As Crônicas de Nárnia (C. S. Lewis)

As Crônicas de Nárnia, Volume Único

C. S. Lewis

Editora WMF Martins Fontes

Bom.

Ao longo da (demorada) leitura de As Crônicas de Nárnia, fui colocando os comentários da maioria dos livros assim que ia lendo, mas resolvi reunir todos aqui (logo, não estão mais nos posts anteriores, apenas neste).

Duas observações importantes: 1- Neste volume único dos livros sobre Nárnia, eles estão organizados na ordem cronológica da história. 2- Isto são comentários dos livros, e não seguem uma só forma; há os que apenas resumi e outros que gostei bastante e tiveram opiniões mais detalhadas. =)

O sobrinho do mago

Um dos pontos que mais me chamou a atenção antes de começar a ler As Crônicas de Nárnia, é que o C. S. Lewis era amigo do J. R. R. Tolkien. Ambos criaram histórias fantásticas, e mesmo que as do Lewis tenham seu toque de história infantil e as do Tolkien sejam muito detalhadas, a genialidade de ter criado algo mágico, e no caso do Tolkien toda a Terra Média, tem seu enorme significado para os leitores.

No Volume Único diz que a primeira história criada foi "O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa", e que a ordem dos livros dentro deste volume é de acordo com a preferência de C. S. Lewis. Porém, contudo, todavia, como a grande maioria já assistiu o filme deste livro que dizem ser o primeiro a ser feito, lá Nárnia já existe, enquanto que em "O sobrinho do mago" ela está sendo criada. "O sobrinho do mago" foi publicado originalmente em 1955, enquanto que "O leão, a feiticeira e o guarda-roupa" possui data de publicação de 1950 (isso consta nos dados dessa edição).

O sobrinho e o mago tem como personagens principais o tio André; seu sobrinho Digory; a vizinha deles, Polly; a feiticeira de Charn e o leão Aslam. Se passa em Londres, e começa com o encontro entre Polly e Digory, que se estranham de início mas logo estão se aventurando. Digory possui um tio, com o qual ele e sua mãe estão morando devido a doença dela, e esse, sempre muito esquisito, possui no sótão algo que ninguém tem acesso. Querendo ver o que tinha em uma casa abandonada próxima, as crianças acaba parando no sótão da casa do tio de Digory, o tio André. Lá encontram uns anéis em cima da mesa, e o tio todo esquisito. Os anéis foram feitos de um pó vindo de uma terra mágica, ou, como diz André, de outro mundo mesmo, não de outra galáxia porque ainda está no nosso mundo, mas de outro mundo totalmente diferente.

Conta ele que recebeu uma caixa da sua madrinha, quando ela estava prestes a morrer, e a recomendação de queimá-la logo após a morte dela. A caixa vinha de Atlântida, e ele demorou um certo tempo até abri-la. Quando abriu se deparou com esse pó "fininho e seco", que serviu de matéria-prima para os anéis. Esse que realmente funcionavam e levavam a um outro lugar.

Para não ocorrer spoilers, nem contar demais, já que a história é breve (não chega a cem páginas), resumidamente, o "outro mundo" existe mesmo, mas será ele logo de cara o mundo de Nárnia? Será que nesse outro mundo existe apenas Nárnia? E como já disse, é nesse livro que ela vai surgir, mas em um momento exato da história. E uma das partes mais fortes é justamente o momento da criação, junto à aparição de Aslam pela primeira vez.

De início não foi possível fazer uma associação entre "O leão, a feiticeira e o guarda-roupa" e "O sobrinho do mago", o que já no final do livro isso ficou mais claro. Porém, ainda tem detalhes nessa primeira história que podem ter ligação com detalhes do próximo (que é o do guarda-roupa), um exemplo é o poste que aparece no filme "As Crônicas de Nárnia: O leão, a feiticeira e o guarda-roupa". Então só lendo mesmo para saber. É de fácil leitura, e uma história que não deixa espaço para tédio e procrastinação devido a forma como foi escrita. Um ponto positivo é que os filmes (pelo menos até onde vi, apenas parte deles) mantém a força dos passos de Aslam, ou seja, a essência.

