SÍNTESE DE 3 OBRAS DE SÃO JOÃO CRISÓSTOMO:

SÍNTESE DAS OBRAS DE SÃO JOÃO CRISÓSTOMO:

Da incompreensibilidade de Deus,

Da providência de Deus, e

Cartas à Olímpia.

(Por: Frei Jonas Matheus Sousa da Silva OFM cap)

São João Crisóstomo (345-407), doutor da Igreja, nasceu em Antióquia da Síria. Com fama de excelente líder e pregador, recebeu o encargo de bispo de Constantinopla em 398. Pregou em favor da justiça e dos pobres contra a elite e, o clero, por uma reforma ética na sociedade. O patriarca de Alexandria, Teófilo, e a imperatriz pressionaram o imperador que depois de um concílio local e, após vencer um ano de resistência do povo a favor de João, o exila na Armênia em 404. O povo continuou peregrinando até João indo à Armênia. Isso fez o Imperador o remover para a costa oriental do mar Negro, mas João morre nesta viajem. Sua reabilitação pública ocorreu em 408.

DA INCOMPREENSIBILIDADE DE DEUS (ID)

I Homília: Trata das ovelhas que chegaram em ordem às pastagens, apesar da ausência do pastor, que se acha presente não física, mas espiritualmente. Diz que a nobreza da alma, mais se caracteriza pelos êxitos obtidos pelo próprio esforço, que com os dons recebidos do alto. Pondera que quando a ciência desparecer (cf. I Cor. 13), a condição humana há de piorar, já que aquela é própria do homem, pois é pela ciência que o homem realiza a sua propriedade de temer a Deus. Assim o homem estará completamente perdido, numa situação inferior a dos animais. Porém, Paulo o afirma, não em relação à ciência total, mas à ciência parcial, pois essa se tornará perfeita.

“Onde estão, portanto, os pretensos detentores de um conhecimento total, que, no entanto, mergulharam no profundo do abismo da ignorância? Ora, os que afirmam possuí-lo totalmente, agora, excluem-se do conhecimento completo do futuro” (ID, 1hm, pp.22-23).

O dom de Deus é inexprimível. Seus juízos são insondáveis e ininvestigáveis os Seus caminhos.

II Homília: Quando Deus se revela o que importa é aceitar com fé a Sua Palavra, ao invés de se deter com discussões inúteis que buscam investigar indiscretamente o ser de Deus. Chamam-me de louco e ímpio, mas conforme o apóstolo Paulo essa loucura é mais racional que toda espécie de sabedoria, pois, a loucura por causa de Cristo alcança o que a sabedoria do mundo não pode descobrir. A verdade que Deus revela não é para ser investigada indiscretamente, mas acolhida com fé. Conforme o exemplo do castigo recebido por Zacarias (cf. Lc 1), não é lícito argumentar quando Deus fala nem opor a sequencia dos fatos e a lei da natureza à Palavra divina.

“Quem for temente a Deus não perscrute, adore; não pesquise indiscretamente, bendiga e glorifique” (ID, 2hm, p.45).

III Homília: Combate a heresia dos amoneus, pede a graça do Espírito Santo para extirpar a heresia. Deus é imutável em Sua glória. Invoque-se o Senhor como Deus incompreensível, inexprimível, invisível e inconcebível. O Artífice está acima da compreensão de todas as suas criaturas. São Paulo afirma que a morada e Deus é inacessível, para que Ele seja reconhecido como incompreensível. Deus, em Sua condescendência, não se mostra tal qual é, mas adapta-se a fraqueza dos videntes, nas teofanias bíblicas. Homens distantes das virtudes se gabam de conhecer com inteira exatidão o Ser supremo, no entanto o profeta Daniel não pode suportar a visão de um só dos anjos de Deus. A multidão enche o templo para escutar a homília, porém no momento do sacrifício, deixam-no e não intercedem pelos irmãos possessos. Quanto aos que se desculpam por rezarem em suas casas: “Se, de fato, podes rezar em casa, não podes rezar do mesmo modo que na Igreja, onde se encontram grande número de Pais e onde um clamor unanime sobe até Deus” (ID, 3hm, p.63).

IV Homília: Nosso interesse não consiste em calar nossos opositores, porém em instruir cada vez mais vossa caridade. Temos pressa em eliminar as objeções inoportunas, dos ignorantes que não aceitam os limites da natureza humana. O que representa ser inacessível é mais abrangente do que ser incompreensível. Não há alguma ordem angélica que possua compreensão completa de Deus. A compreensão prestada à natureza humana é que as Virtudes do alto são informadas sobre os segredos de Deus a partir de seus desígnios para com os homens. Deus é simples, sem composição, nem figura, nas teofanias os profetas o perceberam em um dos seus múltiplos aspectos. O que para nós é visão, para as Virtudes é conhecimento.

