O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus (2009)

Um filme de Terry Gilliam mais legal de analisar do que de assistir

Atenção: REPLETO DE SPOILERS! Continue por sua conta e risco! Postei o texto abaixo pela primeira vez no Filmow, não é uma resenha, nem sinopse, mas uma análise do que entendi sobre o filme acerca do que acho que ele realmente trata.

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Podem comentar, mas uma pessoa de cada vez, a mente do Dr. não está preparada para ler vários comentários ao mesmo tempo! :-)

Para mim, trata-se de um filme sobre ALCOOLISMO! (ou dependência química em geral). Na leitura que fiz, vi metáforas para a vida em geral e sobre o alcoolismo:

- Quando Martin entra no espelho, vê uma floresta esquisita, irreal e Valentina, uma linda mulher o seduzindo (os efeitos da bebida e bebendo cada vez mais).

- Depois, ele toma uma surra e cai, de cara na lama (a ressaca e se “olhando no espelho”, vendo a situação deplorável em que se encontra).

- Anda naquele “mar de garrafas” (o reconhecimento de sua situação, de que é um alcoólatra e precisa de ajuda para sair dali).

- A mão o puxando para fora da Terra (assim como outras pessoas também estão sendo “puxadas”, seria a participação em grupos de ajuda, como o Alcoólicos Anônimos).

- As Águas Vivas (não sei ao certo o que significariam, talvez o sofrimento da abstinência, não sei. Existe um tratamento relativamente novo para alcoolismo que envolve a extração de uma proteína da água viva, mas acho que não é por aí…

- É arremessado e, por pouco não é espetado e morto por aquela “tachinha gigante” (a constatação de que poderia estar morto por conta do abuso da bebida, mas conseguiu sobreviver.

- Por último, ele vê aquela espécie de montanha e, no sopé do primeiro degrau, está escrito “12 X 12 X 12 STEP PROGRAM. GOOD LUCK” (referência ao Programa dos 12 passos, muito comum nos grupos de Alcoólicos Anônimos e afins, exige um certo comprometimento. No filme, a repetição do número 12 e sinal de multiplicação “X” pode se referir a cada uma das apostas que Dr. Parnassus fez e a volta a estaca zero, que explico mais abaixo.

- O “Mr. Nick Lounge Bar” é a escolha mais fácil, sem comprometimento, é a entrega ao instinto e a recaída. Reparem que, na cena seguinte, o Dr. Parnassus diz: “Perdi novamente”.

Bem, daria para ficar pinçando mais e mais exemplos, mas, pelo que entendi, o Diabo seria o lado mais instintivo, que busca o prazer imediato ao invés de enfrentar os problemas. Cada aposta aceita, seria a tentação e a entrega “prometo que vou beber só ‘essa dose’, que implica em grandes consequências pois, para “pagar a aposta” (ficar sóbrio novamente), todos aqueles “12 passos” devem ser dados novamente.

Ao final do filme, reparem que o Dr. Parnassus vê sua filha de longe, escondido, sem que ela perceba. Meu entendimento é que sua mulher não morreu ao dar a luz, mas sim se divorciou dele por causa do seu problema com a bebida e também não o deixou mais ver a filha desde então.

No início e no final do filme, existem algumas falas e diálogos interessantes. É sempre deixado muito claro que sempre existem escolhas, caminhos mais fáceis ou mais difíceis; instintivos ou racionais etc. E é deixado claro que não podemos jogar essa responsabilidade nas mãos de outra pessoa, as escolhas e as consequências de nossos atos são de nossa inteira responsabilidade.

Cheguei a estas conclusões apenas assistindo o filme e analisando alguns trechos. Posso estar redondamente enganado, depois vou dar uma pesquisada para ver a interpretação que a galera teve. Já sobre a experiência cinematográfica em si: Sendo um filme de Terry Gilliam, não esperava nada convencional. Não assisto trailers, pelo título e poster do filme, somado a filmes anteriores do diretor que já assisti, esperava algo bem onírico.

Gostei do conceito, mas não muito da execução. Acho que foi um erro recorrer a efeitos visuais (computação gráfica) ao invés de efeitos práticos. Por mais que eu respeite o finado Heath Ledger, confesso que o personagem dele foi um dos que achei menos interessantes. Somando o fato de sua morte, que não acredito ter desfalcado o elenco, (pelo contrário, entraram 3 atores de renome para concluir o filme) acredito que o infortúnio possa ter impactado no moral do diretor e da equipe original envolvida no projeto.

Obviamente, o filme abre espaço para diversas interpretações e não tenta deixar nada muito escondido do espectador. Ainda assim, não me prendeu muito enquanto o assistia e não me trouxe nenhum momento de grande empolgação ou descoberta. Na verdade, eu fiquei mais satisfeito e entretido com essas tentativas de interpretações pós-filme do que durante o filme em si. E, neste ponto, acho que valeu a pena assistir. Mas assistindo o filme sem ter nada disso em mente, é uma experiência mediana e com um ritmo bem arrastado.

PS: Muito bacana o final, mostrando a sensibilidade de Terry Gilliam, que abdicou de estampar seu nome para fazer uma bela homenagem: “Um filme de Heath Ledger e amigos”.