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"Pois o que você ouve e vê depende do lugar em que se coloca, como depende também de quem você é. [...] quando a gente quer se fazer de tolo, quase sempre consegue." (p. 69)

"Todos conquistam o que desejam, mas nem sempre se satisfazem com isso." (p. 92)

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O leão, a feiticeira e o guarda-roupa

Como já conhecemos de tanto o filme passar na televisão, a história se passa com quatros irmãos: Susana, Pedro, Edmundo e Lúcia, em uma época de guerra. Eles tiveram que sair de Londres por conta de ataques aéreos. Assim, são levados para a casa de um professor, localizada no campo e distante da linha de ferro e da agência de correio (três quilômetros a mais próxima).

Certo dia estava chovendo e os quatro, tendo que ficar dentro da casa, decidem explorá-la. É dessa forma que Lúcia acaba entrando no quarto onde está o guarda-roupa (que leva ao tal mundo mágico). Lá, logo que chega encontra o fauno Sr. Tumnus, e gostaria de chamar a atenção que a descrição dele no livro é exatamente como a do filme! (até onde lembro do filme, porque tem um tempinho que foi visto). O cachecol vermelho, o lenço, e tudo mais. O fauno Tumnus fica sentido, pois revela a ela que seu dever caso encontrasse um filho de Adão ou uma filha de Eva era levá-lo(a) à Feiticeira Branca, atual rainha desse mundo: Nárnia.

Lúcia volta correndo, achando que passou muito tempo pois na terra desconhecida já estava anoitecendo, mas não se passou mais que pouquíssimos segundos enquanto esteve no guarda-roupa. A menina tenta dizer que é um guarda-roupa mágico, mas não acreditam nela. Algum tempo depois vem mais um dia de chuva, e Lúcia decide entrar no guarda-roupa, de novo e Edmundo à vê, entando logo atrás. Lá ele encontra a Feiticeira, que o engana e convence a levar os outros irmãos para lá, prometendo torná-lo rei (o que, como sabemos, não acontece), enquanto Lúcia está com o Sr. Tumnus. Ele não diz que encontrei a Feiticeira em momento algum.

Observação importante: aquele doce aparentemente delicioso que a feiticeira oferece à Edmundo no filme chama-se Manjar Turco

Durante o livro há várias referências ao cristianismo. No vídeo que a Tati Feltrin fez sobre o mesmo livro ela fala que o Aslam é como Jesus. Sendo assim, há referências óbvias, como quando o Castor fala que Aslam vai voltar para salvá-los. E, também, a Magia Profunda, que está escrita na pedra onde Aslam é sacrificado.

Bom, em meio a toda a história há a tal profecia: 4 filhos, 2 de Adão e 2 de Eva vão acabar com o reinado da Feiticeira, e assumir o trono de Cair Paravel.

De início, é isso que a história fala, mas como disse a Tati Feltrin, confirmo que é uma história para criancinhas, não dá para esperar grandes momentos e é uma linguagem bem infantil mesmo, a forma como C. S. Lewis escreveu também. Para ler com a clareza sobre ser uma história infantil, ele é bom sim. Mas até agora o primeiro foi o melhor.

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"Mas se você sabe o que é isso, se já passou a noite toda acordado e chorou até acabarem as lágrimas... Então sabe que, no fim, desce sobre a gente uma grande calma. Chegamos até a ter a sensação de que nada mais nos poderá acontecer." (p. 173)

"Quando os pés estão corretos, todo o resto nos acompanha." (p. 178)

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O cavalo e seu menino

Shasta: menino criado pelo calormano Arriche, ao Sul. Certo dia chega um homem, mais especificamente um tarcaã, interessado em comprar o garoto. Arriche não concorda de início mas o tarcaã lembra que ele já lucrou bastante com o garoto, e isso era o que mais importava. Assim, o pai adotivo de Shasta dá sua proposta, e enquanto eles negociam Shasta se retira "de fininho". Descobrindo que o cavalo do estrangeiro (chamado Brirri-rini-brini-ruri-rá, mais a frente conhecido como Bri) sabia falar, suas dúvidas são respondidas: o tratamento que receberia se fosse com o tarcaã seria pior que o que já recebia com o calormano. Assim, programam de fugir.