V Homília: A divisão dos assuntos a serem tratados em vários dias da homília é para se atingir uma medida justa, aprazível, útil e salutar. O conhecimento do Pai é comum ao Filho e ao Espírito Santo, assim como os títulos de Senhor e Deus, o são. Nem sobre os anjos o homem deve ousar perscrutar o ser, “por que falar dos anjos, se nem mesmo a essência e nossa alma nos é suficientemente conhecida?” (ID, 5hm, p.91) e, “não é por ignorar a essência de Deus que alguém o desconhece, mas ao contrário, por pretender conhecê-La” (ID, 5hm, p.95). Deve-se rezar para que os ímpios desistam de sua loucura. A oração do pobre e do humilde é logo atendida, mas Deus também usa de misericórdia com quem, arrependido, confessa suas culpas. Ser humilde é mesmo sendo justo, reconhecer-se pecador.

DA PROVIDÊNCIA DE DEUS (PD)

Capítulo 1: Curamos as doenças espirituais preparando o remédio da Palavra que chega a todo o mundo. Vamos expor a origem do mal do escândalo.

Capítulo 2: São Paulo, apóstolo, com toda a sua grandeza e virtude ficou estupefato ao tocar no tema da providência divina a respeito de judeus e gentios, e logo se apartou do que é incompreensível. “ó abismo da riqueza da sabedoria e ciência de Deus! Como são insondáveis seus juízos e imperscrutáveis seus caminhos!” (Rm 11, 33). Não somente é impossível compreendê-los, como também começar a expô-los.

Capítulo 3: Também para os Serafins, Deus é incompreensível e inacessível e usa de condescendência, “e tu, não irias esconder-te, não te meterias num buraco, tu que, com tal audácia querias perscrutar a providência de um Deus cujo poder é indizível, inexprimível, incompreensível às potestades do alto” (PD 3, 4).

Capítulo 4: Assim como na criação há ervas medicinais, mas também ervas venenosas, etc, também muitos na Igreja, haveriam de se escandalizar e criar heresias. Moisés, para afastar toda a vã curiosidade acerca da criação e de sua ordem querida por Deus, enfatizou após cada obra que Deus viu que eram boas.

Capítulo 5: Não faço votos que perscrutes a Providência, mas que te confies a ela!

Capítulo 6: “Para os dotados de boas disposições, é suficiente a Revelação de Deus, antes mesmo da prova extraída de suas obras, para mostrar sua providência e ainda Seu extremado amor por nós” (PD 6,1). Exemplo do profeta Jonas.

Capítulo 7: Deus criou todas as coisas em sua ordem, harmonia e beleza para o bem do homem. Também, para que a partir da perfeição da obra, o homem chegue à sabedoria e ao conhecimento do Criador. A morte, bem como o dom de existir também integra a bondosa providência divina.

Capítulo 8: Como os homens se tornassem duros perante o testemunho da criação, Deus em Sua providência e misericórdia lhes enviou profetas, até o ponto de lhes mandar Seu Filho, obediente até a morte de cruz.

Capítulo 9: Não é conveniente perscrutar a providência divina, mas se és curioso aguarda o termo de tudo! “O plano de Deus, de fato, está elaborado em função de cada uma dessas duas vidas [presente e futura], em vista de nossa salvação e de nossa glória” (PD 9,5). Quando vires a Igreja ser perseguida, consideres, sem escândalo, o prêmio que lhe aguarda!

Capítulo 10: O exemplo de Abraão (da esterilidade à fecundidade, sacrificar Isaac), ele não perscrutava os desígnios de Deus, por isso não se escandalizou, mas confiou. O exemplo de José vendido por seus irmãos fratricidas, tentado ao adultério e lançado na prisão, mas sem escândalo.

Capítulo 11: “Os justos de outrora não cogitavam como e de que maneira as promessas se realizariam” (PD 11, 1)

Capítulo 12: Foi calculado aos maus agirem livremente pela razão de que não fossem privados do bem resultante da conversão.

Capítulo 13: Abraão, Noé e Jó, não dispuseram de sacerdotes, porém foram fieis a providência divina e viveram antecipadamente as Bem aventuranças.

Capítulo 14: No tempo apostólico também houveram muitas perseguições e pesadas ocupações com o zelo das comunidades, porém eles confiaram na providência do Senhor. Oposição entre o bom ladrão e os judeus escarnecedores na Paixão do Senhor.

Capítulo 15: Louvor à cruz de Cristo e a vitória que ela alcançou na restauração do mundo. O escândalo da cruz não é proveniente da natureza da cruz, mas da loucura dos que se escandalizam.

Capítulo 16: Exemplos de Abel, José, Daniel, Misael, Ananias, Azarias e de João Batista.

Capítulo 17: O mistério da cruz é tão eminente na Providência divina, que por sua grandeza Cristo repreendeu o primeiro dos apóstolos e, o evento da cruz se deu no meio da cidade de modo publico, ao passo que a ressurreição foi de modo discreto.

Capítulo 18: O escândalo se origina da fraqueza dos que se escandalizam.

Capítulo 19: o exemplo dos mártires na confissão da fé e nas suas paixões (martírios). Exemplo de João Batista e do sacrifício de Isaac, por Abraão.

