Gris de Wilbett Oliveira

Em gris, Wilbett Oliveira consegue impor outro significado às palavras e cria algo único e especial: Sutileza no movimento do verso!

Utilizando-se de imaginação para (re) inventar as mais variadas "formas de realidade", ele cria seus poemas, num contexto profundo e tocante. Desenhados no compasso de cada página: Uma busca. Uma lógica. A missiva gritante em cada página.

Sim, o poeta tem algo a dizer e sua mensagem é clara e concisa. Ele brada seu poema e não obstaculiza a interpretação da leitura com seu atrevimento e apuro, ao contrário disso, faz-nos refletir e fascinar.

Sem cair nos velhos jargões dos antigos trovadores – Wilbett enverga-se de disposição para sangrar o “poema derradeiro”. Ele reinventa a poesia e a transforma em algo mais tácito (se assim posso dizer), onde foge da subjetividade para acercar-se à objetividade dentro do (in) imaginável conflito do novo tempo.

em vão faço um poema

com se estivesse gris

e elaborasse vozes

no silencio de um instante...

“Como se” dentro do infinito mundo da imaginação poética: O “Tudo e o nada”, o poeta está (aqui e lá, no passado e no presente, ele é claro e escuro), e, pode ser tudo (mas talvez seja nada) senão apenas na fantasia que um poema permite, mas em vão ele o faz. É em vão porque o tempo é outro e o poeta fala inutilmente para um mundo que já não é o mesmo: Um tempo em desconserto, um tempo flutuante dos sonhos, num tempo de despoesia, ou, poestiagem, em seus diversos níveis de (i) realidade.

Morreram os poetas ou faleceram quem os ouça?? Poderá o poema pulsar novamente nesse "novo tempo" de poucos ouvintes onde poetas e poemas perderam valor?

Na cumplicidade da tinta

sobre o papel

sangra o acumulo da vida

O poeta se menciona a experiência – usando lentes de grande alcance – e a converte na beleza de um poema para aquele – ou para quem o possa - interpretar.

Gris

andaluz

no fim do túnel

na infinitudinalidade

de tudo

nada...

Quem somos, para que viemos e para onde vamos?

Conheça tua essência e talvez saiba quem es!

Gris

corais em campos cardinais

números encardidos em prateleiras

signagem do nada.

Movemo-nos com nossos próprios pés sem saber para onde nos dirigimos, sem controle. Acreditamos ter plena autoridade sobre nossa vida, mas sequer sabemos quem somos. Somos tudo e nada. Representamos muito e pouco. Somos preto e branco. Um suspiro ligeiro, ou, a eternidade.

Ainda que me falte a palavra adequada para exaltar Gris, digo que Wilbett desenvolve a "4° dimensão da linguagem" em seus poemas e atinge a malignalinguagem de um poeta único, num único tempo, no tempo de todos e para todos. Nem claro e nem escuro: Somente gris!

O poeta cabixaba, Wilbett Oliveira é Pós-graduado em Literatura Brasileira e Prof. da área de Letras na Faculdade Teixeira de Freitas e Faculdade do Sul da Bahia. É editor da revista Mosaicum e autor de Sêmen ou versos entretecidos ou um só poema, Garimpo e outros poemas e Partes.