O andar do bêbado

Erro muito por me preocupar pouco com os erros, preocupo-me mais em circunscrever, ou controlar os erros que em evitá-los; explicarei:

Os erros decorrem inevitavelmente dos riscos, quem arrisca erra. Quem não arrisca, por outro lado, acerta pouco.

Gosto de ideias surpreendentes, inovadoras: quem inova erra. Não há problema em errar, o problema é confiar no erro, problema gravíssimo, aliás.

"O andar do bêbado" trata de questões estatísticas, tema desagradável para quase todos; nem a mim jamais interessou, apesar de meu fascínio geral por números.

O tema ingrato, no entanto, permitiu ao autor revelar um filão desconhecido, provavelmente, em virtude da antipatia do assunto.

E eis que ele revela uma profusão de erros significativos e grosseiros de nossas avaliações e decisões cotidianas. Mas erros confiáveis, seguros, erros nos quais confiamos, nos quais apostamos!

Se não me preocupo muito em errar, apavora-me a possibilidade de confiar nos erros, de acreditar e me aferrar a eles. Tento manter uma posição relativamente céptica, confiando pouco nos fatos, considerando, quase sempre, possiblidades alternativas. Por me basear na razão, nas inferências lógicas, acreditar piamente em um erro pode me conduzir a um imenso e despropositado delírio alicerçado, todo ele, na suposição equivocada, mas tida como segura. Assim, mantenho poucas crenças, e inúmeras conjecturas, nas quais tenho confiança relativa.

"O andar do bêbado" me mostrou, no entanto, que tenho andado a esbarrar por aí, apoiando-me, muitas vezes, em suposições equivocadas, confiando em juízos disparatados, apoiando-me neles! A contundência do livro decorre exatamente da crítica a juízos comuns que fazemos em nosso dia a dia.

Com enorme frequência atribuímos ao mérito fatores decorrentes exclusivamente do acaso, recompensamos tais "méritos", labutamos para consegui-los. Somos confundidos, no entanto, por nossa cegueira relativa a fenômenos aleatórios. Escrevi "cegueira", mas é bem pior que isso, é "delírio"; o autor nos mostra que não deixamos, meramente, de perceber o acaso, mas, sistematicamente, tratamos suas consequências como resultantes de causas reais, e não da sorte. Nossa cegueira cotidiana, nossa incapacidade de compreender o acaso se torna visagem, alucinação, e nos compele a errar drástica e sistematicamente, como mariposas em torno de uma lâmpada lutando com afinco para voltar a se queimar, empenhadas em meta delirante.

Creio ser esse o ponto alto do livro, o que lhe confere importância: a exposição muito clara de erros cotidianos recorrentes baseados em nossa incompreensão sobre o acaso; mas erros ferrenhos, que defenderíamos fervorosamente.

O autor, Leonard Mlodinow, revela ainda surpresas intrigantes, como a lei de Benford, que assevera uma discrepância entre os algarismos, um inesperado privilégio dos algarismos menores, especialmente do "1", sobre os maiores, tornando-os muito mais frequentes que os outros, em todas as tabelas aleatórias.

Um livro surpreendente e desconcertante apresentado sob exposição clara e simples.