UM SENTIMENTO CHAMADO: MÃE.

Quando eu era criança, eu tinha em mim um sentimento muito forte, chamado mãe. E por muitas e muitas vezes, sempre que eu sentia isso, uma série de outras emoções tomavam o meu corpo frágil, como coragem, confiança, segurança e amor.

E em certas circunstâncias, eu buscava aquele sentimento, para provar a mim mesma que eu não estava sozinha. Como quando eu, inquieta que sou, brincando com meus irmãos de pique, enrosquei meu pé esquerdo em algum prego mais inquieto que eu, caminhei dois quarteirões sangrando e fucei por aquele sentimento que certamente poderia me amparar.

Confesso que teve momentos, que não queria que este sentimento viesse à tona. Principalmente quando algo chamado, mertiolate vinha junto.

Mas em todos os outros, este sentimento me guiava pelo caminho certo. Parecia mágica. Eu sempre estava preparada para o frio, para a chuva, para a fome… E quando se é criança, o mundo parece tão assustador e divertido ao mesmo tempo, que não entendemos os riscos, justamente por não acreditarmos nos riscos.

Mas quando crescemos, entendemos que o mundo é muito mais assustador do que a imagem que tínhamos dele na infância. E neste ponto da vida, quando mais precisamos deste sentimento, não recorremos a ele.

Deixa eu relatar, que certa vez, com 11 anos de idade, me atrevi a dizer que contava as horas para me tornar adulta e não mais precisar deste sentimento o tempo todo. Se eu pudesse me encontrar com a garotinha que disse isto, contaria para ela como estou arrependida de soltar aquelas palavras e pediria, encarecidamente, que não reprimisse tal sentimento.

- “Quando eu era criança, eu tinha em mim um sentimento muito forte, chamado mãe. E por muitas e muitas vezes, sempre que eu sentia isso, uma série de outras emoções tomavam o meu corpo frágil, como coragem, confiança, segurança e amor.” -

Não sei se você tinha o costume de, toda vez que caía um dente de leite, segurava firme aquela parte do corpo perdida e atirava bem forte em cima do seu telhado e com toda inocência de uma criança fazia um pedido quase impossível de realizar. Eu fazia. Bom, até hoje nunca ganhei o pônei que pedi, o que me fez entender que, trocar os dentes por moedas, seria muito mais vantajoso na época. Mas, lembrando desses pedidos desastrosos que eu fazia para meu telhado, me ocorreu que eu deveria ter trocado meu pedido. Eu deveria ter desejado, nunca perder aquele sentimento que estava presente em mim. Deveria ter desejado nunca deixar que o sentimento de ingratidão, orgulho ou de mágoas, se sobressaíssem. Deveria ter desejado entender melhor aquele sentimento e deveria ter desejado que eu jamais esquecesse o quanto precisava dele.

Temos a pretensão de pensar, que quando somos crianças, não conhecemos a verdade. Mas a verdade é, que antes sabíamos do que precisávamos e do que nos fazia bem. Hoje, estamos perdidos.

Agora mesmo escrevendo este texto, escuto a voz assustada de uma criança de algum vizinho, acordando, provavelmente de algum pesadelo e buscando o único sentimento que sabe, lhe faz bem, o sentimento chamado: Mãe.

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