A essência do que é continuidade

Ao processo no qual todos nós vivemos, seja de vida ou em tudo que nele se encaixa, temos o equívoco de dizer que há uma continuidade. Mas, analisando o que significa continuidade, em essência, na maior parte das vezes eis uma palavra que usamos inadequadamente. Pois, continuidade diz respeito a um processo homogêneo, linear e constante, cujo não permite oscilação de qualquer gênero ou grau. Dessa maneira, o próprio conceito de vida, baseado nesse raciocínio, é um processo oscilatório, ou seja, predominantemente sujeito a variações, que demanda um recomeço diário até sucumbir à ruptura definitiva, ou seja, à morte. Dessa maneira, todos os demais processos que estão diretamente relacionados não só à vida, mas à natureza humana, podem ser classificados como um processo de rupturas, mas não de continuidade. Aliás, o senso comum, ao se utilizar do conceito de continuidade em relação à vida, provavelmente se refere ao plano terrestre no qual ela está inserida enquanto mantenedora de um corpo carnal vivente. Assim, demanda um processo de continuidade, mas não alheio às rupturas diárias, uma vez que, segundo dizeres populares “nada como um dia após o outro.” Ou seja, por meio desse dito, fica bem claro que, a transição de um dia para o outro constitui um processo de ruptura, assim, a vida é um processo de “eterno recomeço”, uma vez que, em essência, renascemos diariamente para que possamos mudar atitudes que nos prejudicaram, seja como indivíduo, seja como sociedade.

Portanto, continuidade em essência, constitui um conceito utópico, que transcende a natureza humana, portanto, inatingível para nós, enquanto homens. Da mesma forma que, para atingir a perfeição, precisamos encontrar o equilíbrio entre o errado e o certo, o processo de continuidade se insere na mesma lógica, ou seja, o equilíbrio deve ser conseguido diariamente.

Marcel F. Lopes Historiador (UTP)

16-04-15