A Revolução dos Bichos, Lula, a Imprensa e o Povo

Escritor do século XX, George Orwell tratou de temas políticos vitais para sua época, mas que ainda mantêm expressiva atualidade. Uma das suas principais obras, A Revolução dos Bichos, é uma alegoria do Socialismo Real, em que bichos de uma fazenda revoltados com a tirania dos humanos lutam pela tomada do poder, sendo guiados pelos porcos.No fim da história os animais triunfam e se libertam da opressão humana, porém passam a ser explorados pelos suínos. O final da narrativa é de um simbolismo impressionante, com os líderes porcos se encontrando com seres humanos de outra fazenda, apresentando rostos com feições humanas.

Porém este grande livro de Orwell é uma obra por demais fecunda e certamente não perde sua importância com o fim do socialismo. Nos dias de hoje assistimos ao governo Lula, a divisão da esquerda que o apoiava, entre fiéis e dissidentes, a mídia beligerante, também divida entre pró e contra o lulismo e o restante da população, a qual, talvez impropriamente chamaremos de povo, aparentando distanciamento do cenário político brasileiro.

Serão o PT e os seus membros os nossos porcos? Pois se eles chegaram ao poder com a promessa de mudar a forma de governar e seguiram a mesma trilha do PSDB, com poucas diferenças. E a nossa esquerda que apostou em Lula? Com certeza, esta esquerda precisa de aprender esta lição de humildade e se dar conta que não é um homem e um partido no poder que vão solucionar os problemas complexos e seculares de nosso país, todos motivados por nossa terrível desigualdade social. E a imprensa? Será a nossa guardiã da ética? Podemos confiar neste jornalismo que aí está? Lamentalvemente também devemos responder negativamente a estas duas perguntas, uma vez que a imprensa usa da manipulação da informação para atender a interesses dos donos dos veículos de informação.

O experiente jornalista Paulo Henrique Amorim, em seu blog, aprecia usar a sigla PIG, que no contexto significa Partido da Imprensa Golpista, ou seja o conjunto de órgãos de jornalismo contrários ao governo de Luís Inácio.Certamente em veículos midiáticos poderosos, como Editora Abril, Organizações Globo,etc, encontramos uma forte e desonesta oposição a Lula, com toda sorte de manipulação de informações.Por outro lado será que não poderíamos falar de outro PIG, de tendência oposta, o Partido da Imprensa Governista, representado por Paulo Henrique Amorim, Carta Capital,Caros Amigos, entre outros jornalistas, revistas e endereços eletrônicos que defendem o governo Lula ,silenciando os seus equívocos, enaltecendo os seus acertos e atacando os seus adversários.

Certamente o leitor sabe que Pig é a palavra inglesa para porco e o inglês é o idioma do britânico Orwell e esta coincidência nos permite o atrevimento de estender a analogia de A Revolução dos Bichos para a nossa mídia, com os nossos porcos, tantos os golpistas, quanto os governistas querendo nos conduzir de forma a que possamos ser mais úteis aos seus interesses, isto é na posição de alienados consumistas, crentes em meias verdades.

Mas o que fazer em face desta realidade? Se o PT se alia ao PSDB nas eleições municipais de Belo Horizonte, permanecendo como inimigos no restante do país, que conclusão podemos tirar? Certamente não podemos esperar uma revolução pela via eleitoral, porque a eleição de um candidato é constituída de alianças , que fortalecem as candidaturas, mas deixam os detentores do poder na obrigação de servirem a interesses de pequenos grupos, negligenciando o bem da nação como um todo. Para governar o presidente operário se aliou ao PL, ao PMDB de José Sarney e apoiou a candidatura ao Senado de Newton Cardoso, entre outros lances do jogo político.

A situação é desesperadora, porém ainda existem aqueles que pensam em alternativas .Em sua edição de julho de 2008, a revista Caros Amigos, traz uma entrevista com o advogado Ricardo Gebrim, membro da Coodernação Nacional da Consulta Popular, órgão ligado ao MST. Na conversa com o jornalista José Arbex, o entrevistado discorre sobre a divisão da esquerda brasileira entre os desiludidos com Lula e os que ainda confiam em seu governo e sobre a necessidade de um rompimento com a “centralidade eleitoral”, ou seja a tentativa de transformação unicamente através do voto e que ao invés disto haja a mobilização e a conscientização das camadas populares através da vivência de projetos de interesse social e do contato com literatura marxista. Sem conhecer o trabalho da Consulta Popular (CP) não podemos julgar se os resultados obtidos ali são profícuos, porém é interessante que aproveitemos a idéia de que é necessário levar uma boa formação às massas, para que o povo não mais seja “bicho da fazenda” conduzido pelos porcos orwellianos, tanto os esquerdistas, quanto os direitistas.