Filme: Si Puo Fare

Informações Técnicas: Título: SI PUO FARE. Direção: Giulio Manfredonia. Elenco: Claudio Bisio, Anita Caprioli, Giuseppe Battiston , Giorgio Colangeli, Andrea Bosca, Giovanni Calcagno, Michele De Virgilio. Roteiro: Fabio Bonifacci, Giulio Manfredonia. Gênero: Comédia/Drama. Origem: Itália. Duração: 107 minutos. Tipo: Longa-metragem.

Em resumo, o filme Si Puo Fare (dá para fazer) é baseado em várias histórias reais, incluindo a de uma cooperativa que se chamava “Noncello” que produzia parquets e onde os diretores diziam aos seus sócios; “dá para fazer”. O filme conta a história de um sindicalista de esquerda chamado Nello que, afastado de vários empregos por causa de seu comportamento anti-imperialista, é convidado a trabalhar em uma cooperativa com doentes mentais que eram pacientes de um manicômio fechado pela Lei Basaglia.

Essa lei tem o seu nome referente ao psiquiatra italiano Franco Basaglia que, na década de sessenta, iniciou uma luta anti-manicomial, fechando vários manicômios. O filme também retrata o começo e o fortalecimento das cooperativas e começa exatamente com o seu protagonista sendo demitido do sindicato e sendo indicado a trabalhar na cooperativa 180 (em homenagem a lei) como diretor.

Ao chegar lá, é recepcionado pelo então presidente da cooperativa Dr. Del Vecchio, um renomeado psiquiatra que o alerta “esse pessoal tem o inferno dentro de si”. É interessante notar que já neste início verifica-se que os pacientes, apesar do inferno dentre si, encontram-se sonolentos, inaptos e sem jeito para realizarem seus trabalhos, com a chegada de Nello, esse fator muda. Na verdade, tudo muda. As duas principais mudanças são, em ordem: convencer os sócios (os pacientes) a substituírem as esmolas assistencialistas (que recebiam do governo) por um trabalho de verdade, e diminuírem a dosagem dos remédios.

Essa substituição é o pontapé inicial para que um serie de transformações aconteça na cooperativa. E também o primeiro sinal de como gerir pessoas no terceiro setor. Motivo este é simples, para convencer os sócios, Nello propõe uma assembleia, onde por meio da qual, apresenta as vantagens e desvantagens de receber um salário, um pagamento feito por um trabalho. Durante essa assembleia, os pacientes começam a participar votando. Em determinado momento ele explica que agora os sócios ganharam dinheiro, e um dos pacientes pergunta: “mas quem são os sócios?”, Nello responde: “Vocês”. Isso é um sinal de confiança, um sinal de como de trata-los por iguais, e principalmente, como incentivá-los a mudar.

Segundo PRIOSTE (2013) A gestão de pessoas envolve aspectos subjetivos e até mesmo inconscientes, portanto é importante considerar os elementos sutis envolvidos nesse processo. Muito disso pode ser encontrado nas ações de Nello. Tome, por exemplo, o momento onde um paciente o nocauteia. Ao invés de denunciá-lo - algo que a maioria de nós faria - ele opta por conversar, um diálogo, respeitando a condição do sócio e diretor. “eu cresci em uma fábrica, e lá esses problemas são solucionados entre os responsáveis”, diz Nello ao doutor, poupando de ouvir o nome do responsável que bateu nele. Por não dedurar, Nello consegue o respeito do referido paciente, conquistando assim, uma mediação que prolonga-se a todo momento durante o filme.

Outros momentos importantes vêm dessa parte de respeitar a condição do paciente, buscando com isso, não apenas soluções para seus problemas, mas aptidões para suas virtudes. Tome por exemplo, a cena onde Nello os reúne para uma assembleia, a fim de propor qual o segmento de trabalho que a cooperativa pode fazer. Nessa cena, um paciente levanta a mão e diz algo que, para nós, é considerado absurdo e tolo. Esse paciente é ridicularizado por outro e Nello diz "SI PUO FARE", traduzindo: DÁ PARA FAZER. Essa é a base com que o diretor e protagonista há de operar e gerir o seu grupo, não excluindo nenhuma ideia, apenas dando a opção de que é possível realiza-la desde que todos entrem em acordo, desde que haja não apenas dedicação, mas também, compreensão e força de vontade.

