“O Clube do Imperador”

Emperor’s club. Direção de Michael Hoffman. Gênero: Drama. Ano 2002

O filme “O Clube do Imperador” se passa em uma escola interna para rapazes, o colégio St. Benedicti’s que tem a tradição de receber apenas alunos selecionados entre a mais alta sociedade americana, que tenham potencial de se tornarem grandes homens. Conhecido por seu ensino tradicional e seus preceitos bastante ortodoxos, o colégio atrai filhos de homens importantes entre industriais e políticos de todos os lugares do país.

O professor Willian Hundert (Kevin Kline) leciona antiguidade clássica no referido colégio, e é conhecido e respeitado tanto por seus métodos ortodoxos de lecionar quanto por sua paixão pela sua matéria, em especial o estudo de filósofos e de grandes imperadores gregos e romanos, sendo um dos (senão o principal) baluartes do colégio onde leciona.

O Clube do Imperador, é o nome com o qual o professor batiza sua classe em suas aulas sobre os imperadores romanos e suas filosofias, em sua paixão pela história o professor faz os alunos usarem uma Toga _veste tradicional de cidadãos romanos da antiguidade, era vetado a estrangeiros usarem tal peça de maneira que seu uso era um marco de distinção dentro da sociedade romana_ em suas aulas, e nas mesmas promove regularmente representações em forma de teatro, ou jogos de perguntas e respostas sobre grandes feitos de homens ilustres da antiguidade.

O principal desdobramento de suas aulas é o concurso “Júlio César”, promovido anualmente entre seus alunos, onde, os mesmos são examinados e classificados com testes na sala de aula, de onde saem três finalistas para participarem da grande final, que acontece em plenário no colégio, perante um público composto de todo o corpo docente, discente do colégio, bem como dos pais dos alunos.

O concurso torna-se tradicional no colégio, e seus vencedores conquistam o título de “Júlio César”, sendo bastante considerados pelos colegas e professores depois da conquista de tal título, sua foto é colocada em um mural, juntamente com vencedores anteriores, o que confere uma grande honra ao vencedor de tal título.

A ordem e a paz, nas aulas do professor Hundert ficam perturbadas com a chegada do aluno Sedgewick Bell (Emili Hirsch), filho de um senador influente dos Estados unidos, o rapaz desafia suas aulas e seus métodos, sendo completamente indisciplinado. Tentando aproximar-se do aluno, todavia, o professor propõe-se a ir ter com o senador. Entrevista esta que se mostra um fiasco, uma vez que, a ética e a moral, enfim todo o código de conduta no qual o professor acredita e tenta passar a seus alunos através de suas aulas sobre grandes filósofos, entram em questão com o caráter e a conduta do senador.

Acreditando em Sedgewick Bell, no entanto, o professor passa a investir, no sentido de incentivá-lo a cultivar sua inteligência, no filho do senador, emprestando-lhe seu próprio livro e, chegando mesmo, a rever sua nota na semifinal do concurso “Júlio César” daquele ano, colocando-o assim na final do referido concurso.

Logrado, o professor descobre trapaça de seu discípulo na final do concurso e, usando de sua própria audácia _visto que sobre a trapaça nada poderá fazer, pela condição de cumplicidade social entre a escola e o senador_ o professor cria uma situação favorável ao aluno honesto, para que este possa vencer o concurso pelos seus próprios conhecimentos.

A crise em que entra o professor, por pensar ter falhado na formação de caráter de um de seus discípulos, encontra seu ápice em dois momentos chaves do filme: o primeiro é quando ele é preterido pelo conselho do colégio de assumir a direção em favor de um professor bem mais jovem e menos experiente que ele, cujo principal atributo é ser bem relacionado com a alta sociedade industrial americana, e poder assim arrecadar bons fundos para o colégio. O segundo é quando Sedgewick Bell, 25 anos após ter saído de St. Benedicti’s, e já como um industrial bem sucedido, propõe uma revanche do concurso “Júlio César” com os mesmo colegas e o professor como mediador onde, promete, conquistará o título perdido na época do colégio. Pego novamente em trapaça, o ex-aluno desdenha do mestre e dissimula perante os colegas, diante dos quais anuncia sua pretensão de entrar na política americana.

O sentimento de frustração que toma o professor pela desonestidade de seu discípulo fica compensado ao final do filme com a homenagem que seus outros alunos lhe fazem, valorizando todos os preceitos que lhe foram ensinados pelo mestre, e ensinado-lhe que falhar com um aluno não significa falhar com todos.

Michael Hoffman Estudou na Boise State University, e mais tarde em OXFORD na Inglaterra, onde escreveu e dirigiu seu primeiro filme. “O Clube do Imperador” é o segundo filme no qual trabalha ao lado do ator Kevin Kline.

O Clube do Imperador mostra, paralelamente ao enredo do filme, uma característica formalista de algumas escolas tradicionais americanas, onde o formalismo e idealismo são as principais maneiras de educar.

Embora tenha um aproximação estilística com o filme “A Sociedade dos Poetas Mortos” (Peter Weir), o conteúdo deste filme não se assemelha muito àquele, a não ser talvez na paixão pela arte, abordado nos dois filmes.

O filme de Peter Weir faz uma abordagem pela ótica da transgressão, onde a pressão de uma sociedade extremamente eficaz do ponto de vista capitalista acaba por minar o espírito da sociedade, personalizada no artista que se suicida, após não conseguir, nem pela transgressão das regras impostas por seus pais, representar sua alma através de sua arte.

O Clube o Imperador por sua vez, aborda o idealismo como sendo essencial para a formação de caráter em seus alunos e, conseqüentemente, na formação de cidadãos. A formação de “bons cidadãos” passa necessariamente, pela ótica do filme, por uma formação rígida e estruturalista.

Nos dois filmes, no entanto, a formação de um cidadão passa necessariamente pela formação de seu espírito, formação feita através da arte e do estudo da história e da filosofia, e não apenas através das matérias pragmáticas, aquelas preconizadas como essenciais para o capitalismo, onde a utilidade prática inutiliza a arte e a história, perdendo assim a humanização na formação do indivíduo, não apenas como mão de obra ou como empreendedor, mas como “ser” sensível, capaz de ter sentimentos e emoções no que diz respeito ao próximo, e essa sensibilidade pode-nos ser proporcionada através do contacto com grandes obras clássicas e com a história, que nos mostra como outros seres humanos já agiram (ou deveriam ter agido) antes de nós e cria uma identidade entre o humano e sua criação, no caso a escrita da história e a arte. Identidade que se faz necessária não apenas para formação da compaixão pelos semelhantes, mas também para ensinar a viver de acordo com os preceitos todos como de “retidão”, que, nos mostra o filme, seria essencial para uma vida justa.

Filme resenhado por Wanderson Fernandes- wandersonviol@hotmail.com- Músico e acadêmico do curso de Letras Habilitação em Português/ Inglês na UEMS- Unidade Universitária de Campo Grande

Professor Wanderson
Enviado por Professor Wanderson em 28/11/2011
Reeditado em 28/11/2011
Código do texto: T3361448
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