Além das páginas

Era manhã de domingo e, como de costume, acordei mais cedo que meus familiares. Preparei uma xícara de café e peguei o livro mais próximo a mim. Coincidentemente, era um exemplar dos contos dos irmãos Grimm. Fiquei em êxtase, estava louca para mergulhar-me naquela leitura profunda e realista.

Confesso que ao passar página por página, fiquei em choque. Não acreditava que muitos dos contos que ouvira quando criança vinham de histórias tão macabras. Era inacreditável como a mente humana tinha a capacidade de alterar aqueles contos nada encantados e criar novos supreendentemente fantasiosos e deliciosos de se ler.

Parei por um instante e percebi que, assim como os antigos escritores que alteravam textos a seu favor, os extremistas religiosos, nada mais faziam, do que manipular as palavras. Ao olhar por esse angulo, vi também que se eu não tivesse ido atrás do conhecimento e das historias reais, nunca deixaria de acreditar naqueles contos de fadas.

O grande problema atual é que as pessoas vivem com conceitos pré-estabelecidos na cabeça, ao invés de irem atrás da real verdade e a partir daí, criar sua própria opinião. Assim como eu enxerguei por detrás das páginas, todos têm esse direito e esse poder.

O próprio Platão nos disse, há séculos, que todos vivemos em um mundo onde a ignorância reina, portanto não devemos ser mais uma dessas pessoas. A curiosidade deve instigar o ser humano e não ser oculta pela preguiça.

Já parou para pensar quantos seguidores extremistas desses grupos religiosos existiriam, caso todos lessem o real mandamento? A quantidade não chegaria sequer aos pés da atual. Isso nos mostra o quanto o ser humano não se preocupa em lutar por causas em que realmente acredita, mas por pegar alguma causa que escutou alguém comentar e levá-la como verdade absoluta.

Ouvi alguns passos se aproximando, logo sai de meu transe. Minha mente estava renovada, novas ideias, pensamentos e conclusões rondavam minha cabeça. Olhei para trás e percebi que minha mãe me observava, fui até ela e comecei a contar-lhe sobre minhas novas reflexões.