Com a cooperativa em funcionamento, Nello nos mostra mais um exemplo de como gerir pessoas. Ele descobre o potencial de seus sócios e os direciona a funções correspondente a suas virtudes e especialidades, o homem que gostava de carro se transforma em motorista, a mulher vaidosa em telefonista, o homem que queria ser xerife em responsável por rodapés (cuja função é necessário o controle e manuseio de uma arma de disparo de pregos), os artistas em especialistas, etc...

Segundo PRIOSTE (2013) “Gerir organizações significa interagir com pessoas a todo momento, significa conciliar, ou pelo menos tentar a mediação entre interesses dissidentes, percepções divergentes, necessidades específicas, relações incongruentes, gostos e estilos peculiares, emoções ambíguas e expectativas diversas”. E isso Nello demonstra a todo o momento, aprendendo com os seus sócios as ambiguidades que cada um tem.

Outro exemplo de sua gestão é saber lidar com situações conflitantes. Para WAGNER & HOLLENBECK (2002), o conflito é um processo de oposição e confronto que pode ocorrer entre indivíduos ou grupos nas organizações, e não é necessariamente prejudicial, podendo ser benéfico. E Nello se depara com uma situação conflitante que acaba se tornando benéfica.

Quando os pacientes reclamam da dosagem dos remédios que são obrigados a tomar. Esses medicamentos os deixam inertes e muito abaixo de sua capacidade física e intelectual. Nello escuta de seus próprios colegas que, se não fosse por causa desse tipo de droga, o trabalho renderia mais. Então, sabendo ouvir, Nello busca informação com outro psiquiatra que concorda em diminuir a dosagem do remédio. Como resultado dessas ações, os pacientes aumentam a produtividade em grau exponencial tornando a cooperativa um sucesso na cidade e abrindo portas para outras instituições fazerem o mesmo.

Outro ponto importante acontece quando Nello enxerga uma oportunidade de mercado diante dos talentos dos sócios e decide por uma nova assembleia. Sua ideia é que com um trabalho grande, incentivado e financiado por instituições privadas, abriria as portas para que outros pacientes de outros manicômios se tornassem sócios e eles servissem de exemplo para todos. Contudo, suas ideias são frustradas porque seus sócios optam por não realizar esse trabalho, porque ficariam sem salário (um acordo para a realização deste trabalho). Nello fica enfurecido, sai da sala. O novo psiquiatra aparece e Nello diz para ele “Não vou dar razão a eles, só porque são doidos”. O psiquiatra o lembra: “o fato de eles votarem contra é sua maior vitória; democracia”. Não há como gerir pessoas, se o sistema adotado não for democrata, não for participativo, não for, acima de tudo, uma liberdade de escolha. Autoritarismo implica em ditadura, e isso nunca beneficiou alguém.

As sequencias finais do filme também nos ensinam bastante sobre gestão e humanidade. Após uma tragédia imparcial, a cooperativa 180 fecha as portas temporariamente. Nello volta para casa, e os pacientes para a mão do Dr. Del Vecchio que retorna com a dosagem anterior dos medicamentos. Passados alguns meses, o próprio Dr. Del convida Nello a voltar ao seu serviço, reconhecendo que seu trabalho realmente ajudou os pacientes e que ele estava errado. Nello não volta imediatamente, porém, seus sócios vão buscar ele. Isso demonstra o quanto do relacionamento entre um gestor e seus colaboradores pode fluir ao buscar o outro. O filme encerra-se com a chegada de novos sócios que são recepcionados por um paciente autista (mudo) que se denomina presidente. Por ser mudo, ele apenas olha para cada novo sócio em seus próprios olhos, dando-lhes confiança e boas vindas.

O filme traz a reflexão sobre qual a melhor maneira de se trabalhar com terceiro setor, não é apenas seguindo uma cartilha com tópicos de como tratar seus empregados, mas sim, seguindo o bom senso e a sua moralidade, optando por respeito ao invés de comando, decidindo pelo coração e não só por fatores sociológicos, tratando pacientes não como vitimas, mas sim, como pessoas normais, como colegas de equipe. A relação entre o gestor e seus pacientes nesse filme não é assistencialista, e o grande desafio é saber trabalhar com a diversidade. Apesar de todos serem colocados como pessoas que possuem transtornos mentais cada um possuía sua particularidade da doença e Nello aprender a lidar com elas em várias situações.

Cricka
Enviado por Cricka em 04/01/2015
Código do texto: T5090642
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