SOBRE (NÃO) TER ALGO PARA SE SEGURAR

Dizem que não há nada pior do que a falta de esperança. Viver constantemente com a corriqueira sensação de estar andando em círculos, ou de estar correndo para o nada. O indevido ciclo do devir definitivamente não é uma sensação boa.

A sociedade e o clichê pregam: “carpe diem”. Então, por mais duro que seja seu dia, sua semana, seu mês ou seu ano – resultando nas mesmas promessas de réveillon – você força um sorriso na cara e impõe “amanhã eu fico triste, hoje não”, ou até mesmo “reclamar e melindrar-se é para os fracos de espírito”. Atingimos um ponto crítico: não nos permitimos mais a ter sentimentos. Fincamos dentro de si a ilusão de constante força e solidez; quando, na verdade, desejamos simplesmente desistir de toda a dificuldade enfrentada no dia a dia.

Talvez seja essa a razão da depressão estar tão presente na comunidade global de hoje. Tentamos normatizar uma das maiores incertezas científicas: nosso comportamento. É seguro afirmar que somos domados e ligeiramente indiciados a seguir uma vertente social; entretanto, nosso cotidiano é tão inconstante que poderíamos ser internados em sanatórios constantemente. A verdade é que o ser humano define-se pela incessável necessidade da loucura, da quebra da rotina e do inconstante.

Por outro lado, o sentimento de estagnamento é permanente. Não importa o quanto nos esforçamos, o sucesso, a realização pessoal, a aprovação no almejado vestibular ou até mesmo o amor não correspondido parecem estar a anos-luz. Tão difícil quanto escrever um texto, é sentir-se em progresso, é impedir que o estado de inércia nos alcance. Filósofos são infindáveis para essa questão – Epicuro é o mais ressalvável nesse âmbito – porém nenhum deles nos ajudará a alcançar a devida felicidade. Somos fruto e semente, causa e consequência de uma sociedade que preza o esforço – e um punhado de sorte. Os problemas matemáticos são intangíveis, a complexidade da gramática incompreensível, os efeitos da natureza cosmogônicos e os problemas humanos alifáticos – não possuem nem começo nem fim, mas estão sempre se repetindo.

Portanto leia um livro, um romance fútil onde o final é sempre feliz. Assopre um apito, o som primário e descomplicado trará ordem ao caos. Escute música, dance ao som dela. Viva, chore, esperneie. Levante-se, caia de novo e permaneça lá por algum tempo. Ninguém é obrigado a solucionar tudo de uma vez. O vestibular? Divide e modela sua vida; contudo, você deve modelá-lo primeiramente. Enfim, desnivele-se da inércia, proponha a si mesmo um passo de cada vez. Enquanto aos filósofos? São apenas outras pessoas diante da indagação do cotidiano e da vida, com a diferença que alguém decidiu seguir e pregar o que eles disseram ou dizem. Formule sua própria filosofia, siga-a você mesmo e apenas... Viaje. Viaje para algum lugar onde tenha algo para segurar-se, ou afivelar-se. Siga em frente.

Leonardo Falcão
Enviado por Leonardo Falcão em 06/04/2014
Código do texto: T4758055
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