Ao longo do caminho, eles encontram Aravis e seu cavalo Huin. A menina está fugindo de um casamento arranjado pelo seu pai. Assim, os quatro seguem a caminho de Nárnia, ambos os cavalos falantes, de Nárnia.

Chegando em Tashbaan, entram na cidade disfarçados, mas Shasta acaba sendo confundido com o príncipe Corin e levado. Os príncipes de Nárnia estavam no local e o príncipe de Tashbaan, Rabadash, filho do Tisroc ("que ele viva para sempre"), pretendia a todo custo casar-se com a princesa narniana Susana. Porém, ela não aceita, e os da terra de Nárnia voltam à mesma. Rabadash prepara um plano, com o consentimento de que, se morrer, seu pai possui mais filhos para assumir o trono e que está indo sem a permissão e aparentemente sem ele saber, planeja invadir Anvar, Arquelância e Nárnia, para tomar a princesa.

Enquanto isso, Aravis acaba encontrando uma amiga que está casada com um rico, e acaba em um castelo. A amiga dela ajuda na sua fuga; Shasta consegue fugir, assim que Corin retorna e ocupa o lugar onde seu sósia estava; Bri e Huin são levados para fora da cidade a mando da amiga de Aravis, a pedido da própria Aravis, no momento em que se encontram.

Assim, todos se reúnem onde marcaram, nos túmulos, e seguem pelo deserto, até chegar a Anvar. Lá Shasta descobre sua origem, e... lendo para saber.

Bom, basicamente é isso que se passa no início da história. De um todo, ela foi interessante. Os personagens são muito simpáticos, Shasta desde o começo. Parece que possui uma atração por histórias onde os personagens sofrem, e conseguem melhorar depois, quando isso se escreve de uma forma onde se mostre real.

Ao longo dela pode-se perceber a nobreza dos cavalos Bri e Huin, e a amizade enter Corin e Shasta (mais a frente chamado de Cor, quem ler saberá o porquê).

Mais uma vez pode-se perceber indicadores de comparação enter Aslam e Jesus, como nesta:

"- Bri, meu pobre, meu orgulhoso e assustado cavalo, chegue perto de mim. Mais perto, filho. Não ouse não ousar. Toque-me. Aqui estão as minhas patas, aqui está a minha cauda, aqui estão as minhas suíças. Sou um verdadeiro animal."

Esta lembrou quando Jesus mostrou suas chagas a quem não acreditou que ele ressuscitou, e toda aquela historinha. E também quando fala "sou um verdadeiro animal", pude comparar ao fato de Jesus se mostrar homem, antes de filho de Deus, se igualando a nós, e assim, mostrando que podemos chegar a ser como ele.

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"[...] pois, quando se está com medo, o melhor é olhar para o perigo e ter por trás algo firme em que se possa confiar." (p. 230)

"Tinha muito em que pensar, é claro, mas pensar sozinho não faz o tempo andar mais depressa." (p. 231)

"Também sindo como Bri que não posso mais. Mas quando cavalos levam humanos nas costas não são muitas vezes obrigados a continuar, mesmo não aguentando mais? E não descobrem no fim que ainda eram capazes de suportar mais um pouco? Pois então, será que não podemos fazer uma forcinha, agora que estamos livres?" (p. 251)

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Príncipe Caspian

A história de Caspian X começa quando os Susana, Pedro, Lúcia e Edmundo, que já haviam sido reis e rainhas de Nárnia no ano anterior (isso no nosso tempo), estão na estação de trem rumo à escola quando começam a se sentirem puxados, sem saber quem está puxando/beliscando quem. Quando percebem, no meio da agitação deles, já estão em uma praia, a beira de uma enorme floresta.

