Aconteceu em um dos setembros de minha vida.  O tempo quase apagou dos arquivos da memória.
 
Fazia um sol terrível, não havia cristão que aguentassem este calor do mês de setembro.      Sobre a sombra naquele começo de tarde os moradores daquela colônia estavam na expectativa que o sino da capela tocasse, pois naquele dia estavam marcadas para o encontro, todas as senhoras das imediações se reuniria para  fazer suas preces em intenção da aquela pessoa que já há muitos anos havia falecido.  Se tratava de um filho adotivo que naquela ocasião foi assassinado cruelmente por seu padrasto carrasco e desalmado; um tirano perverso que mais tarde sofreu o castigo merecedor, e a sentença  Divina lhe foi justa,  conforme o povo dizia e cantava em versos e prosas sobre as suas maldades.
 
 Naquele local onde que sinalizava este acontecimento que gerou muitas revoltas naquele povo simples e às vezes supersticiosos, que sempre estiveram envolvidos com as crenças e costumes do lugar.
 Nesta tarde aos poucos se percebiam as pessoas se juntarem para praticar o culto religioso.
 Um pouco ainda me recordo e associo-me com o que já ouvi falar a respeito deste acontecimento.
 Eu tinha pouca idade, não me recordo quantos anos eu tinha quando isso aconteceu neste encontro de senhoras religiosas nesta pequena capela; que media mais ou menos uns oito metros de frente por mais ou menos dez de fundos, situada às margens de uma estrada de terra bem próximas à colônia que nos morávamos.
 Neste dia eu com meus próprios passos, em companhia de minha avó que na ocasião também fazia parte deste grupo de mulheres dedicadas a estes costumes religiosos.
 No decorrer daquela tarde muitas Aves Marias e Pais Nossos foram dedilhados naqueles rosários de contas infinitas, isto ficava impressas nas insígnias daquelas pessoas, que por alguns tempos permaneciam ali sentados naqueles bancos, se sentiam aliviadas e dever cumprido com as coisas espirituais.
 Depois de alguns minutos que havia começado o encontro, aconteceu,  eu ainda estava acostumado com o meu soninho no período da tarde, aos poucos fui sentindo a necessidade de me recostar e usufruir deste pedido que o meu tão fragilizado corpinho estava aclamando.
 Aos poucos fui saindo, me retirando dos cuidados dos quais minha avó prestava a mim, sem que ninguém percebesse passei para outro cômodo daquela igreja, compartimento em que se guardavam alguns materiais que usavam nas quermesses; assim como lona para fazer as barracas das festas; tecido grosso que estava dobrada, juntamente como outras tralhas para uso geral de qualquer necessidade.
 Eu não entendia o que significava aquela corda de pendurada que estava amarrada lá no alto de uma pequena espécie de torre, e descia até no ambiente em que eu me encontrava, mas depois fiquei sabendo que se tratava da corda de puxar e acionar as badaladas do sino para convidar os fiéis para a celebração, ou até anunciar alguns acontecimentos inesperados naquela comunidade.
 As minhas perninhas foram dobrando e aos poucos me deitei em cima deste encerado de se proteger da chuva que estava bem dobrado como se fosse a minha caminha de dormir. O sono era tanto que nem se quer acabei de me acomodar já estava dormindo e por ali permaneci aquele resto de tarde sem que ninguém percebesse onde eu me encontrava, no maior e delicioso sono de menino dorminhoco.
 Quando terminou a reza as pessoas que ali estavam reunidas se retiraram ao poucos, havia também outras crianças que estavam por ali brincando enquanto as senhoras se dedicavam as orações.
 Todos tomaram seus caminhos de volta para casa enquanto algumas crianças ficaram naquelas imediações envolvidos com suas brincadeiras inocentes.  A pessoa encarregada de organizar estas reuniões entendeu que a igreja estava vazia tratou de fechar a porta principal sem saber que eu ainda permanecia dormindo nos fundos.
 Alguém ficou esquecido, eu que dormia e sonhava com os anjinhos, lugar apropriado; igreja.
