Eu matei minha mãe

O filme "Eu Matei Minha Mãe" de Xavier Dolan seria um texto predecessor de "Mommy". Com elementos reincidentes, o jovem cineasta reinscreve a história nesse último com uma notável distinção: apesar da convergência de roteiros há um abismo estético entre os dois. Peço desculpas pela minha disfunção crônica pois primeiro vi "Mommy" e depois "Eu Matei Minha Mãe". Esse último reflete o que o autor chama de obra semi-autobiográfica. Nessa ele retrata o dia a dia com sua mãe Chantale (Anne Dorval) e uma série de problemas vinculados a relação mãe-filho durante a adolescência.

O miolo que conduz o enredo do filme não tematiza como central a homossexualidade, apesar dessa ser um elemento secundário na trama. O que é centralizado são os conflitos de relacionamento em torno da sua relação com a mãe. Para mim um dos pontos altos do filme se localiza nos limites do seu desfecho quando a mãe rebate críticas do diretor do colégio interno que insinua que o jovem Hubert (Xavier Dolan) fugiu por conta da irresponsabilidade da mãe e da situação monoparental dele. Ela, por sua vez, revida (com uma atuação extremamente forte e impactante) com um contra-discurso eximiamente articulado. Questionar e evidenciar os paradigmas que supra-responsabilizam as mães por seus filhos é o ponto nodal que figura a relevância da estória.

Seu outro filme "Mommy" vai tocar em pontos similares, porém com ênfase na questão do amor materno, enquanto "Eu Matei Minha Mãe" concentra-se nos problemas de convivência entre um filho adolescente e sua mãe. O traço característico das obras de Dolan residem na sua incansável capacidade de abrir um fluxo contínuo de intensidade e sentimentos que borram qualquer possibilidade de estabelecer limites definidos como os de "início, meio e fim". A obra de Dolan é relevante por simbolizar uma estética peculiar que quebra muitos paradigmas de forma extremamente impactante e inovadora. Esse artista não poderia deixar de levar o título de genial.