ARTIGO – Última viagem!
 

ARTIGO – Última viagem – 23.10.2012
 


          Pelo título acima fica quase claro que alguém tomara um susto. Todavia, essa foi mesmo a minha última viagem à cidade de Cuité, ocorrida no dia 12 do mês em curso, a fim de receber homenagem do povo amigo daquela terra, em face de haver prestado serviços como bancário do BB no início da década de 1970, época em que grande seca assolara a região, deixando-a ainda mais pobre. Não quero dizer que fui merecedor de tais manifestações, entretanto é impossível negar todo o sacrifício que fiz para atender àquela multidão de agropecuaristas em busca de socorro para sobreviver.
 
          Verdade que só saí daquela serra para assumir a gerência de Bacabal (MA) depois de resolver todos os casos, de dar cabo à última pendência, de sorte que parti com o sentimento do dever cumprido, quer de cidadão brasileiro, quer de um profissional sintonizado com o banco que fora criado para ser a mola propulsora do desenvolvimento do país, notadamente das regiões menos favorecidas.
 
          No meio dessa cortesia, queriam os amigos de lá (protagonizados pela grande cidadã cuiteense, senhora Ilca Costa e sua família), havia também a publicação de um cordel que fizera sem qualquer intenção de “aparecer” ou me destacar. Na verdade, foi uma composição poética de um iniciante, escrita com a mais pura verdade, intitulada “Cordel da saudade”, que fora dividido em quatro partes pelo grande poeta de Jaçanã (RN), senhor Flávio Dantas, todas com o título “A saudade de Cuité/Mora no meu coração”, que na verdade fora o mote por mim proposto, todas publicadas no Recanto das Letras.
 
          Essa viagem matou alguns coelhos de uma só cajadada. Revi os amigos, compareci ao aniversário do “poeta do povão”, assim conhecido o Flávio, ocorrido no dia 13.10.2012, que foi comemorado na “Casa do cordel”, entidade por ele criada em Jaçanã, cidade que fica a cinco minutos de Cuité, quando vi a apresentação de crianças já declamando suas poesias (e esse é o maior mérito do cordelista em tela, qual seja o de ensinar e divulgar essa modalidade de versos nas escolas da região); pude também ouvir a apresentação de diversos poetas e também de repentistas ainda novos, fatos que me encantaram sobremaneira, uma homenagem à cultura nordestina.
 
          No dia seguinte, sábado, ocorrera à solenidade. Os salões do Museu do Homem do Curimataú, antigo Cuité Clube, estavam repletos de pessoas que perdi de vista há quarenta e um anos, mas que ali foram para me honrar com suas presenças. Uma festa muito bem organizada pelo diretor da Casa, o doutor Israel, assistido de perto pelo gerente, Flávio Fonseca, de grande valor para a cultura regional.
 
          Confesso que estávamos um tanto nervosos – eu e minha mulher --, até porque tudo vinha sendo filmado. Pensava que teria de recitar o cordel (que por sinal fora distribuído gratuitamente aos presentes e ainda sobraram dezenas deles para entregar ao povo). Qual nada, ledo engano, o que eles queriam era que eu falasse de improviso e pudesse relembrar fatos de outrora, acontecimentos de nossa passagem por aquela terra querida. Não sou de fazer discursos, mas enfrentei o desafio, e penso que me saí a contento, dentro de minhas possibilidades. Tudo aquilo era puro sentimento para um caquinho de coração que ainda me resta.
 
          Havia, entretanto, outra missão a cumprir, qual seja a de agradecer ao Flávio Dantas, ora pela acolhida em sua casa, quer pela impressão do cordel (e também sua participação, pois ele produzira um volume extra, completando assim cinco exemplares). Entretanto, antes de ir à festa eu havia composto alguns versos a propósito do assunto, e esses vão abaixo transcritos com a permissão de meus leitores:
 
CORDEL – Agradecimento
 
Viagem a Cuité (PB) e Jaçanã (RN, de 12 a 14.10.2012).
(Declamado por mim no Museu do Homem do Curimataú – Cuité (PB)).
 
Na festa de Flávio Dantas
Não faltou nem anciã
Pessoas muitas e tantas
Nas terras de Jaçanã
Eita poeta porreta
Bondoso de coração
Sujeito bom na caneta
E na improvisação
 
Mais um ano se passou
Está com quase cinquenta
Toda moçada vibrou
Vai viver mais de noventa
Ensinando à criançada
Os mistérios do cordel
Vai ele nessa pisada
Nesse seu belo papel
 
Escritor bem conhecido
Por todo nosso Brasil
Seu nome está difundido
Com o seu belo perfil
A esse grande poeta
Meu aplauso com fervor
Por toda sua faceta
Brilha até no exterior
 
Mesmo sem me conhecer
Apoiou-me por demais
Homem de bem pra valer
Aumentando seu cartaz
Então quero agradecer
Mais uma grande amizade
Ao Deus esse grande Ser
O nosso Pai de bondade
 
Na mesa em que eu estava
Com Ilca e minha mulher
Cada qual que contemplava
Todos vindos de Cuité
Flávio Fonseca o primeiro
Júnior de Moca também
Israel um companheiro
Amigo como ninguém
 
Medeirão contabilista
Um grande compositor
Um verdadeiro artista
Seu cordel improvisou
Do Flávio seu irmão letrado
Um sujeito varonil
Meu colega aposentado
Lá do Banco do Brasil
 
Apresentou a festança
Com sua desenvoltura
Parecia uma criança
Uma bela criatura
Pratica toda humildade
Com sua esposa querida
Em toda e qualquer cidade
São um exemplo de vida
 
Mas eu não posso esquecer
Do Zé Francisco querido
Faço questão de dizer
Deveras compadecido
Filho de meu grande amigo
De muito grande quilate
Um artista da costura
Um exemplar alfaiate
 
Refiro-me ao Zé Badé
Um exemplo para o bem
Que me ajudou em Cuité
De saudade todos tem
Assim como um irmão
Que hoje tem seu cantinho
Deus levou seu coração
E dele ficou bem pertinho
 
Quero agradecer agora
A essa mulher de fibra
Pra ela não tinha hora
Tão forte tal qual libra
Companheira bem leal
Simples, bem enternecida
Que ao estimado Badé
Dedicou a sua vida
 
Vislumbro agora um nome
Já que a mesa está posta
Uma mulher de renome
Trata-se da Ilca Costa
Que nos trata com carinho
E nos hospeda também
Seu pai o grande Martinho
Amigo que nos convém.
 
 
Adeus Cuité. Grato por essa última viagem.

A foto é do senhor Martinho e minha esposa.

 
Ansilgus


24/10/2012 18:58 - Jacó Filho interagiu:
 
Emoções a flor da pele,
Por rever grandes amigos.
Você que plantou trigo,
Reparte pão se lhe pede...
Cuité que lhe reconhece,
O recebeu com carinho...
E sabe ter sido o ninho,
Que um bom homem merece...
 
 Parabéns! E que Deus nos abençoe e nos ilumine... Sempre...
Para o texto: ARTIGO - Última viagem! - 23.10.2012 (T3947844)
ansilgus
Enviado por ansilgus em 23/10/2012
Reeditado em 28/10/2012
Código do texto: T3947844
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