A Pipa e a Felicidade

A pipa e a felicidade

Certa vez, chegando à casa de minha irmã, observei meu sobrinho a admirar uma linda pipa que havia comprado. Já escrevi sobre isso uma vez....

Então, voltei ao passado e lembrei–me do tempo em que erámos pequenos e preparávamos nosso próprio quadrado. Era assim que chamávamos nossos brinquedos voadores.

Primeiro fazíamos a cola com a farinha de trigo que a mãe tinha guardada na despensa. Escolhíamos o papel seda ou manteiga e as cores, que deviam combinar. Não se misturava verde com azul. O bambu era fatiado e desprovido de lascas ou farpas, com uma faca de cozinha, mesmo com a bronca da mãe. Rabiolas e franjas eram feitas de papel. Não se usava plástico para a confecção. Pronto o brinquedo era só esperar a secar, preparar o estirante e ir ao quintal para enfeitar o céu, ter a sensação de liberdade, sentindo a força dos ventos, empinando o quadrado que poderia ficar horas ao ar ou arrebentar e cair, ou ser derrubado por outra criança que tinha esse intento. Não usávamos cortante ou o que quer que seja com esse objetivo. Queríamos colorir o céu.

Sem dúvidas era um grande risco.

Perguntei ao meu sobrinho porque ele não estava no campinho empinando a pipa e ele respondeu que os outros meninos iriam cortar e ele iria perder seu belo brinquedo. Disse a ele que era um risco que teria que correr se quisesse ter a felicidade de ter sua pipa no ar.

Hoje, ao ler no Facebook o compartilhamento de um amigo que dizia: “Se pudéssemos ter consciência do quanto nossa vida é passageira, talvez pensássemos duas vezes antes de jogar fora as oportunidades que temos de ser e de fazer os outros felizes”. Tracei, então, um parâmetro entre as duas situações e observei que, a felicidade, os relacionamentos, estão sempre cercados de expectativas e incertezas, quanto a isso, sem novidades. Talvez, numa atitude infanto-juvenil, para nos privarmos de possíveis tristezas e decepções, optamos por suprimir as alegrias do agora, deixando de colocar nossa pipa na liberdade dos ventos, na insegurança do que possa acontecer depois. Será?

Vera Bayerlein
Enviado por Vera Bayerlein em 18/12/2014
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