VI UMA BANDEIRA DO BRASIL EM UM CAMINHÃO DE LIXO

Muito me entretém os lixeiros, sim, aqueles que se encarregam de catar tudo aquilo que nós dispensamos, restos de comida, utensílios, embalagens, eletrodomésticos antigos etc. Tudo aquilo que é considerado inutilizável e, portanto, lixo.

Pois bem, para quem já assistiu o documentário "Ilha das Flores" (disponível no youtube), o lixo foi ressignificado, pois, acredite, há gente que se alimenta daquilo que é considerado apenas 'resto' por muitos.

Mas a mensagem aqui transcende tal tragicidade, aqui inclui-se o aspecto tragicômico da história. Os lixeiros, classe que é considerada 'ralé' dentre as profissões, é uma daquelas que nos insere em um dos maiores paradoxos possíveis, qual seja: dinheiro e felicidade. Seriam estes efetivamente proporcionais?

Aquela velha máxima "Dinheiro não traz felicidade", é cínica. E o cinismo consiste na negação da necessidade de se ter dinheiro para consumir. Ora, se não tenho dinheiro algum, viverei na miséria extrema, esta que causará, sim, infelicidade. A problemática aqui vai muito além desse axioma incauto.

Na maioria das vezes ao ver os lixeiros passando, sei que haverá barulho. Não somente o barulho do caminhão de lixo, mas o barulho de risos, brincadeiras, descontrações. Os lixeiros são os mestres do humor. E muito devemos aprender com eles.

Vi uma bandeira do Brasil no caminhão de lixo, a bradar com o vento. Vi a bandeira ostentar suas belas cores, cada cor representando uma parte de um belo país.

O branco representa a paz. O azul, o céu e os rios. O amarelo faz referência às riquezas. E, por sua vez, o verde representa a riqueza florestal do país. Tudo isso em meio ao lixo.

O caminhão de lixo e a bandeira do Brasil representam, de forma precisa, a situação da nossa república, que está jogada aos trapos, nossa democracia virou coisa de palhaço, literalmente, como a vergonhosa eleição de Tiririca a deputado federal há algum tempo atrás.

Só que ainda há um elemento... os lixeiros. Os lixeiros somos nós, que ainda temos senso de humor, temos capacidade de rir, descontrair e brincar com as situações mais trágicas que vivemos.

Mas é chegado o tempo em que todos temos o dever, não de perder o nosso senso de humor (que é belíssimo), mas é chegado o tempo de levarmos as coisas mais a sério.

Que a nossa capacidade de rir e zombar das coisas seja mais bem direcionada, que tratemos o ser humano com mais respeito, seriedade e dignidade.

O nosso humor está sendo a nossa derrocada, mas ele pode ser a nossa salvação. Basta usarmos com um pouco mais de seriedade.

Conca Castro
Enviado por Conca Castro em 29/06/2015
Reeditado em 17/07/2015
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