BRUMAS DA NOITE

                                  
     O vento soa lá fora; a noite cai suavemente como se estivesse com preguiça e preferisse não chegar.
     Na varanda, olhando para meu jardim, avisto os pássaros recolhendo-se para seu sono e descanso.
     Um pouco distante já não vejo o final da estrada e com a delicadeza da natureza, suave neblina vai encobrindo todo o caminho até que tudo fica branquinho.
     O silêncio é total; nenhum ruído é ouvido e posso perfeitamente sentir uma grande paz envolver-me. Saio pelo jardim e percebo que as flores parecem chorar; as folhas muito verdes dos arbustos seguram nas suas pontas as lágrimas que não querem deixar cair. 
     Até a natureza chora!  Chora o  dia  que passou; uma linda flor que murchou; o filhotinho de um colibri que ao tentar voar despencou e no chão ficou inerte.
     Saio caminhando de volta para  a varanda, meus pensamentos libertos, silenciosos como o cair da noite , me trazem uma paz como há muito não sentia.  E alí, naquela varanda, observo que nada mais se vê. É tudo branco, não sei mais do colibri.
     Alí sozinha, com aquela paz intensa que tomou conta de todo meu ser, fico sem pensar em nada.  Nunca havia conseguido ficar com meus pensamentos tão livres, tão serenos. Talvez fosse a beleza do lugar; aquele jardim de flores todo preparado pelas mãos de minha mãe; talvez por sentir sua presença, calma, sempre tão linda! Ou quem sabe, por ter a mim msma encontrado, ou tudo isso junto.  Aqui, onde não mais poderei voltar, deixo-me inebriar por esta noite calma de despedida, uma despedida sem tristezas, sem lamentos ; apenas a constatação de que, de manhã, ao caminhar por esta estrada pela última vez, essa bruma da noite vai dar lugar a um lindo sol brilhante;as  flores, os lírios, as rosas, tudo vai festejar a vinda da vida trazida por esse sol aquecedor e do belo brilho nas calmas águas do lago.
     E será minha despedida,  é minha última noite e minha última manhã onde deixo uma grande parte de mim,  e  que foi muito bom; fui feliz e agora é continuar e levar para a tumutuada cidade, essa paz  em que me deixei envolver, ficando na minha lembrança todo o tempo em que aqui vim ver minha mãe e levar, não tristezas, mas uma doce saudade de pessoa tão especial que tive a felicidade de ter como mãe.
     Quando o sol raiar, nova vida irá brilhar dentro de meu coração, envolvendo minha alma  em  perfeita comunhão com a paz e harmonia.
naja
Enviado por naja em 06/11/2007
Reeditado em 06/11/2007
Código do texto: T726489