Boneco de Posto

Prefiro nunca ser famoso.

E entregar em uma bandeja de prata,

mesmo que a contragosto,

minha cabeça com o pescoço,

pra alguém dizer sim por mim.

Prefiro nunca ser famoso.

Que ir ao programa do Jô,

beber vodca na caneca,

contar piadas de Nortistas,

meter o dedo nas feridas,

de qualquer povo sofredor.

Prefiro nunca ser famoso.

Que falar do que não sei,

fingir que li ou estudei,

o texto ou capitulo seguinte,

papagaios mudos dizem mais,

em telejornais e seus editoriais.

Prefiro nunca ser famoso.

Que cantar no programa da Fátima,

ser aclamado como autor,

da nova febre das massas:

o monólogo do ê ê ô ô,

fazer balançar toda plateia,

usando uma voz mixada,

ser chamado de lindo e gostosão,

e no intimo da minha carcaça,

no voltar pra minha casa,

saber que na verdade não passo,

de um famoso Boneco de Posto.