O verdadeiro início do surf paulista

Senhores da Revista Trip: a história do surf paulista divulgada por esta publicação não corresponde a verdade.

O PRINCÍPIO DE TUDO: Tudo começou quando eu, Paulo Miorim,

o Sérgio Heleno de Oliveira e o Antonio Di Renzo importamos a idéia de copiar o que a molecada do Rio praticava: um esporte chamado surf. Vivíamos correndo onda de peito e, ao tomar contato com aquela maravilha de ficar em pé em uma onda, alucinamos. Nosso amigo Gregório Stipanich, que Deus o tenha, era dono de um estaleiro que fabricava barcos de pesca, topou construir uma prancha de madeira, ôca, com 2,40m de comprimento, pesando mais de 20kg. Era cinza com um raio vermelho no centro. Fomos estrear essa maravilha na praia de Pernambuco, Guarujá, em três carros com todo a galera de nadadores do Clube Internacional de Regatas ( de Santos).Era um dia nublado, frio e chuvoso. Ninguém conseguiu ficar em pé: não sabíamos da necessidade de passar parafina. Foi na praia do Itararé em São Vicente que conseguimos nossas primeiras manobras, usando como parafina as velas usadas nos despachos de umbanda. A partir daí começamos a ter seguidores, alguns garotos já pegavam onda de madeirit, que eram pranchas fabricadas com placas de madeira compensada ( muitas “emprestadas” das obras dos edifícios). Foi um verdadeiro delírio, pois despertamos interesse de muitos jovens que freqüentavam Itararé. Eu, Sérgio Heleno, Antônio Di Renzo, Carlos Detter, Gregório, só conversávamos de um assunto: surf. Não havia informação nenhuma sobre esse esporte. Fomos descobrindo que era praticados pelos antigo reis havaianos ( fiz uma pesquisa na antiga Enciclopédia Barsa), que Duke Kahamanoku (??) havia trazido para os Estados unidos, e hang five, hang teen, paneleiro, era só isso que sabíamos. Assistimos embasbacados “Mar Raivoso” umas vinte vezes, e em cada uma tínhamos um novo comentário. Apareceu: Fernandão (uma vez raspamos a barba dele em plena praia), Fernando Quizumba, os Gêmeos Argento ( que depois abriram a marca TWIN), Dudu, Italiano, Timó, Eliseu ( bem mais velho, arquiteto formado), Sandoval, Nei Sobral, Nei Negão, Nelson Carioca ( o Carica), e um bando de amantes da nova arte. Essa foi a parte primitiva da estória.

GLASPAC: Nessa altura, já sabíamos de que as pranchas boas eram fabricadas com mantas de fibra de vidro e recheio de poliuretano. Descobrimos uma fábrica de peças em fibra de vidro chamada Glaspac. Naquela ápoca ficava na Avenida Santo Amaro, São Paulo. Um primo do Sérgio Heleno e tinha uma garagem de barcos. Num desses barcos, o proprietário guardava uma prancha de surf da marca TIKI, havaiana, que ele usava para brincar em seus passeios de barco. Fomos à Glaspac e negociamos o fornecimento do molde em troca de três pranchas de fibra de vidro. Pegamos escondido a prancha TIKI numa segunda feira e entregamos na Glaspac, com o compromisso de pegá-la na quinta feira, pois o dono não podia imaginar essa operação. Acabou dando tudo certo, pegamos três pranchas lindas uns dias depois. Só que eram ôcas, só tinham uma longarina como estrutura. Nova negociação e a Glaspac fabricou três pranchas injetadas com poliuretano no molde que havíamos fornecido. E começou a comercialização das pranchas, que marcaram época. Ninguém deu “shape” nenhum, pois as pranchas eram fabricadas por injeção no molde tirado da prancha TIKI.

Até o campeonato de 1965 ou 66, ocorreram muitas estórias. O Osmany, nosso amigo, patrocinou o evento que realmente contou com a colaboração de muita gente, Eduardo inclusive. Sua participação foi importante, mas não foi o grande protagonista do início do surf paulista. Já havíamos realizado na praia do Itararé dois ou três campeonatos, sendo um com a presença do Mudinho e outros cariocas.