a pior dor

Há muito Hugo não sorri, na verdade, não é tanto tempo assim, mas Hugo vê como uma eternidade, isso é gerado pela dor, que como a gravidade intensa de um buraco negro o puxa para o centro, onde há mais sofrimento.

Hugo acordou, é uma manhã quente, costuma passar seus dias trancado no quarto. Mas nesta manhã acordou decidindo descer as largas escadas de sua casa. Assim fez. Abriu as enormes e esculturais janelas de sua sala, esperou os olhos se adaptarem à luz.

Andando em direção ao espelho da sala se olhou, alto, cabelos escuros, pálido, olhos negros, profundamente tristes. De repente lágrimas pesadas escorreram-lhe o suave rosto, estava olhando para a porta branca refletida no espelho, um aperto no coração, lembranças.

Foi em direção ao cômodo, andando devagar, lágrimas como balas de chumbo atingiam o chão; soluçando. Quarto empoeirado, no canto um livro surrado sobre a mesa ao lado de um abajur de luz branda. Chorando enquanto lembranças dolorosamente caminhavam por seus pensamentos.

Sentou na cadeira de frente à mesa, tossia por conta da poeira, olhos passeando pelo livro de páginas amarelas, cheiro de mofo. Abrindo o livro o viu, bem na sua frente, mais lágrimas. Era uma foto. Um garoto de uns 13 anos, no verso “Miguel Hugo 18/07/1996”. Encontrou outra foto, era ele mesmo, num dia chuvoso, triste, no verso desta “21/10/1997, Victor H. – cemitério” e com letra angustiosa “Nenhum pai deveria ver seu filho morrer”. Chorando de saudade, angústia, raiva lembrando do dia em que matou seu próprio filho, revivia aquilo inúmeras vezes, viveria assim para sempre. Apesar da culpa não ser realmente dele, sentia que fosse.

Viúvo anos antes, logo depois o filho morrera.

Mas o que será que arrancou o amado filho de seus braços e ensanguentado o encontrou? Não sabia, talvez nunca descobrisse. Um loop infinito. Não podia fazer nada além de afundar:

— Agora minha vida é um mar de lagrimas, sofrimento. E me afogo.

Isis Castro
Enviado por Isis Castro em 28/11/2015
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