pátria-mãe. Salve! Que o Atlântico não nos disperse, irmãos de alma crística. Hosanas ao Absoluto, meu bom amigo poeta Tony Alves!

– Do livro A VERTENTE INSENSATA, 2017.

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