Começam a surgir as dúvidas, refrescam-se no mar e Edmundo propõe que é melhor explorarem a mata, assim, vão floresta adentro até encontrarem macieiras e as ruínas de um castelo. Surge, então, as semelhanças e as dúvidas se este era o castelo de Cair Paravel, onde os quatro reinaram em tempos passados.

Da foz do rio surge um barco, com dois homens e uma criatura, que diziam querer soltar junto aos fantasmas. A boa mira de Susana acerta aos homens, a ponto de assustá-los apenas, mas acaba acertando um e o outro foge para a floresta. Buscam a criatura, amarram ela e daí começam a entender o que se passa e por que foram levados até ali. Nárnia estava sendo governada por Miraz, o regente do príncipe Caspian X, filho de Caspian I, este um telmarino que lutou contra os seres que existiam em Nárnia (como faunos, sátiros, anões, gigantes) e fez ali seu reino.

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"- Não seria medonho se um dia, no nosso mundo, os homens se transformassem por dentro em animais ferozes, como os daqui, e continuassem por fora parecendo homens, e a gente assim nunca soubesse distinguir uns dos outros?" (p. 349)

"De tanto sofrer e odiar ficou azedo por dentro." (p. 374)

"- Muito bem! - replicou Aslam. - Se dissesse que tinha a certeza, seria prova de que não estava apto a reinar." (p. 389)

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A viagem do Peregrino da Alvorada

Em "Príncipe Caspian", Aslam diz à Susana e Pedro que esses não voltarão mais à Nárnia, apenas Lúcia e Edmundo. Assim, certa época os pais deles vão aos Estados Unidos, e não podem levar todos. Pedro volta à casa do tio do livro "O leão, a feiticeira e o guarda-roupa" para estudar para testes; Lúcia e Edmundo são levados para a casa de uns tios, onde há o primo Eustáquio Mísero; e Susana é a única que segue com seus pais.

Na casa desses tios, Lúcia está conversando com Edmundo no quarto onde ela está hospedada, quando Eustáquio chega e interrompe a conversa, dando opiniões a respeito do tal mundo onde os meninos já foram. Enquanto estão discutindo, percebem que a água do quadro do quarto, que retrata um mar e um... barco ou algo do tipo, começa a se mexer. Eustáquio começa a se desesperar, enquanto a água do quadro começa a sair. Ele se prende à borda e acabam sendo puxados para dentro.

Lá se encontram no meio do oceano, e por sorte dão com o barco da pintura, onde encontram Caspian, que agora é rei e está atrás dos 7 fidalgos de seu pai, Caspian I, que foram mandados para explorar os mares, chegando às Ilhas Solitárias, até então desconhecidas, quando Miraz tomou o reino de Nárnia (história de "Príncipe Caspian"). Daí se iniciam as aventuras.

A história conta a jornada deles pelas Ilhas Solitárias, em busca de cada um dos sete, passando por ilhas onde há tráfico de pessoas, dragões, águas que transformam o que toca neles em ouro, seres invisíveis, entre outros.

No início não estava tão interessante, pois era mais as viagens deles pelo mar, passando pelas ilhas, e com Eustáquio sendo quem ele era até então: remugando sobre tudo. Porém, da metade para o final, depois de passar pelas ilhas do Dragão e dos Tontos ficou melhor.

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"Acho que quase todos nós temos um país secreto, que, para a maioria, é apenas um país imaginário." (p. 404)

"- Minha filha, já não lhe expliquei uma vez que ninguém sabe o que teria acontecido?" (p. 475)

"- Para mim, todo o tempo é breve - respondeu Aslam" (p. 476)

"Já são muito crescidos. Têm de chegar mais perto do próprio mundo em que vivem." (p. 514)

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A cadeira de prata

Após Lúcia e Edmundo saberem que não voltariam mais à Nárnia, os quatro irmãos que foram reis e rainhas um dia saem de história, e ficam apenas nas lembranças dos habitantes e na história. Agora, Eustáquio e sua amiga seriam os protagonistas das aventuras pelo país dos narnianos.

