Meu primeiro amor

Quanto menor ficava a distância para chegar a Campinas meu coração batia mais forte, depois de vinte e sete anos eu estava voltando e dessa vez para ficar, no pensamento as lembranças chegavam em detalhes, eu me lembrava dele. Aquele rosto suado e sujo de terra depois de uma partida de futebol naquele terreno baldio, o campo era improvisado e a platéia pequena, mas seu sonho era ser um grande jogador de futebol.

Cada gol que fazia olhava em volta para confirmar minha presença e com um gesto ainda infantil se contentava apenas em roubar os laços de fitas das minhas tranças.

Nossas conversas mais íntimas era para falar sobre sorvete, a nova pipa colorida que ele estava fazendo ou de seu sonho de ser um grande jogador da seleção brasileira, queria ser como Vavá, Pelé, Garrincha, correr pelos campos verdes de outros países e ser o artilheiro da Copa.

Quando tinha coragem ele arriscava um elogio, dizia que meus olhos eram iguaizinhos aos da boneca da sua irmã, ou então roubava uma rosa dos canteiros da sua casa e me oferecia todo feliz, deixando sua mãe louca de tanto procurar a rosa que estava reservando para a imagem da Virgem Maria.

Nos domingos tinha missa na Matriz e pela transparência do meu véu de comunhão eu o procurava, com certeza Deus já perdoou aqueles momentos de distração, quando nossos olhares se encontravam.

De vez em quando eu deixava um objeto cair para que ele viesse apanha-lo, assim eu poderia sentir melhor o cheirinho de sua brilhantina que fazia seus cabelos brilharem mais que o sol do meio dia em plena missa das dezoito horas.

Com essas doces recordações cheguei em Campinas, rever minha cidade foi uma grande alegria e revê-lo era a emoção de um sonho que eu queria tornar realidade.

No dia seguinte fui passear em nossa rua, mas fiquei triste, o progresso já tinha chegado por lá e destruído o campo de futebol, em seu lugar muitas casas tinham sido construídas, ali já não existia a mesma poesia de anos atrás.

Discretamente consegui saber que ele morava na mesma rua, fiquei a uma certa distância, encostei-me na mesma árvore que nos deu sambra quando crianças, esperando que ele aparecesse, e ele apareceu!

Fiquei a observá-lo; ele estava muito bem, pude notar que seus cabelos já estavam grisalhos, chutou uma pedrinha na calçada e caminhou com passos firmes até sumir de minha vista, senti um suspiro sair do fundo do meu coração e escutei minha própria voz:

- Que pena! Foi apenas um sonho de criança. Mas de toda saudade que senti nesta minha vida, a única que o tempo não consegue apagar é a saudade de você, meu primeiro amor.

Vilma Leal
Enviado por Vilma Leal em 25/10/2014
Código do texto: T5011658
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