Sever: a implacável heroína de "Ballistic"

SEVER: A IMPLACÁVEL HEROÍNA DE “BALLISTIC”
Miguel Carqueija

Resenha de “Ballistic: Ecks X Sever”: EUA/Alemanha, 2002. Produção de Chris Lee e outros (inclusive Kaos). Direção: Wych Kaosayananda (Kaos). Roteiro: Alan B. Mc Elroy. Com Antonio Banderas e Lucy Liu. Título em português: Dupla explosiva.

É interessante como este filme, desdenhado pela crítica — chegou a entrar numa lista dos “100 piores de todos os tempos” — consegue divertir e, ao mesmo tempo, passar alguma mensagem. Tem, é claro, a desvantagem de ser uma história tipo malhação — muita violência, roteiro furado, ação contínua sem muita consistência, perseguições motorizadas, carros e prédios explodindo, titoteios com artiharia pesada, lutas marciais; em geral tais películas são pura e simplesmente ruins.
Esta porém consegue um grau de humanidade. Antonio Banderas está perfeito no papel do ex-agente do FBI Jeremiah Ecks, relaxado, barba por fazer, sorumbático, que é encontrado bebendo num bar de Vancouver; desiludido da vida sete anos após perder a esposa Vinn (Talisa Soto) numa explosão — ou ao menos ele pensa isso. E como Vinn, que mantém um casamento de fachada com Robert Gant (Gregg Henry), o todo-poderoso diretor da misteriosa agência DIA, para proteger o filho Michael (Aidan Drummond), também pensa que Ecks morreu, fica difícil entender como é que eles não descobriram a verdade, já que nenhum dos dois sumiu.
Porém, a presença mais marcante na trama é a misteriosa chinesa Sever (Lucy Liu), agente desertora da DIA. O argumento é obscuro: aparentemente Gant mandara matar o filho de Sever e o pai da criança; isto porque a agente era apenas uma “máquina de matar”, sem direito a ter uma família. Para complicar, Gant pretende utilizar uma nova e terrível arma: um nano-robô desenvolvido na Alemanha, semelhante a um crustáceo e que, injetado na corrente sanguínea, pode causar a morte com suas pinças. O nano-robô foi colocado no corpo do garoto Michael e assim contrabandeado da Alemanha. Ao chegar em Vancouver, porém (e não entendi porque a história se passa no Canadá se o FBI e a DIA são agências norte-americanas), Sever ataca e sequestra o menino, dando início à sua vingança contra Gant.
Cooptado pelo tortuoso diretor do FBI, Julio Martin (Miguel Sandoval), Ecks volta à ativa e começa a caçar Sever. A trama, porém, sofrerá reviravoltas até o desfecho instigante.


Lucy Liu está impecável no papel de Sever, a órfã chinesa adotada pela DIA e dada agora como desertora. Face de pedra, falando muito pouco porém frases significativas, movimentos calculados, ela é uma lutadora fria, calculista e perigosíssima, capaz de liquidar com todo um aparato para-militar contra ela mobilizado à luz do dia e em plena cidade. Apesar do alto grau de violência da trama as cenas de ação chegam a ser engraçadas e a certa altura o espectador se flagra torcendo por Sever ao perceber que ela não é uma vilã, mas a heroína do filme — só que aquele tipo de heroína que arrasa com a cidade inteira para pegar o vilão.


Rio de Janeiro, 1° de fevereiro de 2015.

(imagens do filme: Sever (Lucy Liu) e Ecks (Antonio Banderas) se confrontam.