Capitão América 2 - O Soldado Invernal (Análise e Crítica)

Terceiro título da intitulada Fase 2 da Marvel no cinema, o segundo capítulo solo do personagem eleva os seus filmes a um novo patamar, desta vez para uma vertente mais adulta [ou menos infantil, se preferir]. Baseado na brilhante estória roteirizada por Ed Brubaker e desenhada por Steve Epting, concentra-se no encontro depois de 70 anos entre Steve Rogers/Capitão América (Chris Evans) e Bucky Barnes/Soldado Invernal (Sebastian Stan), que, vítima de lavagem cerebral, se transforma em um assassino frio e calculista pelos asseclas da antiga União Soviética [e por isso o nome de Soldado Invernal].

Apesar de não tentar adaptar literalmente a narrativa construída pelos dois autores originais, os praticamente responsáveis pela ressurreição do Capitão América nos quadrinhos, não há como os fãs mais assíduos e nem o público em geral saírem decepcionados das salas de cinema. Isso acontece porque os conceitos (premissa, sentimentos, atitudes...) foram mantidos e desenvolvidos de forma muito competente em uma trama bastante coerente e atual.

Afinal, com todos esses escândalos de espionagem bombeando na imprensa, a total sensação de que a cada segundo estamos sendo observados e o sentimento de insegurança oriundo disso, o longa é mais do que um filme de super-heróis e se torna, em certos aspectos, até um filme quase político. Se não chega a isso, aproxima-se muito da realidade por tocar em questões tão contemporâneas, que geralmente são absorvidas, nesse gênero, por raios, socos e voos mirabolantes.

Mas é claro que, também, a fantasia nós é lembrada sempre que a narrativa parecia conduzir o filme a um certo marasmo. E esse dinamismo equilibrado ficou nas talentosas mãos dos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, que de fato fizeram um trabalho admirável. Antes de o público pensar “Vem cá, é um filme da Marvel mesmo?”, uma típica cena de ação era apresentada com todos aqueles ingredientes que nos fazem pular da cadeira e vibrar: câmeras nervosas, rápidas cortadas, ângulos abertos, coreografias pulsantes e muita destruição. Para depois, uma sequência de bons diálogos e um clima noir tomarem conta da película. E assim outras e outras vezes, dando ao espectador muito mais do que aquilo que ele pensou encontrar em um filme do tipo.

Aliada a isso, a direção dos irmãos Anthony e Joe Russo conduz o público a conhecer o homem por trás do escudo, através de uma sensibilidade nem sempre vista em produções do gênero. A cena em que Rogers visita seu grande amor nos tempos da Segunda Guerra, Peggy Carter (Hayley Atwell) agora com mais de 90 anos e sofrendo de Alzheimer, é realmente emocionante. Assim como o embate final entre os dois outrora amigos, quando o Capitão decide morrer a luta com seu ex-parceiro de guerra.

Outros elementos técnicos (como a excelente fotografia e a lindíssima trilha sonora) e os flashbacks colaboram com esses importantes momentos, além de eles, dentro de um universo coeso em constante construção, fazerem pontes entre esta produção e o ótimo “Capitão América – O Primeiro Vingador” (2011).

Os Russos também conseguem arrancar dos atores interpretações dignas e personagens bem desenvolvidos. Das suas três participações até agora, certamente é nesta que Evans está mais à vontade na pele do herói, cujos traços de personalidade muito se assemelham com os da estória de Brubaker e Epting. Como era de se esperar, a Viúva Negra de Scarlett Johansson, igualmente aos quadrinhos, se aproxima mais de Rogers e a dupla divide bons momentos, alguns até engraçados, no filme [embora eu ache a química entre a atriz e Robert Downey Jr. mais natural].

Quanto aos novos elementos: a organização terrorista HIDRA, que rivaliza com a SHIELD, está cada vez mais saindo das sombras e deixando claro seu plano de domínio do planeta [Típico!]; e personagens como Sharon Carter (Emily Van Camp) e o Falcão (Anthony Mackie) ainda prometem bastante. Uma curiosidade: apesar de os irmãos serem mais conhecidos por trabalhos de comédia, o elemento “humor” ficou aquém. É verdade que condiz com a atmosfera proposta, mas diálogos e metáforas inteligentes fizeram certa falta.

E, por fim, o público leitor fiel aos quadrinhos foi presenteado com diversas referências à nona arte, inclusive a fases recentes: o uniforme de combate e a aparência de Chris Evans são a materialização da passagem do herói no comando dos Vingadores Secretos, braço da SHIELD que lida com investigações e espionagem. Tudo a ver, né? Falcão, outro exemplo, é a versão do personagem da linha Ultimate (que, por ser adaptada em outro contexto, possui tramas mais reais e violentas). Ossos Cruzados (Frank Grillo), Arnim Zola (Toby Jones) e Alexander Pierce (Robert Redford) também são outras figurinhas carimbadas da galera.

Depois de começar tropeçando com o polêmico “Homem de Ferro 3” e o bom mas nem tanto “Thor 2 – O Mundo Sombrio”, com “Capitão América 2” a Marvel se “desculpa” com seu público por qualquer erro que possa ter cometido e lhe oferece um entretenimento com muita qualidade e que certamente leva os filmes outrora tão desprestigiados de super-heróis a novas possibilidades. O sucesso de crítica e de público já é tanto, que “Capitão América 3” está mais que confirmado para 2016.

Nota: 9,5.

[Assista às cenas pós-créditos. Bem, seguindo a lógica dos quadrinhos, tudo indica (Feiticeira Escarlate, Mercúrio, Bucky querendo vingança) que esse universo está caminhando para a catarse Guerra Civil. SERÁ???]

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 12/04/2014
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