Estava Eustáquio no Colégio Experimental, onde "estudava", ou não, pois era uma escola sem o ensino normal das matérias, quando encontrou uma garota, chamada Jill Pole, chorando devido aos tormentos que recebia de outros alunos. Por ser uma escola experimental, os alunos agressores não eram punidos. Pouco tempo de conversa e os tais se aproximavam, procurando por Jill. Eustáquio e ela fogem pela vegetação, subindo um terreno íngreme, e chegando a uma muralha com um portão. "- Se ao menos a porta estivesse aberta!" E ela se abre. Assim, os dois entram no local, onde as coisas começam a mudar e já se sente um ar diferente.

Eles acabam discutindo na beira de um abismo, onde Jill fica paralisada. Eustáquio tenta puxá-la, mas ela não cede, de forma que ele acaba escorregando e caindo. Jill encontra o Leão Aslam, pouco depois, descobrindo que o garoto estava em Nárnia, e que ela deve ir também, onde as duas crianças devem procurar pelo príncipe perdido, filho de Caspian X, lhe dando quatro sinais que devem ser seguidos para que a busca se realize com sucesso.

"- [...] Estes são os sinais pelos quais hei de guiá-la na sua busca. Primeiro: logo que Eustáquio colocar os pés em Nárnia, encontrará um velho e grande amigo. Deve cumprimentar logo esse amigo; se o fizer, vocês dois terão grande ajuda. Segundo: vocês devem viajar para longe de Nárnia, para o Norte, até encontrarem a cidade em ruínas dos gigantes. Terceiro: encontrarão uma inscrição numa pedra da cidade em ruínas, devendo proceder como ordena a inscrição. Quarto: reconhecerão o príncipe perdido (caso o encontrem), pois será a primeira pessoa em toda a viagem a pedir alguma coisa em meu nome, em nome de Aslam." (p. 531-2)

Jill chega a Nárnia, onde encontra Eustáquio (este que chegou lá pouco antes dela), e se deparam com um castelo, o de Cair Paravel, um navio com um velhinho entrando nele (Caspian X, pois o tempo em Nárnia é diferente, e se passaram muitos e muitos anos desde a aventura pelas Ilhas Solitárias, onde Eustáquio conheceu Caspian), e muitos a se despedir. As crianças se deparam com uma coruja, que vem ao encontro deles dizendo tê-los visto de longe, e guia eles até o lorde regente Trumpkin, também já velho. Um pouco depois, são levados até o castelo, e servidos com comida e quarto. Por enquanto, apenas a coruja sabia dos sinais e da busca pelo filho do rei Caspian X, Rilian.

Abrindo um parêntese: o príncipe Rilian sumiu após uma das buscas pela assassina de sua mãe. Certo dia, foram ele, seu pai e sua mãe, levando escudeiros e damas de companhia, para uma clareira. A mãe acabou adormecendo, e todos se afastaram para não acordá-la com qualquer barulho. Foi nesse instante sozinha que ela foi picada por uma cobra que saiu da floresta, e morreu. Rilian seguiu por dias atrás da tal serpente pela floresta, levando Drinian para ver o que ele dizia ter visto: ambos viram uma mulher, chamando Rilian para se aproximar, "[...] Era alta, viçosa, coberta por uma veste verde como veneno." Na visita seguinte a esta que foi acompanhado, desapareceu.

Após se retirarem para os quartos, a coruja busca Eustáquio e Jill e leva ao encontro de outras corujas, onde irão decidir o que fazer a respeito da missão das crianças: ir rumo às ruínas dos gigantes, ao Norte. São levados ao encontro de um paulama, onde, depois de conversar e convencer o pessimista que o paulama chamado Brejeiro era. Dali, no dia seguinte, vão rumo ao Norte, onde tudo começa.

