A perene lição de Maquiavel (livro: O Príncipe - Nicolau Maquiavel, 1503, Itália)

Oriundo do Século XVI, mais precisamente do ano de 1503, “O Príncipe” foi a obra que imortalizou o historiador, diplomata e poeta italiano Nicolau Maquiavel (Niccolò di Bernardo dei Machiavelli).

Foi na própria Itália, durante o Renascimento, que o festejado autor materializou um dos tratados políticos de maior relevância da história da humanidade.

Direcionada ao príncipe Lourenço II de Médici, Duque de Urbino, ao qual faz o autor calorosa dedicatória, consagrada obra somente fora publicada postumamente, em 1532, sendo considerada, de modo unânime, uma das pilastras basilares do Estado em sua moderna concepção.

Idealista de uma Itália forte, soberana e unificada, Maquiavel dedica-se, em tal livro, ao principado, que, segundo o mesmo, consistiria na única forma aceitável de organização social, ao lado da República, a qual, por sua vez, se reserva a discorrer sobre no livro “Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio”.

Muito embora seja considerado por muitos como um “Republicano”, em “O Príncipe”, o autor dispõe-se a esmiuçar os caminhos pelos quais é possível se obter um principado, bem como os imperativos a serem seguidos em atenção ao desiderato de se conservarem-no (tanto o é, que a história o considera justificante e fundamentador do Absolutismo).

Em apertada síntese, e, a grosso modo, trata-se a monumental obra de uma carta de condutas, as quais devem ser seguidas por aquele (sobretudo Príncipe) que almeja o sucesso e a glória, no alcance e manutenção da supremacia pública (e/ou política).

Consiste em um verdadeiro manual de controle social, o qual parte da premissa de que deve o povo ser considerado massa de manobra a fim de mantenha-se absoluto o soberano.

Não obstante inexistir expressamente em seu bojo o fatídico jargão de que “os fins justificam os meios”, possui “O Príncipe” inegável caráter utilitarista, pelo qual os atos que se mostrarem necessários à concretização de um vislumbrado escopo restar-se-ão, de per si, exculpados.

Partindo, assim como Hobbes, da concepção de que os homens são, por natureza, ruins, malignos, e mesquinhos, não prescindindo da dominação Estatal para tornar viável o convívio em sociedade, Maquiavel desconsidera a ética como fator relevante a ser observado, outorgando legitimidade àquele que age em prol do poderio objetivado, ainda que às custas da supressão do direito alheio (ius naturali).

Com efeito, ainda que “O Príncipe” possua inato condão de justificar indesejáveis cenários antidemocráticos, nos quais o homem (como ser, como indivíduo) se aloca aos pés do Estado (em intrínseca relação de subserviência), representado, há época, na figura do Monarca, reveste-se de inegável importância histórico-política, mantendo-se ainda atual, essencial e imprescindível à análise das nuances da formação do mundo contemporâneo.

Matheus Sasseron
Enviado por Matheus Sasseron em 24/04/2014
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