resenha Santo Ildefonso

Amigos, escrevo sobre o livro de Paulino Vergetti Neto, escritor alagoano. “O Santo Ildefonso.”

Este livro poderia ser uma crítica política, silenciosa; o antídoto aos desgovernos, à administrações corruptas, mesmo sem ter esta finalidade, apenas pelo exemplo.

Confesso a vocês, que tive dificuldade em compilar as palavras, as ideias, para iniciar este texto, por querer ser fiel à caminhada de esperança, de generosidade, vivida neste casarão.

Vergetti narra a vivência, o relacionamento entre o Diretor do asilo e seus moradores abandonados, esquecidos, carcomidos pelo desencanto, pela desesperança. Ele chega, e encontra um ambiente hostil, de quem não acredita que alguém possa enfeitar aquele lugar, que tenha um coração honesto, para reerguer o casarão, depois de tantos desmandos, já conhecidos. O que viram até então, eram vernizes que se faziam brilhar nos primeiros dias, mas que se tornavam foscos com o passar do tempo. Daí a descrença. Os moradores não podiam sequer imaginar a grandeza de alma de quem chegara. Os diálogos que se seguem, a paciência do Diretor, humanizam as relações, despertam um sentimento de “pertença” de comprometimento de cada um, inclusive dele próprio. Uma das atitudes que mais me marcaram, foi o tempo que ele dava a cada um para tentar ser feliz, de se encontrar, dentro do contexto que desfrutavam. Uma tentativa de amenizar a dor. Vergetti “vai além da sacristia, além da burocracia, acima do assistencialismo” para viver o cristianismo, o amor, a caridade. Aprendemos que o saber ouvir, com amor, seja uma qualidade essencial ao penetrarmos no mundo do outro, em qualquer idade. O acreditar, o querer fazer, também. Quanta história de vida, de sabedoria, desfilavam nestas horas de conversa! No encontro de seus olhares, ele os entendia. O narrador abraça aqueles corpos envelhecidos, como se fosse o seu próprio corpo, antevendo o declinar do seu vigor, da sua vontade de servir. Ele os reveste com toda dignidade, de quem acredita que há sonhos, carências, vida, mesmo que se tenha 80 anos, ou mais. Era sim, um gigante de bondade, de transparência, de competência e de respeito às coisas públicas. Com este espírito de acolhida, dava vida, luz, voz, àquele casarão, antes descascado, esmaecido, pálido de calor humano. Na capela, naquele último banco solitário, era o seu refúgio, onde renovava suas forças e deixava rolar as lágrimas, diante das perdas.

Este livro poderia ser lido, também, por cuidadores de idosos, pelos que trabalham, administram asilos, casas de repouso e porque não, pelos filhos. Ele desperta sensibilidade, ternura, afago, emoção.

Parabéns, Paulino Vergetti Neto. “No seu mundo o homem se redime pela Fé”, pela entrega. Pela alma, que sai ao encontro de outras almas, as quais clamam por vida, por alegria, por libertação! “No mundo de Vergetti” o cargo de Diretor se solidifica como encargo, atitude de humildade, onde a corrupção não tem assento cativo, tornando o pouco...muito. E tudo floresce. Pode-se fazer diferente. Enxergar o mundo, com diferente olhar. Por que não?

olyndabassan
Enviado por olyndabassan em 11/04/2014
Reeditado em 04/05/2014
Código do texto: T4765520
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