PINGA FOGO com CHICO XAVIER

A tarefa de resumir um livro que contem perguntas e respostas, num programa de entrevistas levado ao vivo, tendo como atração nosso amado Chico Xavier, não é tarefa fácil, pois cada frase contém uma informação, um conselho e um aprendizado.

Então decidi escolher entre todos os assuntos, aqueles que me chamaram atenção, pelo conteúdo e/ou pelo cenário político – social da época.

E é nesse cenário que Francisco Candido Xavier aceitou responder perguntas, ao vivo. Pinga-Fogo foi um programa de televisão veiculado pela extinta TV Tupi Canal 4 de São Paulo. Estreou no ano de 1955 e terminou no início da década de 1980, com a crise financeira que culminou com o fechamento da emissora.

1° PROGRAMA – 27/07/1971 e 28/07/1971 (o programa teve início às 23:30 e estendeu-se por mais de três horas)

Apresentador: Almyr Guimarães, repórter político, conhecido no “Pinga Fogo” por suas perguntas provocativas.

Naquela data Chico havia psicografado 107 livros, em 35 anos. (o 1° foi publicado em 1932) Era amigo de Saulo Gomes, que fez o convite para ir ao programa, ao vivo.

Chico demonstra toda humildade alegando confiar na presença de Emmanuel, que o ajudará nas respostas. Os entrevistadores demonstram muita admiração e respeito por Chico Xavier, são eles:

Escritor católico João de Scantimburgo;

Helle Alves

Reporte político Reali Júnior

Repórter Saulo Gomes, amigo de Chico

Jornalista Herculano Pires, também amigo de Chico e espírita

Pessoas do público presente no auditório, e

Pessoas que ligaram durante o programa.

Observei que Chico Xavier, em simbiose com Emmanuel, ateve-se a responder em conformidade com o Livro dos Espíritos e obviamente com a doutrina Kardecista.

Temas abordados:

Psicografia; planos e sub-planos do mundo espiritual; evolução nos dois estados da vida: espiritual e material; morte violenta (especialmente do Arigó); a conquista do espaço pelo homem; dúvidas a respeito dos livros ditados por Emmanuel, chamados “série dos romances romanos de Chico Xavier); vida em outros planetas; sintonia com Emmanuel; fotografia dos espíritos; reencarnações na mesma família; direito da mulher; amizade e afastamento com Arigó; vida em tubo de ensaio, aborto; espíritos ao lado de Chico; situação espiritual de Kennedy, De Gaulle, Stálin, e Churchill; sobre a não cura da visão do Chico; cremação; reencarnação e a Bíblia; psicografia na igreja católica; transformação e o Terceiro Milênio; ação social do Catolicismo e do Espiritismo; Júlio Verne; os livros “Evolução em dois Mundos” e “Mecanismos da Mediunidade”; contatos com extraterrestres; o caso do avião; ganhar na Loteria; sexo e homossexualismo; dor da perda (morte); Umbanda; Judas.

Observei que o entrevistador João de Scantimburgo fez 04 perguntas, 02 comentários todas sobre psicografia e 03 delas “investigando” ou “propondo” que Chico Xavier não recebia os livros do plano espiritual, mas sim por outros métodos e que o Chico conhecia cada estilo literário de cada um dos quase 500 autores espirituais.

Essa parte do programa é demasiadamente importante, pois prova a veracidade da psicografia e portanto dos ensinamentos espíritas que esses livros contém. Se o jornalista tivesse conseguido embaraçar o Chico, colocaria a doutrina Espírita em risco de descrédito. Foi uma excelente oportunidade que o Espiritismo teve de mostrar aos brasileiros o quanto são sérios e valiosos os ensinamentos contidos nos livros doutrinários e nos livros ditados ao Chico pelo processo mediúnico.

A segunda pergunta, esse entrevistador diz exatamente “…não será o senhor dotado de tal sensibilidade que, identificado com os autores, por assim dizer, psicografados, naturalmente os assimilou e os imita e redige à maneira deles?” Chico responde de forma bem explicativa e humilde, diz que cursou somente o primário, fala sobre o problema da visão e cita palavras de Emmanuel por duas vezes. Na minha opinião, estava mais que respondida e explicada a questão sobre psicografia.

Mas, quando chega novamente a vez desse entrevistador, ele novamente questiona o Chico sobre psicografia, fazendo primeiramente a colocação de que o Chico seria então um autodidata, já que ele se expressava muito bem. Na colocação de sua longa exposição para perguntar, João de Scantiburgo, diz: “Eu insisto que a escrita automática, no Senhor, deve ser mais o produto do inconsciente do que o produto da mediunidade.”

Chico Xavier responde com paciência e respeito, mas foi breve, e reafirmou que não tinha a menor ideia do que é que eles escreveram.