 Nesta tarde que aos poucos estava escurecendo, os meninos que estavam por ali desistiam de seus brinquedos e retornavam para casa, mas minha mãe sentiu falta de mim, não sabia onde eu estaria e ai começou a preocupação, procuravam-me por todos os lugares e não me encontravam, a noite já começava fazer presença, as luzes das residências começavam a se acenderem e todos já estavam tentando me encontrar, a senhora que tomava conta da igreja afirmava que havia conferido tudo antes de fechar a porta, insistia que não havia possibilidades que estivesse ficado alguém lá, e a preocupação estava aumentando e passado alguns minutos a noite já era realidade e nada de me encontrar.
 O povo daquele lugar vivia sempre em alerta, pois diziam muitas crendices e superstições, falavam muito em sombrações, aparições de gente que já havia morrido, quando caia a noite todos ficavam tomados de medos devidos os causos que contavam das aparições de fantasmas que diziam que rondavam por ali.
Enquanto isso estava eu preso na igreja tentando me escapar, procurava por todos os lugares uma forma de me ver livre desta prisão, já era noite, eu estava apavorado e chamava muito pela minha mãe.
 Em meio a aquela agitação devido à procura incessante, alguns que me procuravam já haviam desistido, mas ainda ficou um grupo persistindo na aquela tarefa.
  Enquanto isto eu dentro da igreja já sobre a escuridão apavorado para sair da ali tentava pegar alguma coisa nas paredes, e passava a mão como tentando encontrar algo que me livrasse da ali, subia por cima de caixas tentava pegar em tudo buscando um recurso apavorado com muito temor por estar sozinho.
  Der repente o povo em que me procura ficaram em pavoroso, estavam sempre assustados com as histórias que contavam agora o medo aumentou ainda mais, quando o sino da igreja começou a tocar fortes badaladas neste começo de noite, os procuradores ficaram aterrorizados com isto, as badaladas não sessavam, ninguém estava com coragem de ir lá conferir a noite estava escura.
  Agora aconteceu outro fenômeno, as luzes da igreja se acenderam enquanto o sino continuava a tocar, todos diziam e questionavam o que poderia estar acontecendo nesta hora, seria fantasma?
  Minha mãe tomada por uma intuição, instinto materno, saiu correndo em direção da pequena capela, parecia que ela estava certa de alguma coisa, sem medo de nada e com muita determinação e certeza do que estava agindo, chegando à aquele grande salão de cultos e celebrações percebeu que algo se movia dentro deste recinto e com a curiosidade e certeza  foi logo observar pelas frestas da grande porta de madeira, com bastante perícia e atenção acabou constatando que ali estava o que eles procuravam por longas horas. Minha mãe gritava chamando a responsável pelo templo para que viesse logo para abrir,  que já havia me encontrado; eu estava lá chorando aos berros tentando me escapar desta prisão que teriam me esquecido por distração, no momento minha avó estava convicta que eu havia ficado com as crianças que brincavam por ali bem próximo nas sombras das árvores, mas na verdade estava eu me deliciando de um sono cheios de sonhos com meus anjinhos que os quais estavam estampados nas gravuras que o artista pintor havia trabalhado com seus pincéis mágicos, projetado nas paredes deste simples templo de oração.
 Não me recordo e ainda tenho minhas dúvidas se foi eu mesmo que acenderam as luzes da capela e acionou as badaladas incessante do grande sino, quem sabe poderia ser algo sobre natural, depois de tantas histórias que os narradores populares contavam e insistiam para que acreditássemos, teimando que já havia acontecido, e ai daquele que  duvidasse.

21 de junho de 2016 - Antonio Herrero Portilho.
Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 21/06/2016
Reeditado em 15/03/2019
Código do texto: T5674302
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