De todos os livros até agora, neste houveram os momentos mais tensos: em Harfang; e na cidade subterrânea, quase no final da história. Ora parecia dar tudo certo, ora a situação ia para o caminho de dar tudo errado. Mas a sequência dos fatos se mostrou bastante dinâmica, pois se manteve o otimismo e o pessimismo do leitor oscilando de acordo com o momento. Não havia uma predestinação exata, apenas foram seguindo e fazendo o que achavam que iria ajudar (muitas vezes a salvar a vida), e assim chegaram ao local. Isso pode ser analisado pelo lado religiosos/cristão: faça o que acha ser melhor, e Deus ou Aslam guiará vocês.

Houve, também, mais um trecho com aparência de referência cristã:

"- Não liguem para ele - disse Brejeiro. - Não existem acasos. Nosso guia é Aslam; e ele estava presente quando o rei ordenou que as letras fossem gravadas; e já sabia todas as coisas que viriam, inclusive esta." (p. 586)

Aslam onisciente e onipresente.

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"Chorar funciona mais ou menos enquanto dura. Porém, mais cedo ou mais tarde, é preciso parar de chorar e tomar uma decisão." (p. 527)

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A última batalha

A última história entre as que se passam em Nárnia se inicia com dois personagens: um macaco chamado Manhoso e um burro chamado Confuso; os nomes de cada um estão diretamente relacionados à suas personalidades.

Certo dia, eles encontram a pele de um leão, e Manhoso tem a ideia de vestir o burro com ela. Assim que veste, tem outra ideia: fazer o burro com a pele de leão se passar por Aslam, e assim é feito. Muitos séculos e gerações se passaram desde o reinado de Rilian, que começou no final de A cadeira de prata, e as aparições de Aslam também cessaram. A notícia de que ele estaria por perto foi se espalhando, e todos ficaram encantados por eles estarem perto.

O atual rei, Tirian, estava ali pela floresta com seu unicórnio (sim, unicórnio) Precioso, quando recebe a visita de uma dríade avisando que as árvores estão sendo derrubadas a mando de Aslam e descobre que os animais estão sendo escravizados pelos calormanos. Na sua frente, a dríade cai, e ele descobre que a árvore a qual ela pertence foi derrubada.

Tirian manda o centauro Passofirme ir até Cair Paravel e formar um exército que o encontrasse no local onde estava o tal Aslam e o macaco, este se dizendo ser um humano para os narnianos e que estaria interceptando a aparição do suposto leão, e vai rumo ao local com Precioso. Lá, após dizer que tudo era uma farsa, mandam amarrar ele em uma árvore, e fica lá, até ter uma "visão".

Amarrado à arvore, ele pede a ajuda à Aslam e vê, como se fosse um sonho, que está em um local diferente, com sete pessoas à sua frente, entre elas jovens e adultos mais velhos. São estes os sete amigos de Nárnia. Dois dos sete ali reunidos, eram Polly e Digory, os primeiros a ir à Nárnia, ainda em O sobrinho do mago, junto do rei Pedro, Lúcia, Eustáquio, Jill e Edmundo (Susana já não se importava com conversas sobre Nárnia, considerando brincadeira de quando eram menores).

Daí, coisas rápidas acontecem: Eustáquio e Jill aparecem e libertam o rei. Eles se escondem, se "fantasiam" de calormanos, se armam como tais, e Tirian vai libertar Precioso no estábulo (este preso lá quando o rei foi amarrado à arvore). Jill sai do local onde o rei deixou ela e Eustáquio, vai até onde o suposto Aslam estava, e encontra um burro com a pele, este que não se importa de ser levado pela menina por não suportar mais ficar ali trancado o tempo todo, apenas fazendo uma aparição rápida para o povo durante tarde da noite. Jill mostra aos outros (Tirian, Eustáquio e Precioso) o burro, e daí eles perdem o medo. Sabendo que vinha uns anões que iriam ser escravizados, estes vão até lá, mantam os "guardas" calormanos que os guiavam, mas se surpreendem com a reação dos anões. Ao serem libertados não foi visto alegria.

