A melancolia de Viktor Frankenstein [Frankenstein]

Ponho-me a escrever nesta tarde sobre o livro "Frankenstein", de Mary Shelley, o qual nos mostra até onde vai a curiosidade de uma pessoa, e mais ainda onde os seus objetivos podem levar. Não que eles levem à um lugar ruim ou arruinador sempre (como os de Viktor Frankenstein o levaram) mas que, mesmo o que parecia impossível e inacreditável, ele conseguiu realizar. É uma obra que deixa perguntas e lembra a seguinte frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" (O Pequeno Príncipe), o que pode ser percebido pela culpa que Viktor se impõe, sabendo que foi resultado de suas mãos o monstro que cometera tamanhas atrocidades.

Sobre tal criatura, podemos ressaltar a sua dupla personalidade e sua história. Como a própria diz, poderia viver longe de todos e deixá-los em paz se lhe fosse concedido o que desejava; não sendo, iria se vingar e foi exatamente o que fez. Quanto ao seu criador, tinha todas as oportunidades e formas de ter uma ótima vida, não havia tragédias nem consigo nem com sua família, até a criação ser finalizada. Contudo, consolidou certo dia um tremendo erro, fazendo aquilo que seria a causa do seu infortúnio até seus últimos dias de vida, mergulhando-se em enorme melancolia e estado depressivo, vendo seus amigos e familiares mortos pelo resultado de seu próprio trabalho, de sua própria curiosidade. É realmente atormentador.

Há um ponto intrigante: sendo o Frankenstein feito com a base humana, como reprodução de uma vida, então as pessoas podem ser boas ou más dependendo de quem lhes atrapalha? Dependendo de suas vontades serem realizadas ou não? Dependendo dos seus conceitos quanto ao dever que o outro tem consigo? São perguntas que ficam no ar pelo livro. Minha interpretação e hipótese é: o Frankenstein foi uma criação na forma bruta. Precisaria viver, como ele mesmo disse, não possuiu uma infância, uma família, os primeiros contatos, não construiu uma personalidade. É um estado puro, como um diamante bruto, como qualquer objeto que não foi preparado, e é isso que o ser humano pode ser, é isso que o ser humano é na sua essência inicial. A diferença, tamanha diferença, entre um ser humano e a criatura quanto a isso é que esse estado bruto inicia-se na infância, nos primeiros meses e anos, onde se vai aprendendo, com as experiências iniciais e principalmente por toda a adolescência. É aí o foco e a consolidação de toda formação base do caráter e de si. Para Frankenstein, seu pedido não sendo aceito, ele tinha todo o direito de infernizar até o último dia a vida de seu criador, mesmo alegando, no final, ter feito com o coração partido e machucado, e tendo sentido mais que o próprio, sofredor de todas as desgraças.

Uma tentativa de reproduzir um humano que fracassou. Mesmo conseguindo estabelecer uma linha de pensamento, sendo lógico, não usou a razão para pensar e seguiu na maioria das vezes seus instintos.

Ana P A
Enviado por Ana P A em 10/09/2014
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