Viagem para praia

Lembro-me de minha primeira viagem. Meus pais estavam felizes. Eles, enfim, conseguiram um final de semana de folga. Meu avô arrumava a velha rural willis para a estrada. Meus avós, meus pais, eu e meu irmão caçula iríamos para a praia.

Ajeitei-me na janela. Estava ávido para ver tudo o que se passaria. Começamos a rodar pela cidade para pegarmos a autoestrada.

À medida que avançávamos, a beleza das casas e dos prédios ia se desvanecendo até que a paisagem da janela tornou-se um amontoado de casas de papelão e lixo e cobertas com telhas de zinco. A cidade em poucos minutos mostrava seus contrastes.

Já na autoestrada, da janela, vimos extensos campos verdejantes. São arrozeiros, dizia meu avô. São pessoas que alimentam pessoas. Se tudo der certo, se o clima for bom, se as pragas ficarem longe deles, em alguns meses, estaremos comendo o que eles produzem. Existem pessoas que têm esperança no futuro.

O cheiro de mar e o avistamento das primeiras dunas revelavam que já estávamos próximos de nosso destino. Da janela do carro, outra periferia se revelava, semelhante àquela da saída da cidade. São de pescadores, alguém disse. Eles acessavam o mar por um pequeno riacho que passava na vila deles. Por que pescadores moravam tão longe do mar?

Nunca esquecerei a primeira vez que vi o mar da janela da velha rural willis. Era lindo e majestoso. O luxo das casas na avenida Beira-Mar era impressionante. Meu pai disse que os moradores dessas casas, dificilmente, frequentavam a praia porque não queriam misturar-se com os demais. Então, por que eles tinham casas ali?

Da janela, vi os contrastes de nosso mundo. Pessoas que não vão à praia constroem suas casas à Beira-Mar. Pescadores que ficam longe do mar. Pessoas que moram no lixo. Mas, no sonho de menino, quero ser como os agricultores que colocam esperança no futuro, ainda que incerto.