Bullit (“Bullit”)

Bullit (“Bullit“)




Direção: Peter Yates. O bom da web é que quem quiser pesquisar, que pesquise. Melhor pesquisar do que colocar dinamite pelo corpo e sair assombrando pessoas.

Protagonista: Steve McQueen. Ou você lembra dele ou não lembra, simples assim.

Outros membros do elenco: Robert Vaughn e Jacqueline Bisset.

Não acho impossível que a leitura desta resenha se restrinja apenas aos dinossauros de plantão, já que o filme foi lançado em outubro de 1968,
lembrando assim que todas as imagens que ali aparecem foram filmadas antes da data de lançamento.

O xis da questão está no universo captado pela Arriflex camera nova em folha do sr. Yates. Ah, não se preocupe, tem bastante gente no filme, não se trata daqueles roteiros infernais com 3 pessoas numa sala se estapeando ou trocando insultos.

McQueen faz o tenente Frank Bullitt.
Vaughn faz o político (brrrr) Walter Chalmers.
Bisset faz a namorada de Bullit, Cathy.

Tolice colocar aqui os meandros da trama, em útima análise vale saber que o político Vaughn designa uma missão para Bullit, só que há uma tramóia e o protoganista é do tipo “vou até o fim” nessa história. Uma espécie de Sérgio Moro num universo perfeito.

Em 2007 essa película foi selecionada para integrar o United States National Film Registry por seu valor histórico, estético e cultural.

Assim, voltemos ao xis da questão, o universo da californiana S. Francisco em 1968, onde as coisas pareciam em seu devido lugar.
Fazia sol. Steve McQueen, no filme inteiro, se articula 5 sentenças, é muito. Registrado pelas plagas de resenhas oficiais como um policial durão, McQueen aparenta sobretudo um sujeito lacônico e focado. Nada além, ainda consegue ter uma namorada e sair para jantar, diferente dos psicopatas que pipocam nas telas.

Fazendo um adendo ao comportamento do personagem, cito a sra. Taphron: Seja fiel a si mesmo e as suas crenças em todas as suas atividades e nas ações que realiza. Interiorize-se para as respostas que busca e não as procure fora de si mesmo.

Ora, um gajo que fala pelos cotovelos e vive cambaleando só poderá protagonizar presepadas. Não é o caso. Apesar do protagonista não estar num gramado em posição de flor de lótus, o que o ajuda a atravessar as maquinações repousa justamente na ousadia do seu silêncio.

O filme de Yates se desloca passo a passo tendo como cenário o asseio de uma cidade como S. Francisco. Dá gosto ver a realidade de meio século atrás neste local. Casas, carros, fachadas, transeuntes, indumentárias, perspectivas....

O coldre de Frank foi inspirado num agente da lei de carne e osso. Fazia sol. Bandidos não tinham 15 anos de idade, ou 19, com 300 músculos plus tatuagens e cara de abobados. Os dois principais oponentes são grisalhos na beira dos 50, taciturnos de paletó e gravata. “Bullit”, o filme, não tem uma penca de cadáveres saindo pelo ladrão, nem pessoas trancadas num gabinete contando bilhões de reais, perdão, de dólares. Tem apenas dois cadáveres, sendo que o segundo se torna cadáver nos minutos finais do filme, na única vez em que o tenente teve de sacar o coldre. No resto, ou antes no todo do filme, ele fala pouco e não usa a arma. Se você girar o seletor da sua TV agora vai achar que a presente resenha versa sobre ficção científica. Mas não. Trata-se da cultura apreendida pelas mãos de Peter Yates sobre o livro “Mute Witness”, de Robert L. Fish. Bullit bate um papinho com o taxista Robert Duvall em albor de carreira e vai jantar com a beldade cheia de classe Bisset num restaurante charmoso, e se o espectador gosta de música verá e ouvirá um quarteto de jazz chamado Meridian West, onde uma menina loura de cabelos longos toca flauta que nem gente grande. A milanesa (nascida em Milão) Renata Adler, graças aos nazistas seus pais fugiram pra Danbury, Connecticut, onde ela foi criada, escreveria em outubro ou novembro de 1968, numa mídia fuleira chamada New York Times, que as cenas finais de “Bullit” contentam fãs de Dragnet a Camus. Sim, há a ultra cultuada perseguição de carro na ensolarada São Francisco de 1968 entre Frank e os dois degenerados grisalhos, o must dessa perseguição é que ela dá a impressão de ter uma lógica de traçado entre o ponto A (onde começa) e o B (onde termina), mas nem isso é verdade, afinal estamos no cinema, até alguns anos atrás era possível encontrar na web uma tese quilométrica de um sujeito explicando os furos geográficos da perseguição. 

Dado instante Bisset diz ao namorado que não suporta a crueza do mundo dele. Eis a vida no tempo linear. Um passo de cada vez.
Imposível para ela saber como seria em 2015.
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 16/11/2015
Reeditado em 05/07/2020
Código do texto: T5450718
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