La Amistad - Resenha educacional

Resenha educacional do filme Amistad

A história remonta ao ano de 1839 e é baseada em fatos verídicos que ocorreram a bordo do navio negreiro espanhol La Amistad matam a maior parte da tripulação e obrigam os sobreviventes a leva-los de volta à África.Enganados, desembarcam na costa leste dos Estados Unidos, onde, acusados de assassinato, são presos, iniciando um longo e polêmico processo, num período onde as divergências internas do país entre o norte abolicionista e o sul escravista, caracterizavam o prenúncio da Guerra de Secessão. Neste filme, é relatada a luta de um grupo de escravos africanos em território americano, desde a sua revolta até ao seu julgamento.

Por meio desta trama de forte teor emocional, é possível conhecer as condições de captura e transporte de escravos africanos para os trabalhos na América do Norte, a máquina jurídica americana de meados do século XIX e o germe das primeiras medidas para a abolição da escravatura naquele território.

O filme mostra o processo de julgamento de negros nos Estados Unidos, 22 anos antes do início da Guerra Civil, numa conjuntura marcada pelo expansionismo em direção ao Oeste e pelo acirramento das divergências do norte protecionista, industrial e abolicionista, com o sul livre-cambista, agro-exportador e escravista.

Na passagem do século XVIII para o XIX, os Estados Unidos recém-independentes formavam uma pequena nação, que se estendia entre a costa do Atlântico e o Mississipi. Após a independência, o expansionismo para o Oeste foi explicado pelo princípio do "Destino Manifesto", que defendia serem os colonos norte-americanos predestinados por Deus a conquistar os territórios situados entre os oceanos Atlântico e Pacífico. A crescente densidade demográfica, a construção de uma vasta rede ferroviária iniciada em 1829 e a descoberta de ouro na Califórnia em 1848, também representaram um estímulo à mais para conquista do Oeste.

A ação diplomática dos Estados Unidos foi assinalada por um grande êxito nas primeiras décadas do século XIX, quando através de negociações bem sucedidas os Estados Unidos adquirem os territórios da Lousiana (França), Flórida (Espanha), além do Oregon (Inglaterra) e até o Alasca da Rússia, após a Guerra de Secessão.

Em 1845, colonos norte-americanos proclamaram a independência do Texas em relação ao México, iniciando-se a Guerra do México (1845-48), na qual a ex-colônia espanhola perdia definitivamente o Texas, além dos territórios do Novo México, Califórnia, Utah, Arizona, Nevada e parte do Colorado. Destaca-se ainda a inclusão de terras indígenas, através de um verdadeiro genocídio físico e cultural dos nativos.

O intenso crescimento do país, seguido de uma grande corrente de imigrantes europeus atraídos pela facilidade de adquirir terras, torna ainda mais evidente, a incompatibilidade entre o norte e o sul. No norte, o capital acumulado durante o período colonial, criou condições favoráveis para o desenvolvimento industrial cuja mão-de-obra e o mercado encontravam-se no trabalho assalariado. A abundância de energia hidráulica, as riquezas minerais e a facilidade dos transportes contribuíram e muito para o progresso da região, que defendia uma política econômica protecionista. Já o sul, de clima seco e quente permaneceu estagnado com uma economia agro-exportadora de algodão e tabaco baseada no latifúndio escravista. Industrialmente dependente, o sul era defensor do livre-cambismo, mais um contraponto com o norte protecionista.

Essa desarmonia torna-se praticamente irreversível com a eleição do abolicionista Abraham Lincoln em 1860, resultando no separatismo sulista, iniciando-se assim em 1861 a maior guerra civil do século XIX, a Guerra de Secessão, também conhecida como "Guerra Civil dos Estados Unidos", que se estendeu até 1865 deixando um saldo de 600 mil mortos.

Grandes sucessos se unem de forma comum ao nome de Steven Spielberg, Algumas das maiores bilheterias da história do cinema foram dirigidas ou produzidas por ele, depois de conquistar o coração do grande público com filmes que combinaram ação, suspense, magia e uma grande dose de efeitos especiais, Spielberg passou a se dedicar a uma conquista mais penosa, a dos críticos de cinema. Várias críticas lhe foram dirigidas por produzir essencialmente filmes que reuniam crianças, adolescentes e jovens, em massa, levando-os aos cinemas de todo o mundo. Faltava-lhe uma produção mais séria, mais profunda. Então surgem no currículo de Spielberg produções maduras e de qualidade indiscutível, como"A Cor Púrpura", "O Império do Sol" e o reconhecimento com "A Lista de Schindler". "Amistad" acompanha o caminho dessa nova fase de Spielberg. Amistad não alcançou o sucesso esperado pela produtora, nem conquistou os prêmios que se julgava pudesse obter, mas tem importância e mérito indiscutíveis, entre os quais, o principal, colocar a escravidão no foco das discussões.

Como mencionado anteriormente tudo se inicia com uma turbulenta jornada marítima numa embarcação que é identificada como "La Amistad". Trata-se de um navio negreiro que sofre um enorme revés ao ver os prisioneiros se rebelarem e trucidarem grande parte da tripulação. Desconhecendo os caminhos marítimos pelos quais conseguiriam voltar para casa, os líderes da rebelião mantém dois prisioneiros que devem levá-los de volta a África. São traídos e aportam na América do Norte.

Os sobreviventes da tripulação disputam a posse da "mercadoria" humana transportada no La Amistad, são contestados pela rainha da Espanha, que também quer se apoderar do conteúdo da embarcação (com base no fato de que o navio era de bandeira espanhola); além deles, também os oficiais norte-americanos que apreenderam o barco e controlaram o motim desejam a posse dos cativos para vendê-los.

Contra eles se levantam abnegados defensores da liberdade humana, lutando contra a espoliação e a exploração características da escravidão. Capitaneados por Theodore Joadson (Morgan Freeman) e defendidos no tribunal pelo jovem e impetuoso advogado Roger Baldwin (Matthew McConaughey), os escravos liderados por Cinqué (Djimou Hounsou, que também aparece com destaque no filme "Gladiador") desafiam as leis e impingem um recomeço para a história republicana norte-americana. Contam, para isso, com o auxílio inestimável do ex-presidente John Quincy Addams (Anthony Hopkins).

A escravidão, verdadeira chaga da história da humanidade, continua a existir ainda nos dias de hoje. Todos os anos são publicados artigos nos principais jornais do Brasil alertando para ações da polícia federal ou de ONGs que lutam contra a continuidade desse mal ainda utilizado em grandes latifúndios produtores. Uma das alternativas de trabalho que pode ser sugerida a professores para o tema escravidão seria a de examinar denúncias, fazer levantamentos de artigos de jornais ou revistas a respeito do assunto, comparar os dados da escravidão hoje com os do filme e da bibliografia especializada sobre o tema, uma outra alternativa seria a de conferir descrições e imagens feitas na época em que a escravidão estava em vigor nas Américas com as cenas do filme. Vale a pena também, pedir que os alunos analisem os códigos legais (da Declaração dos Direitos Humanos aos códigos nacionais, como a Constituição e o Código Civil) e que busquem indicadores econômicos e sociais para verificar a condição de vida de brancos e negros no Brasil atual. Comparem o que está previsto nas leis com o que acontece no cotidiano.