O PEQUENO TRATADO DAS GRANDES VIRTUDES

Pequeno Tratado das Grandes Virtudes

De André Comte-Sponville

Ed. Martins Fontes, São Paulo, 1999

Tradução de Eduardo Brandão

Abro a janela virtual que nos conecta ao mundo e involuntariamente, meus olhos marejam diante do desfile de fatos que dançam diante de nós com requintes da mais fina crueldade protagonizada pelo próprio ser humano. E mais uma vez, percebo a distância que nos separa do mundo idealizado ao mundo vivido.

André Comte-Sponville parte dessa mesma realidade quando decide fazer um estudo sobre as virtudes. Surge então em 1995, o “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”. Num contexto de exacerbação do individualismo e de banalização da dimensão ética da vida que, por sua vez deveria reger as ações humanas, o autor propõe um resgate histórico e cultural das virtudes humanas e da necessidade sua vivência nos nossos atos cotidianos. A obra tem como foco de atenção, o púlico em geral sem com isso desmerecer a necessidade de oferecer ao leitor, uma fundamentação teórica necessária ao seu entendimento, estabelecendo assim um diálogo entre as diversas concepções teóricas. É na verdade,uma busca de superar a dimensão contemplativa e expeculativa da bondade humana, partindo do pressuposto de que o bem deve ser praticado em sua mais pura essência. Fala daquela bondade inerente ao ser humano, mas que fora dilacerada pelo convívio social e fundamentalmente pelas regras socialmente estabelecidas. Uma tentativa de superarmos a visão maniqueísta que rege as nossas relações e nos faz prisioneiros das regras sociais.

O ponto de partida é a necessidade do amor pleno, daquele amor desinteressado, espontâneo, que se basta, que não cobra, que simplesmente existe, independente do seu retorno. É a ausência desse amor que nos faz recorrer à capas de proteção e é aí que entram as virtudes humanas. Elas chegam como uma tentativa de resgatar a dimensão de humanidade, que nos qualifica enquanto tais e nos distingue dos animais ditos irracionais. Através de um diálogo entre diversas correntes filosóficas, o autor busca desmitificar alguns mitos construídos e solidificados pelo imaginário coletivo, originando confusão entre o venha a ser virtude, valor ou qualidade, bem como Moral, Ética e estética. De início, podemos pensar que se trata de uma leitura estilo água com açucar por tentar resgatar valores, como a doçura, a generosidade, a simplicidade, a humildade, dentre outras. É mais que isso, é um convite e ao mesmo tempo um desafio a olharmos criticamente as nossas próprias ações e a necessidade de entendermos noções como Justiça e Igualdade em sua amplitude e sua aplicabilidade nas nossas vivências cotidianas. Também não é um tipo de leitura que deve ser feita a um só tempo. É preciso dar ao pensamento o tempo necessário à reflexão. É preciso olhar para si mesmo e se permitir uma auto-avaliação e que esta seja desvinculadas de méritos ou castigos e que estejamos desarmados das vaidades adquiridas ao longo nas nossas vivências. É preciso degustar cada capítulo sem pressa.

Gostaria de poder apresentar aqui uma resenha crítica, com aquele olhar técnico e consiso. Trago apenas um olhar de quem acorda a cada dia, sabedora de sua necessidade de melhorar enquanto ser humano. Um olhar que se revolta quando vê a banalização da vida e de tudo que nos caracteriza como “Humanos” em sua mais ampla dimensão. Mas creio que um livro tem sua importância pelo bem que pode fazer a quem o lê e no caso em questão essa foi e será sempre uma leitura necessária ao meu crescimento e amadurecimento pessoal e que por isso mesmo me fez querer vir a esse espaço dividir esse prazer com vocês.

“(...)Leva sempre a minha imagem,

a submissa rebeldia dos que estudam todo dia

sem chegar à aprendizagem.”

Aluna, Cecília Meireles.