Mas o jornalista replica, e quer afirmar seu alto grau de cultura, informando que além de jornalista tem também formação em filosofia, cita uma psicografia ditada pelo espírito Oscar Wilde, que foi rejeitado na Inglaterra pelo meio literário. Insiste em alegar que os grandes pensadores de muitas épocas não poderiam ser psicografados por conta da dificuldade causada pela complexidade de suas obras, ou seja, ele insiste em querer provar que os livros psicografados por Chico Xavier, são obras do próprio Chico, não havendo aí a mediunidade.

A resposta de Chico é novamente breve e objetiva. Explica que Emmanuel está ao lado dele desde 1931 e que o tem ajudado gramaticalmente e está ao lado dele naquele momento devido à responsabilidade daquele programa. E faz uma perguntinha: Os escritores antigos e os modernos não seriam médiuns também?

O jornalista informa ao Chico que o programa não é de debates.

O Chico, nesse ponto, relata seu respeito pela religião católica e aproveita para mencionar duas psicografias ocorridas no seio da Igreja Católica: Sta Brígida da Suécia e Sta Clara de Montefalco.

Herculano Pires lembra então que o livro “O manuscrito do purgatório” editado naquela data pelas Edições Paulinas, na qual a Irmã Maria da Cruz deixou um manuscrito onde ela escreveu “tudo o que a alma ditou”, alma essa que era de outra Irmã que havia desencarnado naquele mesmo convento. Essa é uma prova de uma psicografia católica.

Chico Xavier então, encerra o tema de forma absolutamente maravilhosa, dizendo a importância que tem o livro, como instrumento de cultura. “…E tão importante que o primeiro livro que veio para humanidade é um livro do mundo espiritual, um livro de pedra que foi os Dez Mandamentos.... /de Moisés!”.

Outro assunto bastante interessante e para aquele ano seria um tema de van guarda e para nós é bastante futurista ainda, é a orientação sobre nossas viagens para o espaço. Fomos informados que se não nos destruirmos nos próximos 50 anos serão esperadas grandes evoluções nesse sentido. O homem será capaz de criar cidades “estufas” de vidro e poderemos ter a possibilidade de entrar em contato com outras comunidades de nossa galáxia.

Nesse ponto Chico conta o episódio do avião a pedido de um telespectador. Eu adoro vê-lo e ouvi-lo narrar esse episódio, que está no fim do filme Chico Xavier.

Sobre a homossexualidade, ele relatou que é necessário respeitar a diversidade e estudar mais o comportamento sexual da humanidade. A frase, que para mim é um tanto quanto profética, eu não entendi muito bem o significado e do que o Chico falava. “E acreditamos que o comportamento sexual da humanidade sofrerá no futuro revisões muito grandes, porque nós vamos catalogar, do ponto de vista de ciência, todos aqueles que podem cooperar na procriação e todos aqueles que estão numa condição de esterilidade”.

Para encerrar o programa, após duas horas e quarenta e cinco minutos, Chico psicografa ao vivo, uma poesia de Cyro Costa (1879 – 1937) intitulada “Segundo Milênio”.

Após os agradecimentos e despedidas, Chico faz uma homenagem às mães e pede licença para fazer a oração que ele e sua mãe faziam. E faz a oração do Pai Nosso.

2° PROGRAMA 20 e 21/12/1971

Nessa data já eram 111 livros editados

Entrevistadores:

Responsável pelo “O Trabuco” (jornal radiofônico) Vicente Leporace

Parlamentar Freitas Nobre

Parapsicólogo Hernani Guimarães de Andrade

Redator do “Diário” Durval Monteiro

Repórter Saulo Gomes

Pessoas do auditório, e

Telespectadores através de telefone.

Temas abordados:

Tolerância entre umbanda e espiritismo e se após a morte a evolução continua; significado do Natal; reencarnação; tecnologia; condição social e política do Brasil; tarefa e compromisso com os livros psicografados; cirurgias plásticas; Dr. Fritz; formas dos corpos dos ETs; fotografia Kirliana e períspirito; jovens; pena de morte; padre Manuel da Nóbrega e Anchieta; criogenia; vegetarianismo; salvação; deficientes; planejamento familiar; comunicação eletrônica com Espíritos; movimento hippie; transplante de órgãos; mortes coletivas; cremação; milagres; boa religião; vidência; o caso do bilhete de loteria; censura nas comunicações mediúnicas; condições para manifestações mediúnicas; divórcio e alimentação; origem dos espíritos; sofrimento; homossexualismo e transexualidade na reencarnação; ligação do Espírito durante a gestação; Hebe Camargo; amor livre; jogo no Brasil; pedido de Blecaute; distanciamento de Chico da mídia; homem cocriador; consequências das conquistas humanas.

Os pontos que mais chamaram a minha atenção e me levaram à reflexão:

Resposta do Chico Xavier sobre o Brasil daquela data no terreno político e social.

