MARIQUINHA - 10a.. PARTE

10ª. PARTE UM PEDIDO DE SEU JOÃO

Vou mandar servir café pra nós; agora há pouco que as mulheres desta casa se levantaram, sabe... Não pense que somos vadios, que levantamos tarde, é que, a patroa com as meninas passaram a noite na festa da padroeira e as danadas só voltaram de manhã. Só eu mesmo é que sou bobo e agüento tudo sem reclamar. _Não seu João, o senhor, não é bobo não, é a melhor pessoa que já conheci, respondi rápido.

Ele se tocou, sentiu o desmedido elogio e balançou nos pilares... Colocou a mão nas minhas costas e disse: _ Obrigado. É bom saber que ainda existem jovens inteligentes e bons como você, obrigado. Fez-se depois um longo silêncio desconcertante, rompido pela voz austera de seu João: Olha Tonho, deixe que eu lhe diga o que eu tenho a dizer. É o seguinte: A minha filha Mariquinha - Ao ouvir esse nome tremi inteiro –é uma menina ajuizada, trabalhadeira, toma conta da casa sozinha, nunca me deu trabalho, é uma das filhas que me torce como quer. Eu nunca disse isso a ela, mas não sei negar-lhe nenhum pedido que me faça. Há tempos ela vem me pedindo uma lebre do mato para tirar a pele. Quer pôr no seu quarto para pisar ao se levantar. Diz que traz sorte, riqueza. - bobagem de menina, mas eu quero dar isso pra ela custe o quanto custar.

Não se preocupe mais seu João, hoje à tarde eu lhe trarei uma lebre inteirinha. Lá em casa, hoje à tarde vou ao Varjão das cabras, lá existem lebres a dar com pau. _ Pois é, rapaz, os meus cachorros só correm os cabritos, onça ou paca e não há meio que eles encartem em outra caça. A lebre é um bichinho muito arisco e não consigo caçar nem uma delas. É isso que eu queria falar com você, e, por sorte minha, você me aparece assim de repente em minha casa.. Já me disseram que você fala de manhã e comprova à tarde, então pensei: vou falar com ele. Enquanto essa conversa ia a fundo, seu João esqueceu do café que me havia prometido e de tudo mais. _Eu continuava ali ouvindo, sorrindo, com a pele na sacola de caça, embaixo do braço sem poder interrompê-lo. Nisso, correndo, esbaforida, rápida, entra como um furacão sala adentro, quem? Mariquinha. Espanando móveis, arrastando cadeiras , fechando gavetas e cantando feliz da vida. Parece que não nos via ali. Seu João falou-me baixinho: Veja só, falávamos do pedido e ela entra. Não sei o que aconteceu na festa ontem, mas, desde que voltou nesta madrugada, está assim feliz. Se eu soubesse quem foi o responsável daria um prêmio.