- Aliás, acho que não queremos mais rei nenhum - se é que você é Tirian, o que eu duvido muito. E não queremos mais saber de Aslans nem de coisa alguma. Daqui para a frente vamos é tratar de nossa própria vida, sem prestar reverência a ninguém. (p. 673)

Nesse tempo, acabam vendo Tash, também. Cair Paravel é tomada por calormanos, logo, o exército que Passofirme foi organizar não chegaria, e chega a notícia de que o centauro foi morto, dada pelo mesmo para uma águia fiel à Aslam e ao rei levar, assim, ela se une rumo à batalha.

Vão para o local onde o jumento estava, e, escondidos, à noite quando ele apareceria a todos, o macaco diz que Aslam está zangado porque há um jumento andando por Nárnia com uma pele de leão, se passando por ele. Assim, não adiantaria o rei e os demais mostrarem o jumento, pois o macaco já havia inventado outra mentira em cima da anterior. Lá, no estábulo, começa a batalha. Aos poucos, eles vão acabando dentro do misterioso local onde supostamente estaria Aslam, mas que, no momento em que chegaram lá, se tornou um mistério.

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" - Se você tivesse passado menos tempo dizendo que não era esperto e mais tempo tentando ser esperto..." (p. 678)

" - Quanto mais se sobe e mais se entra, maior tudo vai ficando. O interior é muito maior que o exterior." (p. 735)

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Três maneiras de escrever para crianças, C. S. Lewis

Após terminar de ler as histórias "infantis", o final desta edição traz uma parte onde C. S. Lewis fala sobre maneiras e a escrita destinada a crianças, e a ideia de literatura adulta e infantil.

Ele começa expondo as três formas de se escrever:

"[...] 'dar ao público o que ele quer'. As crianças, evidentemente, constituem um público especial; basta descobrir o que elas querem e lhes oferecer exatamente isso, por menos que nos agrade."

A segunda se assemelha a primeira, pois o escritor dar à criança o que ela quer, porém este é destinado a apenas uma criança. "O livro publicado nasce de uma história contada de viva voz e talvez espontaneamente a uma determinada criança."

"[...] consiste em escrever uma história para crianças porque é a melhor forma artística de expressar algo que você quer dizer." Ou seja, não é destinado à crianças logo no início, mas simplesmente se escreve, e o texto escrito se encaixa nesta classificação: a de literatura infantil.

Clive Staples Lewis acredita que uma história feita somente para crianças não é uma boa história, talvez com esse pensamento tenha vindo os sete livros que compõem As Crônicas de Nárnia, pois são histórias que, mesmo sendo "infantis", servem também para uma leitura adolescente ou até adulta, como disse a Tati Feltrin (link no final do texto), há coisas que só um olhar adulto consegue perceber. Lhes digo que, mesmo que só um olhar adulto percebe tais pontos, eles existem, ali nas entrelinhas das entrelinhas.

Inclino-me quase a afirmar como regra que uma história para crianças de que só as crianças gostam é uma história ruim.

Em um trecho, se refere ao retardamento mental X crescimento e desenvolvimento:

Preocupar-se em ser adulto ou não, admirar o adulto por ser adulto, corar de vergonha diante da insinuação de que se é infantil: esses são sinais característicos da infância e da adolescência. E, na infância e na adolescência, quando moderados, são sintomas saudáveis. É natural que as coisas novas queiram crescer. Porém, quando se mantém na meia-idade ou mesmo na juventude, essas preocupação em "ser adulto" é um sinal inequívoco de retardamento mental.

Para ele, não é preciso deixar de lado coisas da infância para poder "se tornar adulto" e gostar de coisas adultas. É preciso, apenas, acrescentar, e não trocar.

