Sailor Moon Crystal 10: o trágico passado

SAILOR MOON CRYSTAL 10: O TRÁGICO PASSADO
Miguel Carqueija




Os terríveis acontecimentos de um passado longínquo são finalmente atualizados nas memórias de Sailor Moon e suas amigas. Ao se teletransportarem para a Lua (agora um astro morto) e descobrirem as ruínas do antigo reino lunar, o Milênio de Prata, elas são abordadas pelo espírito da Rainha Serenity, que as aguardava nas proximidades do templo real, o local onde a soberana fazia as suas orações. E os detalhes do passado perdido são revelados...


Resenha do apisódio 10 - “Moon - Lua” do seriado de animação “Sailor Moon Crystal” (Japão, Toei Animation, primeira temporada, 2014/2015). Criação da personagem e supervisão do animê: Naoko Takeushi. Direção: Munehisa Saka. Sailor Moon (Usagi Tsukino) dublada por Kotono Mtsuishi.


“A Lua está ficando cheia outra vez, assim como os meus sentimentos estão mais fortes.”
(Sailor Moon)

“Mesmo na profunda escuridão não estarei sozinha.”
(canção-tema de abertura)

“Foram realmente nossos dias mais felizes.”
(Sailor Vênus)

“Somos seres nascidos na Lua, com um longo tempo de vida. Nossa missão era proteger a pedra sagrada da Lua, o lendário cristal de prata, limpar os fatores negativos da Terra e ajudá-la a progredir.”
(Rainha Serenity)

“Mas, naquele ano, aconteceu um desastre. Uma criatura grotesca invadiu a Terra e corrompeu aquele adorável planeta. Aquele ser era o mal absoluto. Desejando o poder do lendário cristal de prata ele se aproveitou das trevas do coração das pessoas para atacar a Lua.”
(Rainha Serenity)

“Aquele demônio retornou.”
(Rainha Serenity)



Denso e impressionante o décimo capítulo do seriado “Sailor Moon Crystal” inclusive com alguns detalhes crus, como o trucidamento de Príncipe da Terra, Endymion, pela turba armada sob domínio de Metalia, o demonio sedutor; e o consequente suicídio da Princesa da Lua, caindo sem vida sobre o corpo de seu amado, como uma Julieta com seu Romeu, segurando a sua mão no gesto final. É frequente que nos contos de fadas tradicionais apareçam detalhes chocantes, que nas versões posteriores serão amenizados (como fez Walt Disney com “Branca de Neve e os sete anões” dos Irmãos Grimm). Assim, na versão animada dos anos 90, esse detalhe do mangá “Sailor Moon” foi alterado, e tanto Endymion como a Princesa Serena ou Serenity, são mortos pela ação direta do demonio. No seriado atual voltou-se à versão do mangá, e embora os acontecimentos do remoto passado que culminam na destruição do Reino Lunar sejam narrados em retrospectiva e de forma resumida, pode-se deduzir que Serenity estava numa de suas visitas à Terra para encontrar Endymion quando rebentou a revolução e que ela não teria escapatória diante de inimigos mortais e fanatizados e nem teria como retornar à Lua. A Rainha Serenity, por sua vez (deve-se notar que mãe e filha têm o mesmo nome) apenas consegue selar o demonio mas, como ela mesma narra milênios após, o reino lunar e a civilização terrestres tombam, e na Terra, foi preciso recomeçar do início (isto coloca a história do Milênio de Prata há dezenas de milhares de anos).
É muito bela a sequência em que as cinco sailors, unidas pelo poder e pela amizade, realizam seu primeiro teleporte, dando-se as mãos e indo parar na Lua. E no meio das ruínas do Milênio de Prata, acompanhadas pela gata Luna, e diante do local onde era a sala de orações da rainha, encontram com ela... Serenity, em forma espiritual, com asas de libélula e do tamanho de uma fada dos bosques. Serenity (de quem Sailor Moon é filha, por concepção virginal) explica os acontecimentos daquele passado remoto, onde um demonio interveio na felicidade de todos, resultando em milênios de sofrimento para as gerações que vieram. Até certo ponto, há paralelos com a narrativa bíblica do Paraíso Perdido. As cinco guerreiras (Moon, Mercúrio, Júpiter, Marte e Vênus) vêem–se diante do local (agora, apenas destroços) onde era a Sala de Orações do Castelo da Lua. Serenity mostra-lhes uma excalibur encravada em uma pedra. Juntas elas a retiram, sendo o último puxão dado por Sailor Vênus.
A carga de sentimentos delicados e de simbolismo místico perpassa todo o episódio de maneira marcante. Pouco a pouco, episódio por episódio, um complexo universo ficcional é construído, formando uma saga de fantasia heróica invejável por sua complexidade e coerência. A reencarnação parece ser uma excessão para os personagens centrais, que protagonizaram o drama original e que renascem no mundo moderno para o ajuste de contas. Isso inclui os “shittenou”, os quatro cavaleiros que acompanhavam Endymion, mas que agora servem à Rainha Beryl, comandante do Reino Escuro e que vem tentando despertar totalmente Metalia, por ora recolhida em uma sala secreta do reduto subterrâneo no Pólo Norte. Usagi Tsukino se assume mais como Sailor Moon que como princesa, eis que agora ela possui poderes incríveis, que antes não detinha.
Uma cena emocionante é a batalha travada entre as cinco sailors e os shittenous, quando estes e Beryl tentam congelar Tóquio mas acabam recuando diante da bravura de Sailor Moon e suas companheiras na luta contra o mal.
Para complicar a situação, Beryl, que reconheceu Endymion na pessoa de Mamoru Chiba (o Tuxedo Kamen ou Mascarado de Fraque), através de uma lavagem mental fez dele um servo ou zumbi, e ordenou-lhe ir à procura da Princesa da Lua, para matá-la e roubar-lhe o cristal de prata. Agora Mamoru está de volta a Tóquio, disposto a encontrar Sailor Moon. E ela deseja ardentemente reencontrá-lo; mas ignora que Mamoru agora é seu inimigo...


Rio de Janeiro, 20/21/22 de maio de 2016.

(imagem: Sailor Moon e Mamoru Chiba, cena do filme de longa-metragem "A promessa da rosa")