Conselho de Coelho

Li um livro de Paulo Coelho: o Alquimista. E em sua edição em francês, que, considerados preço e ocasião, era a que estava mais à mão. Com a vantagem de oferecer mais arrimo numa língua em que não me primo, mas bem estimo.

A história não causou-me aquele furore, que experimentei ao ler o Casmurro de Machado, ou uma dos muitos romances cangaceiros de Lins do Rêgo, que por sinal, não li em grego. E assim foi, que não me entusiasmei em mais leituras coélhicas.

Isso contado, e contudo, não invalida meu apreço por um escritor que tirou o Brasil do gesso, do torpor e se projetou internacionalmente de forma, no mínimo, espetacular, e que lhe valeu o acesso à Academia Brasileira de Letras, ombreando-se com as figuras homéricas, das esféricas às já cadavéricas de tanta imortalidade reunida, e numa quarentena tão reverenciada e conhecida.

E no Petit Trianon, hora do chá, ou de la création, entre tantos membros e lustres, Coelho continuou a lumiar. Lançando mais obras de sua lavra e ejaculando pérolas de seu saber notório e glório.

Numa de suas contribuições semanais e seminais que publicava no diário O Globo, li um conselho seu que guardei como o barbante de Teseu, pra voltar, depois de o touro matar: Coelho ensinava então

que mais que no afã de criar, achava-se na fase de cortar. Cortar todo excesso sem dó nem piedade. Caminhava sempre na luta pela obra enxuta, ainda que pedra bruta. Gostei muito. Me deliciei com esse ensinamento sóbrio, sábio, que feito um alfarrábio, guardei. Mas pros meus já amarelecidos textículos nem bola dei.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 25/02/2015
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