Para justificar a escolha desse tema, é importante mencionar qual era o cenário do Brasil em 1971.

O regime político era, desde 1964, ditadura militar. O presidente da República era o General Emílio Garrastazu Médici, seu período na presidência, entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974, ficou conhecido historicamente como Anos de Chumbo.

Os Anos de Chumbo foram o período mais repressivo da ditadura militar no Brasil. Durante esse período, houve o desaparecimento e morte de centenas de militantes civis e ativistas envolvidos em atividades consideradas subversivas pelo governo militar ditatorial. Outros desses militantes foram obrigados a viver na clandestinidade ou pedir asilo político em outros países. Nessa época, a liberdade de imprensa, de expressão e manifestação foram cerceadas. Todos os meios de comunicação sofriam forte censura e não eram apenas temas políticos proibidos, mas muitos outros, de ordem moral, ou que pudessem gerar opiniões na sociedade.

Neste contexto, tornava-se muito complicado falar sobre política, principalmente em um programa televisivo, ao vivo, e campeão absoluto de audiência.

Nosso Chico disse que orássemos e agradecêssemos às Forças Armadas por defender as Leis, impedindo que descambássemos na desordem. Mas também pede a união dentro das Forças Armadas, para garantir nosso direito de orar, discursar¹, trocar opiniões e pontos de vista. Diz que espiritualmente estamos vivendo um conflito. Nossa invigilância poderá permitir que governos tragam ao nosso povo a chamada felicidade química, nos transformando em fantoches. Menciona que estávamos desfrutando de uma espécie de liberdade e que deveríamos reverenciar aqueles que estavam guardando a ordem em nosso país.

Uma resposta extremamente profunda e inteligente, eu li e reli várias vezes, com admiração, exatamente pelo cenário repressivo da época. Ao lê-la, em alguns trechos parece que o Chico estava falando para nossa época, quando se refere

a “felicidade química”. Concluí que o povo brasileiro precisa orar mais, muito mais, pois deixamos que “governos” nos trouxessem as drogas. (1 na pág. n° 146 Chico diz: “…Orar significa também discursar, expor nossos pontos de vista…”)

Uma outra fala do Chico que me fez refletir e me deu argumentos fortes para expor minha opinião, é a resposta sobre pena de morte, na página 166/167.

Chico Xavier narra a parábola do Bom Samaritano a pedido de Emmanuel, e nos ensina que Jesus não qualificou a vítima, era um homem, e a parábola pede que respeitemos o homem, qualquer homem, todos os homens. Os criminosos são doentes e a sentença punitiva é como um tratamento espiritual, mas somos todos irmãos e portanto não podemos censurar ninguém, e que devemos pedir a Deus para que os magistrados se compadeçam e que nenhum homem morra em nome da Justiça. A pena de morte vai contra os princípios Cristãos.

Sobre o planejamento familiar, não deveríamos controlar a natalidade porem, nos tempos atuais um casal pode considerar suas possibilidades planejando quantos filhos terão. Evitar a gravidez é melhor do que cometer o delito do aborto. Ele narra sobre uma senhora que praticou vários abortos e o estado dela após o desencarne. Lembra que existem muitos irmãos nossos que precisam reencarnar, mas nosso critério deve examinar essa possibilidade.

A respeito das mortes coletivas Chico responde que trata-se de débitos cármicos coletivos. E sobre cremação dos corpos diz que é legítimo, e no livro O consolador recomenda que aguarde-se por 72 horas. Essa informação é objeto de reflexões, pois atualmente esse prazo não é respeitado.

O tema homossexualismo está novamente nesse programa porem, sob outro ponto de vista, o da reencarnação. Nosso Chico relata que a inversão de sexo entre as encarnações pode influenciar uma pessoa no comportamento sexual, mas diz que a legislação deverá criar mecanismos para que todas as pessoas e famílias sejam respeitadas. Compara a fome (de comida), que é um problema removível, bastando redistribuir o trabalho com a fome afetiva lotará nossos sanatórios e todos os filhos da Terra serão amparados por essas leis baseadas na família e que o caráter deverá imperar acima dos sinais morfológicos.

Para encerrar Chico psicografa uma longa poesia de Castro Alves (1847 – 1871) intitulada “Brasil”

Chico faz os agradecimentos e homenagens as cidades de Pedro Leopoldo, Uberaba, Belo Horizonte e São Paulo, emocionado encerra o programa com a seguinte oração:

Glória a Deus nas alturas,

Paz na Terra, boa vontade

Para com todos os homens.

Feliz Natal a São Paulo

E a todos. Muito obrigado!

Dalva Marisi Gallo
Enviado por Dalva Marisi Gallo em 20/07/2014
Código do texto: T4889513
Classificação de conteúdo: seguro