Meu nome é Rádio

Tenho convivido, ultimamente na escola, com algumas crianças portadoras de deficiências variadas, atendidas pelo AEE - Atendimento Educacional Especializado. Este é um "serviço de educação especial que identifica, elabora, e organiza recursos pedagógicos e de acessibilidade, que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas" (SEESP/MEC). Posso dizer, enfaticamente, que a minha cidade é uma das pioneiras na Bahia, quiçá no Brasil, onde esse trabalho é desenvolvido com excelência. As professoras que atuam na SRMF - Sala de Recursos Multifuncionais (espaço físico localizado na escola, equipado com mobiliário, materiais didáticos e pedagógicos para o atendimento dos alunos que são público alvo da Educação Especial), são extremamente capacitadas e atendem a múltiplos casos, a exemplo de: Deficiência Auditiva (DI), Paralisia Cerebral (PC), Altas Habilidades, TDH/Hiperatividade, Autismo, Discalculia, entre outros.

O maior mérito desse trabalho é a inclusão desses alunos na Escola Regular e, consequentemente, na sociedade. Os rótulos de incapazes e anormais, adquiridos no decorrer de suas vidas, são diluídos e fica explícito que todos possuem, mesmo com as limitações oriundas de suas deficiências, habilidades e capacidade cognitiva. Definitivamente, não existe o anormal x normal, somos todos humanos, com todas as imperfeições que, originalmente, nos caracterizam. O que possuímos mesmo de grotesco é essa pretensão descabida em nos julgarmos superiores uns aos outros.

Várias personalidades mundiais comprovam, através de seus feitos, que suas "deficiências" não atrofiaram seus talentos, sejam estes artísticos ou intelectuais. Uma das escritoras mais lidas em todo o mundo, romancista policial incomparável, perdendo em número de vendas de livros somente para a Bíblia, Agatha Chistie, pasmem, era disléxica; Einstein, mesmo desacreditado por professores e sendo motivo de chacota entre os colegas por ser também portador de dislexia, tornou-se referência mundial em inteligência; E a lista segue, contrariando os cânones de perfeição pré-estabelecidos: Darwin, Leonardo da Vinci, Van Gogh, Walt Disney (!), todos "deficientes" e, extraordinariamente eficientes.

Recentemente, assisti ao filme Meu nome é Rádio, protagonizado pelo ator Cuba Gooding Jr., interpretando o personagem Rádio, um jovem portador de um distúrbio mental não qualificado. Rádio vivia isolado, acuado como um bichinho ameaçado pelos predadores sociais, até que um treinador de beisebol o conhece, se aproxima dele, tornando-se seu amigo e protetor. Daquele rapaz despersonalizado, que não conseguia sequer pronunciar o próprio nome, não sobrou nada. Rádio se tornou gente, com autonomia para fazer suas próprias escolhas. Ingressou na escola, aprendeu a ler e escrever, fez amigos com pessoas que se transformaram através dele e de suas atitudes beneméritas. E um pós-conceito surgiu, após a reconstrução de um pré-conceito deturpado e desumano.

Rubem Alves, mestre causador de espantos, diz que todo ser humano é, de nascimento, um portador de deficiência física. Somente os animais são acabados e perfeitos, e nós somos inacabados e imperfeitos, portanto, precisamos pensar e criar para sobrevivermos. Nossa inteligência é filha da nossa fraqueza, diz ele. Pensamento e criatividade nascem da imperfeição. E quem há de negar que esta sim, é superior?
Rosimayre Oliveira
Enviado por Rosimayre Oliveira em 24/05/2015
Reeditado em 25/05/2015
Código do texto: T5253352
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