Mas, na verdade, o retardamento consiste não em recusar-se a perder as coisas antigas, mas sim em não aceitar coisas novas. Hoje gosto de vinho branco alemão, coisa de que tenho certeza de que não gostaria quando criança; mas não deixei de gostar de limonada. Chamo esse processo de crescimento ou desenvolvimento, porque ele me enriqueceu: se antes eu tinha um único prazer, agora tenho dois.

E o mesmo pensamento é considerado por ele para a literatura.

Sobre a construção de personagens não humanos, para C. S. Lewis, estes personagens se mostram característicos de humanos, da variedade humana, e podem ensinar muito sobre culturas. Para mostrar isso, ele usa como exemplo um personagem de O vento nos salgueiros, escrito por Kenneth Grahame, o sr. Texugo:

Consideremos o sr. Texugo de O vento nos salgueiros - amálgama extraordinário de superioridade hierárquica, maneiras bruscas, mau humor, timidez e bondade. A criança que algum dia encontrar o sr. Texugo guarda para sempre, em seu íntimo, um conhecimento da humanidade e da história social inglesa que não poderia adquirir de nenhum outro modo.

A acusação que os contos de fadas recebem de causar uma falsa impressão nas crianças, do que é o mundo real, é defendida pelo autor:

Na minha opinião, porém, nenhum outro tipo de literatura que as crianças poderiam ler lhes daria uma impressão tão verdadeira. As histórias infantis que se pretendem "realistas" tendem muito mais a enganar as crianças. Quanto a mim, nunca achei que o mundo real pudesse ser igual aos contos de fadas. [...] Todas as histórias em que as crianças passam por aventuras e sucessos que são possíveis, no sentido de que não rompem as leis da natureza, mas quase infinitamente improváveis, tendem muito mais que os contos de fadas a criar falsas expectativas.

Se os livros sobre Nárnia e a escrita nesses se mostrou interessante, essa parte final foi muito mais. Nela, Lewis fala com criticidade, com sua opinião, sobre questões como literatura considerada adulta e literatura considerada infantil; sobre essa capa que cobre a fase adulta, onde muitos na infância querem estar, mas o pior é os próprios jovens e adultos ainda terem essa fantasia onde é preciso deixar coisas da adolescência e principalmente da infância para trás, para poder "ser adulto". Demonstra, também, pensamentos sobre os contos de fadas, e sobre o escapismo, onde entre em discussão a literatura "real" e a fantástica, entre um exercício espiritual e uma doença, entre os medos.

Nas últimas páginas, o autor nos mostrou que as crianças devem, sim, sentir o medo típico da idade, e é melhor sentir de seres como dragões do que de ladrões. Que "se você só deixar que seu filho leia histórias inocentes sobre a vida infantil, em que nada de assustador jamais acontece, além de não conseguir eliminar os terrores, acabará por eliminar da vida dele tudo o que possa torná-los respeitáveis ou suportáveis."

E, para finalizar:

Devemos encarar as crianças como nossos iguais naquela região da nossa natureza em que efetivamente somos iguais. Nossa superioridade consiste, por um lado, em termos acesso a outras regiões [...] É claro que temos de nos esforçar para não lhes fazer mal; e podemos, se a Onipotência assim quiser, ter a ousada esperança de fazer-lhes algum bem - mas não mais que o bem de tratá-las com respeito. [...] Certa vez, num refeitório de hotel, eu disse em voz um pouco alta demais: "Odeio ameixas secas." De outra mesa, inesperadamente, ouvi a voz de um menino de seis anos: "Eu também." A simpatia entre nós foi instantânea. Nem eu nem ele achamos aquilo engraçado.

Bom, estas foram as minhas impressões, breves resumos, comentários e citações a respeito deste livro. Aqui está o link para o vídeo da Tatiana Feltrin, do canal TINY little ThInGs, sobre o mesmo.

Obs.: todas as citações colocadas aqui foram retiradas do livro (volume único) e estão indicadas pela página. Caso localizem algum erro, por favor, falem nos comentários.