1984

A última imagem que lembrava dela era no fundo do navio. Este cheio de tantas tralhas, mas jóias também

Enquanto a água a submergia ele encontrava ar para respirar, no alto do barco. Ela mantinha os olhos fixos nele, não importa o quanto afundava ou a água turvava sua visão

Não havia censura, sabiam que ela havia de morrer para que ele pudesse viver

O barco era a visão dela e a imensidão o navio do rapaz

Ele podia afundar com ela

Podia tentar salvá-la...

Já o havia feito por outras inúmeras vezes neste sonho recorrente

Mas era mais do mesmo, aqueles sonhos em que há uma comunicação com o sonhador e o sonhado

Aqueles em que você acorda ainda acreditando na veracidade das idéias e achando válidas à sua consciência.

Ela era tão freqüente em seus escapes de realidade que ele não tinha plena certeza de que era ou não real, se tinha vivido ou até tocado-a

Em suas divagações, costumava retornar ao abismo entre seus mundos

Lembrar as cenas fora do navio, talvez reais, vezes banais:

Num quarto alugado

Ela pegou sua roupa e jogou de lado com desdém falso

Tinha no corpo um imã indefinível, indecifrável

Mas na verdade ele mal olhou praquele corpo

Por estar tomado pelo seu gesto

Os gestos o hipnotizavam, apesar do calor de sua pele nunca esvair de qualquer outra degustação

Ela não entendia este ato dele

De não render-se à sua arma.

Sua tirania era tamanha que não se deixava morrer no navio

Nem no quarto alugado, nem no remoto passado

Pois o romantismo egoísta que sentia era mais saboroso ao saber que sempre seria memoriada em alguma escrita displicente

Peter Dahn
Enviado por Peter Dahn em 24/10/2014
Código do texto: T5010888
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