Resenha Ilha das Flores: "O que há em comum entre tomates, porcos e seres humanos?"

"Liberdade é uma palavra que o

sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda." Cecilia Meirelles

Ilha das Flores é um curta-metragem dirigido e escrito por Jorge Furtado com a duração aproximada de 13 minutos. O curta trata da desigualdade, escravidão e, principalmente, da desumanidade com que seres humanos são obrigados a enfrentar, graças ao sistema capitalista que vivemos. O filme acompanha a colheita, compra e descarte de um tomate, que vai parar na ilha das flores, uma pequena porção de terra cercada por água por todos os lados localizado a alguns quilômetros da capital Porto Alegre, junto com outros alimentos e lixos que foram descartados por milhares de pessoas na cidade. Os alimentos são, a principio, destinados aos porcos do dono do terreno em questão e, no entanto, servem também para a alimentação de moradores próximos ao lixão. Essa é a parte chocante da história, o lixo que originalmente é destinado aos porcos, é a fonte de alimento para os moradores da Ilha das Flores.

Sobre este ponto, vale ressaltar, a importância de um Plano Diretor. Um Plano Diretor Municipal (PDM), como referido, é um plano, uma estratégia, de ordenamento do território estabelecido, ou seja, Um Plano Diretor de Porto Alegre é um ordenamento do território pertencente ao município de Porto Alegre. Este ordenamento refere-se ao uso e redistribuição dos espaços do território através da definição de classes e categorias relativas ao mesmo, a identificação das redes urbanas, viárias, e transportes e, também, do uso de equipamentos de captação, telecomunicações, e o tratamento e abastecimento de água, entre outros serviços que uma prefeitura tem que oferecer a sua população.

O que há em comum entre tomates, porcos e seres humanos? É o que se pergunta na associação entre a Ilha das Flores e a falta de um Plano Diretor Municipal. A resposta é que todos fazem parte de um processo capitalista desigual que não respeita o equilíbrio ecológico e humano da natureza. Percebemos, ao longo do filme, que o surgimento do dinheiro, o rompimento do sistema de troca direta, possibilitou o desenvolvimento da humanidade, bem como, agravou ainda mais a desigualdade entre os homens.

Para equilibrar essa desigualdade, o homem inventa e administra o Plano Diretor. Mas, e quando esse Plano Diretor falha? Quando não há um diagnóstico da realidade física, social e econômica do município e de sua região, este Plano Diretor pode falhar. Se a sociedade, que faz parte daquele espaço, não se comprometa a apresentar um conjunto de propostas realizáveis para o futuro desenvolvimento socioeconômico e futura organização espacial de toda a infraestrutura que compõe o seu município, o Plano não irá funcionar, e as melhorias para a região serão fadadas ao fracasso, como no caso da Ilha das Flores. A participação da comunidade e a colaboração da prefeitura é a essência do Plano Diretor que aliados a um bom planejamento, visando a prosperidade da comunidade, hão de garantir o desenvolvimento da mesma e proporcionar um maior equilíbrio nesse mundo desigual.

Pode-se perguntar, também, se devido a essa colaboração entre a comunidade e a prefeitura, o Plano Diretor pode promover melhorias quanto ao crescimento, desenvolvimento e questões ambientais e sociais? A resposta é sim. O Plano Diretor quando bem elaborado e diagnosticado trás bons resultados para uma cidade. Mas, deve-se ficar atento, ao planejamento, pois não é tão fácil de ser definido. O plano deve expor os seus objetivos para o desenvolvimento urbano. Ao desejar melhorias para um espaço, deve-se primeiramente planejar e refletir: “O que eu quero?” ou “O que nós queremos?, “ O que estamos propondo é a real necessidade desta comunidade?”. As propostas necessitam ser discutidas democraticamente entre a população e a prefeitura.

Assim, nossas considerações sobre o filme recaem na importância de um Plano Diretor, de um bom Plano Diretor, pois é o único caminho para a modernidade de uma sociedade. Explico. Para todo e qualquer organização não existe uma solução absoluta. Tudo pode contribuir para o desenvolvimento e gestão de uma cidade. Mas todas elas devem ser bem organizadas e planejadas. A nomeação, denominação é o último recurso e sua prática a primeira. A modernidade deve caminhar simultaneamente com um bom planejamento urbano.

E essa modernidade tem que trazer e proporcionar a liberdade. A liberdade que, como encerra o filme da Ilha Das Flores e poetiza Cecilia Meirelles: “é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda."

Cricka
Enviado por Cricka em 04/01/2015
Reeditado em 04/01/2015
Código do texto: T5090641
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