Capítulo 20: Os lobos se disfarçam de ovelhas e de pastores. Que os fiéis. não se escandalizem. Exemplos de Paulo, Moisés e José que suportaram sofrimentos por causa do povo eleito e das comunidades.

Capítulo 21: “Querendo – Deus- preparar a alma a uma virtude adaptada a seus fins, Ele a angustia, joga no Cadinho, entrega à provação dos sofrimentos” (PD 21,3).

Capítulo 22: Os vigilantes que ainda não aderiram ao cristianismo tirem dos exemplos aludidos, mais vasto aprendizado, ao invés de se escandalizarem.

Capítulo 23: É o demônio que acende as lutas internas na Igreja.

Capítulo 24: Aos que perseguiram a Igreja e escandalizaram está reservado o castigo. Que os fieis permaneçam firmes a espera dos bens que lhes foram reservados.

CARTAS À OLÍMPIA

Santa Olímpia (368-410): diaconisa e membro da Ordem das viúvas da Igreja de Constantinopla.

Essas cartas são correspondências de São João Crisóstomo à diaconisa Olímpia, acerca do exílio sofrido por Crisóstomo.

Carta 1: “À medida que se intensificam as provações, aumentam os motivos de consolo e adquirimos mais esperanças sobre o futuro.... Somente uma coisa me preocupa: não ter certeza de que vós também gozais de boa saúde” (p.199).

Carta 2: “Libertai-vos dos receios acerca de nossa viajem ... fisicamente estamos melhor de saúde e forças” (p.199).

Carta 3: “Ao soprar forte ventania, se os pilotos desfraldam sem medida as velas, reviram o barco. Se governam moderadamente e na justa medida, navegam com segurança. Ciente disso, senhora caríssima a Deus, não vos entregueis a tirania da tristeza, mas dominai razoavelmente a tempestade” (pp.200-201)

Carta 4: “Ao escapar da doença que me atacou durante a viajem... tendo recuperado perfeita saúde, escrevo da própria Cesaréia” (p.201).

Carta 5: “aqueles que nos encontram no caminho, quer venham do Oriente, da Armênia ou de qualquer outro ponto da terra, derramam torrentes de lágrimas quando nos veem. Acrescentam lamentos e acompanham toda a nossa viajem com gemidos” (p.202).

Carta 6: “tendo chegado a Cucuso estamos completamente curados da doença e de suas consequências e com ótima saúde... receio, que nos mandem para regiões longínquas ou mais árdua. Além disso, mais me custa viajar do que mil exílios” (pp. 204-205).

Carta 7: “o que é que vos confunde a mente, entristece e perturba? Será porque a tempestade feroz e tenebrosa se desencadeou sobre as Igrejas e imergiu tudo em noite sem luar, aumentam cada dia amargos e dolorosos naufrágios e propaga-se a devastação universal?” (p.206).

Carta 8: “Vamos! Quero tirar de outra forma a poeira da vossa tristeza... O mais seguro é cuidar de si” (p.217).

Carta 9: “talvez aprouve a Deus obrigar-me a um percurso mais longo a fim de que as coroas sejam mais brilhantes” (p.241).

Carta 10: “Nossa meta é a seguinte: não apenas expelir a tristeza, mas também, encher-vos de grande e permanente alegria. Aliás, isso é possível se o quiserdes” (p.257).

Carta 11: “As tribulações aumentam para todos... Não importa agitar-se, nem perturbar-se, mas justamente por este motivo, convém alegrar-se, saltar, coroar-se e dançar em coro. Se não tivésseis antes infligido ao demônio feridas mortais, esta fera não se teria tornado furiosa a ponto de ir mais adiante” (p.278).

Carta 12: “Sempre fez-se mister admirar os que procuram a virtude, especialmente quando, diante do abandono de grande número, mal se encontram alguns que por ela pelejam” (p.285)

Carta 13: “Vedes como antes de ser castigada, a malícia traz em sai a própria penalidade? Compreendei também como, ao se tratar de virtude, esta se transforma, antes dos prêmios, em sua própria recompensa” (p.292).

Carta 14: “Teia de aranha, sombra, fumaça, ou algo mais insignificante que tudo isso são todos os terríveis males ocorrentes, em comparação com os futuros prêmios que por isso vos hão de ser outorgados” (p.295).

Carta 15: “A labuta e o perigo são a sorte da virtude” (p.297).

Carta 16: “exultamos e nos regozijamos e consolamo-nos plenamente de nossa solidão diante de vossa coragem” (p.299).

Carta 17: “Nada, Olímpia, tão apropriado para despertar a estima como a paciência nos sofrimentos. É a rainha dos bens, a coroa das coroas, e como ultrapassa as outras virtudes, assim é principalmente junto dela que o aspecto das outras se tornam mais brilhantes” (p.302).

REFERÊNCIA:

JOÃO Crisóstomo, Santo. Da incompreensibilidade de Deus – Da providência de Deus – Cartas à Olímpia. São Paulo: Paulus, 2007.