'CHOBITS": Um amor infantil

“CHOBITS”: UM AMOR INFANTIL
Miguel Carqueija



Resenha do seriado de animação “Chobits”, baseado em mangá da CLAMP (Satsuki Igarashi, Ageha Ohkawa, Tsubaki Nekoi e Mokona Apapa). Produção do Madhouse Studios (Japão, 2002). Direção: Morio Ascka.

“Chobits” é uma estranha história sobre inteligências artificiais, centrando-se no relacionamento entre um jovem humano de 18 anos, Hideki, e uma doce “persocon” (robota), Chii. A CLAMP carregou na suavidade e na ingenuidade desta personagem e o seriado, que segue bem fielmente o mangá, vem a ser um dos mais previsíveis do mundo dos animês. Realmente a vinheta de abertura dos episódios (24 ao todo) não deixa dúvidas quanto ao relacionamento amoroso entre Hideki e Chii, apesar dos obstáculos conceituais colocados no trajeto.
“Persocons” são robôs de aparência humana que, nesta sociedade em futuro indeterminado porém próximo, tornaram-se habituais. Pelas ruas de Tóquio circulam muitas pessoas acompanhadas por persocons, geralmente do sexo feminino (ainda que, anatomicamente, não possuam sexo ou aparelho reprodutor). Tornaram-se mania nacional e, para muita gente, passaram a ser mais importantes que os seres humanos (fato que traumatiza a personagem Yumi, uma garota que sofre porque o homem a quem ela ama parece gostar mais de persocons).
Hideki, um roceiro de Hokkaido que vem estudar em Tóquio, sonha em ter uma persocon mas não dispõe de dinheiro para a aquisição. Então, como num passe de mágica, ele encontra uma persocon desativada no lixo e a leva para casa. Com a ajuda do amigo Shimbo consegue ativá-la. Assim torna-se dono de Chii, nome dado porque, de início, é a única palavra que a garota-robota consegue pronunciar.
Shimbo possui uma persocon-miniatura, a Sumono, e inicia Hideki nos recursos que as persocons possuem, já que servem como telefones (sic) e acessam a internet. No lugar das orelhas existem entradas para os plugs. Com tudo isso, as persocons — inventadas por Itchan, o mesmo que criou o jogo “Angelic Layer” (nome de outra série da CLAMP) — são muito humanos em sua aparência, e Chi então parece uma linda e carinhosa adolescente de longos cabelos.
Hideki, que tem uma fraqueza por pornografia, apesar de tudo é um rapaz virgem, muito tímido com as garotas e respeitoso; fica muito afeiçoado a Chii, que dorme com ele, mas ao estudar as persocons o que Shinbo e o garoto CDF, Minoro, deixam bem claro, é que elas não são seres vivos, que tudo é programação. Este detalhe é a grande barreira que impede Hideki de pensar na Chii em termos de romance — apesar da humilde afeição e total dedicação que a robota lhe dispensa.
Entretanto, as características especiais e misteriosas de Chii levam Minoro, garoto que se especializou no estudo das persocons, a aventar a hipóetese de que Chii seja na verdade uma “chobit” — uma lenda urbana, no caso uma persocon capaz de autoconsciência, personalidade, e de desenvolver sentimentos verdadeiros — uma pessoa enfim.
Este é o grande argumento de “Chobits”, um seriado minimalista onde os sentimentos e as emoções dos personagens importam mais do que as ações, e definem o rumo da trama — uma história altamente romântica em nível bastante inocente, não faltando cenas de puro humor como na mania de Sumono em acordar todo mundo de manhã cedo para fazer ginástica. Como ficção científica, uma interessante incursão no tema das inteligências artificiais.

Rio de Janeiro, 11 a 14 de dezembro de 2014.